“Na calamidade, na necessidade, nasce uma coisa muito importante dentro de cada um que é de ajudar o próximo”

Servidores públicos, voluntários, lideranças da comunidade relatam atuação para auxílio a pessoas e animais durante alagamentos em Passo Fundo

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Batalhão Ambiental da BM foi fundamental para atendimento às vítimas de alagamentos Fotos: Michel Sanderi/PMPF Batalhão Ambiental da BM foi fundamental para atendimento às vítimas de alagamentos Fotos: Michel Sanderi/PMPF
Batalhão Ambiental da BM foi fundamental para atendimento às vítimas de alagamentos Fotos: Michel Sanderi/PMPF
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O volume de chuva que atingiu Passo Fundo entre domingo e segunda-feira, acompanhado de fortes ventos e de granizo em algumas regiões, mudou a vida de dezenas de passo-fundenses. Na tentativa de salvar vidas e minimizar os estragos, profissionais treinados e capacitados para enfrentar situações adversas, e voluntários, que nunca tinham vivenciado algo daquela dimensão, se uniram numa corrente de solidariedade e fizeram a diferença.

Soldado do Batalhão Ambiental da Brigada Militar de Passo Fundo, Sidnei Gomes, com 49 anos de idade, e 23 atuando na Corporação, teve sua vida ligada a pelo menos 20 pessoas que ajudou a resgatar dos alagamentos na cidade.

Ao longo da carreira, ele atuou em diferentes situações de risco. “Eu e o colega Ribas, assim como os demais do Batalhão Ambiental, fomos chamados para ajudar no atendimento às ocorrências devido ao alagamento na cidade. Nós atuamos com a embarcação leve, porque tinha pessoas que não saiam das casas quando dava tempo de sair, teimaram em ficar, mas a água continuou subindo, então resgatamos umas 20 pessoas, tanto no município de Passo Fundo, quanto no interior, no rio Taquari-Mirim no Capingui”, diz.

Sobre a ajuda, o policial ambiental conta que algumas pessoas estavam em choque. No resgate de um idoso, no Bairro Entre Rios, lembra ter sido necessário um maior uso de técnicas de salvamento. “Tivemos de usar a boia, que é justamente para salvar vidas, precisamos acalmar ele e trazer, foi um risco iminente porque já estava quase com hipotermia, mas deu tudo certo, graças a Deus”, relata.

Abandonar a casa

De acordo com o policial militar, em situações de inundação, muitas vezes as pessoas ficam em risco pela dificuldade de abandonar seus pertences e seu lar. “Sou morador de Passo Fundo e nesta envergadura, nunca tinha visto algo assim. O pessoal, na verdade, não quer sair da casa deles, eles têm pouca coisa e o pouco que tem querem ficar, mas contra a natureza não tem quem possa, a água vem e vai levando tudo”, pontua.

Gomes conta que todo o efetivo atuou nos resgates e que a equipe trabalhou direto das 8h até a meia-noite no atendimento das ocorrências. Sobre ter salvado vidas pela atuação, o policial ambiental destaca que, independentemente da profissão, todos podem fazer a diferença.

 “O ser humano tem um dom quando ele toca na necessidade de vida, de ajudar o próximo, ele se sente muito bem, é gratificante isso, independentemente da profissão que você tenha, seja policial, seja pedreiro, construtor. Na calamidade, na necessidade nasce uma coisa muito importante dentro de cada um que é ajudar o próximo”, finalizou.

 

Batalhão Ambiental segue com atendimentos no Vale do Taquari e Caí

O Batalhão Ambiental da Brigada Militar de Passo Fundo abrange 229 municípios e, além de atuar no resgate às vítimas em Passo Fundo, está ajudando no auxílio às vítimas no Vale do Taquari e Caí.

“Todo o foco está no Vale do Taquari e Caí, com enchente histórica, desde segunda feira atuamos em Santa Tereza, resgatamos mais de 200 pessoas e mais de 40 animais domésticos que estavam totalmente ilhados”, afirma o comandante do Batalhão Ambiental, Marcelo Scapin Rovani.

Sobre o alagamento em Passo Fundo, o comandante explicou como funciona a atuação do Batalhão. “Uma coisa inédita a água na altura do peito, do pescoço das pessoas. Eu, com 50 anos de Passo Fundo, nunca tinha visto. Com a saída dos Bombeiros da Brigada Militar, eles se tornaram uma coirmã, ficou pendente a questão da Defesa Civil que era desenvolvida sempre pelos Bombeiros, então, partir da saída deles, o Comando Geral entendeu que pela nossa expertise, salvamento de animais, o Comando Ambiental seria o ponto focal na parte de Defesa Civil dentro da Brigada Militar. Trabalhamos há muito tempo com barco, temos pessoal habilitado pela Marinha, nossa prática diária é dentro da água com embarcação, trabalhando também com drones, combatendo a pesca ilegal, contrabando na área de fronteira, entre outras ações”, disse.

Apoio de Carazinho

Uma equipe do Batalhão Ambiental lotado em Carazinho também deu suporte na atuação para o Comando em Passo Fundo para que técnicos da Corsan chegassem à casa de máquinas, pois o acesso por terra ao local ficou inviabilizado. “Acessamos pelos fundos da Embrapa para poder chegar na casa das máquinas onde tem as bombas de controle de água que abastecem o município”, explicou o comandante.


Em alguns pontos moradores foram retirados de barco devido o volume de água nos locais

Na luta pelo salvamento dos animais

Vídeos e fotos que circulam pela internet mostram que muitos voluntários e servidores atuaram também no salvamento dos animais domésticos ameaçados pela enxurrada. No Bairro Entre Rios, uma protetora tinha mais de 70 animais em situação de risco. A odontopediatra Tábata Mariana Dalla Lana foi uma das voluntárias que estava no local.

“Minha mãe tem um grupo de protetores independentes que é o Pelo Amigo - Protetores Independentes de Cães e Gatos, ela é conhecida pelo resgate aos animais e tem um número grande de animais em lar temporário. Sempre tivemos receio pelo rio ser próximo, mas nunca aconteceu nada e a gente tinha a expectativa que não fosse entrar em casa”, conta.

Tábata relata que o marido chegou a comprar sacos de areia para tentar conter um pouco da água que ameaçava entrar na residência dos pais. “O pai e a mãe estavam se revezando para cuidar dos animais, a mãe em casa e o pai em outro ponto próximo de casa, onde tem outros animais resgatados. Quando a água já estava nos joelhos, tinha uma correnteza, cada pessoa pegava um cachorro, colocamos em uma casa os menores e doentes como cegos e surdos. Uma outra protetora ajudou, aí colocamos em uma casa que estava em reforma os maiores. Muitos parentes e amigos iam ajudando, à medida que estava dentro da casa tentando salvar um pouco as rações, os maiores conseguimos uma caixa de água para colocar eles dentro para retirada em segurança. Foi desesperador, eles estavam assustados com a água e o movimento de gente, mas conseguimos salvar todos”, disse.

Tábata relata que mesmo conseguindo salvar todos os animais, muita ração foi perdida. “Os prejuízos são inúmeros, em função da água elas incham as portas que não fecham mais, pois muitos animais são separados e agora é começar todo o trabalho de novo e se reerguer”, disse.

 Ajude a Pelo Amigo

São mais de 70 animais que consomem mais de 30kg de ração por dia, além de gastos com medicações e clínicas veterinárias. Em sua página no Facebook, a Pelo Amigo destaca que os prejuízos são grandes devido a perca principalmente da ração que haviam acabado de comprar e estocar. A ong está recebendo doações de ração para cães, materiais de limpeza, cobertores e qualquer ajuda para quitar os boletos e adquirir ração novamente.

Chave pix: 749.329.770-34 (CPF) Iana Francisca da Silva

Vakinha: https://www.vakinha.com.br/4002445

 

 Bixo solto se defende

O secretário de Meio Ambiente, Rafael Colussi, conta que equipes da secretaria atuaram em vários bairros da cidade como Victor Issler, Zachia, Cruzeiro, Bom Jesus e Entre Rios auxiliando e orientando os moradores. “Estávamos com o ônibus de castração na Zachia e quando começou a chuva o pessoal parou as atividades e foram para beira das casas perto dos alagados dos rios e córregos pedir para as pessoas soltarem os animais porque a previsão era que daria 270 milímetros naquele dia, ficamos assustados porque não teria como agir em toda a cidade, mas isso foi feito em vários bairros da cidade”, comenta.

Colussi destaca que a medida foi importante para que os animais tivessem uma chance de sobreviver diante de uma enxurrada como aquela e que pelo menos três animais foram a óbito. “Na Entre Rios foi diferente porque nós tínhamos uma protetora e também outros tutores que tinham seus animais amarrados. Salvamos 47 cachorros e 25 gatos, fora os outros que soltamos, foram mais de 150 animais, paramos às 19h da noite de fazer essas intervenções, toda a equipe que foi para rua, o objetivo era de dar uma chance de eles sobreviverem”, disse.

Doações de outros estados

Colussi conta que algumas empresas de São Paulo de ração e medicamentos estão entrando em contato para enviar doações para os animais e que a Secretaria estará iniciando uma campanha para arrecadação de ração, medicamentos, e casinhas para os animais. “No nosso modo de ver e como vereador da causa animal, cuidar dos animais, também é cuidar das pessoas, porque atrás de um animal sempre tem uma pessoa, uma família, um morador de rua que tem o seu companheiro, respeitar o meio ambiente, as pessoas e os animais é um dever nosso como cidadãos. A gente sabe que os animais também sentem frio, medo, dor e a gente tem a obrigação de cuidar da cidade, das pessoas e dos animais”, finalizou.


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