A tarefa habitual de ler e escrever pode ser um desafio e tanto para quem nunca frequentou a escola. No Brasil, quase 10 milhões de pessoas com 15 anos ou mais não são alfabetizadas. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE), que apontou que a taxa de analfabetismo no país foi de 5,6%, em 2022. Essa realidade é vivenciada por Claudete Oliveira, de 57 anos e Rosmari Alves, 53. As duas mulheres trabalham na Cooperativa Amigos do Meio Ambiente (Coama) e há alguns meses passaram a ser atendidas pelo projeto de extensão UniverCidade Educadora: Fazendo a Lição de Casa, da Universidade de Passo Fundo (UPF).
Uma vez por semana, durante o intervalo do trabalho, elas se dedicam aos estudos e ao sonho de aprender a ler e escrever. Desde que começaram a frequentar as aulas, já somam algumas conquistas como conhecer as letras e escrever o próprio nome. “Nunca fui à escola, a primeira vez que estou frequentando as aulas é aqui. Meu primeiro nome já estou conseguindo escrever, agora quero escrever meu sobrenome e ir além”, comenta Rosmari, que participa das aulas ao lado da colega Claudete. “O que mais quero é escrever meu nome completo, mas é muito comprido. Meu sonho é aprender a ler para ler a Bíblia. Devagar creio que vou aprender”, destaca Claudete, que no início não estava muito afim de participar das aulas. “Pensei para que aprender a ler depois de velha? Mas vi as outras estudantes e disse vou tentar também. Minha vida vai mudar no momento que eu aprender a ler e escrever meu nome completo”, afirma.
Oportunidade de ensinar e aprender
As aulas são ministradas pela acadêmica de Pedagogia da UPF, Heloísa Pedroso. Ao todo, são duas turmas com a participação de duas cooperadas em cada turma. “Tem sido um trabalho muito especial e importante tanto para mim quanto para elas, porque é uma oportunidade de elas serem inseridas no mundo da leitura e da escrita e para mim traz uma experiência totalmente diferente, que é mais difícil de encontrar em uma escola regular”, destaca a estudante, pontuando que a atividade ajuda a colocar em prática os aprendizados da graduação. “Participar desse projeto auxilia muito na curricularização da extensão e do ensino porque muitos dos conteúdos que eu tive nas disciplinas de Alfabetização e Letramento e de Língua Portuguesa eu posso colocar em prática com elas durante as atividades. É uma troca bem significativa que tem entre a Universidade e a comunidade e entre eu e as senhoras que participam”, afirma Heloísa, que está no 6º nível do curso.
Iniciativa faz parte de um grande projeto da UPF
A iniciativa da UPF integra o projeto de extensão UniverCidadeEducadora: Fazendo a Lição de Casa, que conta com quatro frentes principais e busca promover a educação socioambiental e a saúde por meio da integração das diferentes áreas do conhecimento, unificando ações de ensino, pesquisa e extensão.
“Esse projeto tem envolvimento da comunidade acadêmica, por meio de diversos cursos, e da comunidade externa, em especial com as cooperativas de materiais recicláveis, por meio da alfabetização de adultos e crianças, do atendimento odontológico, do cuidado com os resíduos e apoio às cidades educadoras da região norte do estado, visando a sustentabilidade, a autonomia e a inclusão das pessoas como agentes essenciais para a transformação da realidade regional”, comenta a diretora de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários da UPF, professora Dra. Adriana Bragagnolo, ao pontuar. “Essa ação de alfabetização com as cooperadas tem foco na apropriação da leitura e escrita para que elas se sintam pertencentes à nossa sociedade e tenham mais possibilidades de lidar com nosso contexto letrado”, afirma.