A Romaria e Festa em Honra a São Miguel Arcanjo, considerada Patrimônio Cultural Imaterial de Passo Fundo, tem uma nova edição neste domingo (24). A 152ª Romaria de São Miguel inicia às 8h30min na frente da Capela São Vicente de Paulo, no Bairro Boqueirão, e segue por cerca de 5km até a Capela de São Miguel, localizada no Bairro Integração.
De acordo com o padre Claudir Presse, cerca de 70 voluntários devem atuar na romaria entre integrantes do Conselho Paroquial e de Assuntos Econômicos, assim como integrantes de serviços e movimentos pastorais. “Demanda um tempo longo de preparação, estamos há mais de quatro meses organizando e planejando. São momentos de fé e de profunda devoção que”, disse.
“Com São Miguel, chamados a defender a vida”
O lema da 152ª edição da romaria de São Miguel é “Com são Miguel, chamados a defender a vida”, contendo diversas referências ao santo projetor. “Na palavra ‘chamados’ destacamos o convite por causa do III Ano Vocacional no Brasil; defender que é uma marca, uma virtude de São Miguel, o arcanjo defensor contra os males; e a vida, ligada a Campanha da Fraternidade que é a questão de defesa da vida, do combate à fome, inclusive nós estamos fazendo recolhimento de alimentos e roupas para as pessoas atingidas pelas enchentes”, explicou.
De acordo com o padre Presse, São Miguel é um santo protetor de todo o mal. “Nós temos os santos anjos, Miguel, Rafael e Gabriel. O Gabriel anunciou que Maria ia ser a mãe do salvador, o Rafael é o santo da cura e Miguel é o arcanjo defensor do mau, defende contra todo o mal, que ameaça a vida, de todo o maligno. Na teologia essa palavra ‘maligno’ significa tudo que causa o mal, seja nas pessoas, na sociedade, na vida”, explicou.
A história de Generoso e Isaías
A história de devoção a São Miguel em Passo Fundo começou após a guerra do Paraguai, entre os anos de 1864-1870. O Sr. Generoso e seu filho Isaías, escravizados que haviam participado da Guerra retornavam da batalha, quando encontraram perto de um rio uma imagem do Santo, talhada em madeira. “Sou da família Isaías, dos dois escravos que acharam a estátua. Eles participaram da guerra para ajudar o Brasil e também porque o Isaías precisava da carta de alforria e eles tinham a promessa que se voltassem da guerra vivos eles receberiam a carta de alforria. Mas o Generoso se feriu, então o Isaías teve que trazer o pai ferido para Passo Fundo, passando nas missões eles acharam a imagem de São Miguel em uma vala, trouxeram ela até localidade de Pinheiro Torto”, conta Odorico José Ribeiro, de 59 anos.
Os dois teriam feito a promessa que se chegassem vivos a Passo Fundo construíram uma capela para São Miguel. Inicialmente pai e filho pediram a autorização do proprietário da fazenda para construir uma capela, primeira feita de sapé, depois de madeira, até a estrutura que até hoje abriga a imagem de São Miguel.
A Capela tornou-se símbolo da libertação dos escravos e as romarias iniciaram a mais de 150 anos, reunindo pessoas que apoiavam o fim da escravidão. “Essa história não estava nos livros, mas na minha família isso foi passando de pai para filho e a gente segue essa devoção a São Miguel”, diz.
Grupo Alforria
Odorico relata que para que a história não acabasse, ele com sua mãe Djanira e sua avó já falecidas, além de seu irmão fundaram o Grupo Alforria.
“Criamos o grupo para não deixar a história morrer, para se difundir na região como a história verdadeira. Coordeno o grupo Alforria e nesse ano vamos nós vamos fazer a apresentação contando a história da igreja e os 152 anos da romaria, fomos contemplados pelo FunCultura e vamos fazer uma bela apresentação contando a chegada de Generoso e Isaías e sua devoção a São Miguel com encenação e dança”, conta.
Conforme Odorico, a estátua de São Miguel é muito mais antiga que a romaria. “Há uns 4 anos, foi antes da pandemia, a igreja sofreu vandalismo, alguns fanáticos religiosos quebraram a imagem, aí houve o trabalho de restauração pela UPF e se descobriu que temos uma imagem barroca, relíquia missionária, que ela é muito mais antiga que a romaria, tendo em torno de 400 a 500 anos de existência. Os profissionais da UPF foram retirando as camadas de tintas, porque os romeiros pintavam a imagem com as cores de São Miguel e por isso se descobriu, mas hoje ela está lá com a madeira original”, conta.
Depois do vandalismo a história de São Miguel e de Generoso e Isaías se difundiu. “Fundamos o Grupo Alforria para levar essa história para frente, com música, alegria e contando a história de São Miguel e após esse dano a estátua houve interesse dos professores da UPF sobre o assunto inclusive a professora Gisela escreveu um livro sobre a Romaria de São Miguel”, finalizou.
Programação
O tríduo preparatório para a Romaria de São Miguel é concluído nesta sexta-feira (22), às 19h, na capela de São Miguel.
No domingo (24) a partir das 8h inicia as bênçãos na Paróquia São Miguel; e às 8h30min os romeiros saem da Matriz São Vicente no Bairro Boqueirão com início da procissão até a Capela São Miguel no Bairro Integração.
Por volta das 10h, na chegada à Capela de São Miguel ocorre uma missa campal e após acontece a apresentação pelo Grupo Alforria pelo Projeto FunCultura com a apresentação da peça “A história e origem de São Miguel Arcanjo”.
Para o almoço os romeiros poderão adquirir ingressos para churrasco (gado R$ 100 -2KG e porco a pururuca R$ 50,00 -1,5KG ) e carreteiro (R$15,00). Além disso, pastéis, cucas (R$15,00) e doces, além de materiais religiosos estarão sendo comercializados. Não será permitida a entrada e a comercialização de bebida alcoólica no local.
À tarde a programação segue com a bênção aos participantes.
