A ressurreição da alma do Instituto Educacional

O IE está restaurado e modernizado para voltar ao topo do patamar no ensino do Rio Grande do Sul

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Vanguarda centenária: restauração e inovação – Fotos – LC Schneider-ONVanguarda centenária: restauração e inovação – Fotos – LC Schneider-ON
Vanguarda centenária: restauração e inovação – Fotos – LC Schneider-ON
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O lendário Instituto Educacional de Passo Fundo está salvo, graças à iniciativa do empresário Erasmo Carlos Battistella. A meta é restaurar a parte física e manter a instituição. Mas foi muito além disso. Conhecido e reconhecido há um século como patamar referencial no ensino, o IE andava mal das pernas e cambaleava para o desaparecimento. Num período recente, incêndios e outras adversidades deixaram uma nuvem preta sobre o icônico estabelecimento erguido pela Igreja Metodista. Com a fragilidade do cofre ao teto, a insegurança que afetava alunos, pais e professores, já ofuscava o brilho da centenária camiseta com as letras IE, vitoriosa nas quadras esportivas e pistas de atletismo. No perfil da Avenida Brasil restava o simbólico prédio Texas, já em ruínas. Em novembro de 2022 o educandário virou canteiro de obras para restauração e modernização. A proposta arquitetônica abusou da tecnologia para preservar e atualizar sem desrespeitar uma história centenária. Não foi uma reforma. Foi a ressurreição da alma educacional que pulsa nos corações de tantas gerações. O IE vive!

Tudo como foi um dia

Segurança e tecnologia: reconhecimento facial

Coube à Langaro Arquitetura, através dos arquitetos Ricardo e Fernando Langaro, a delicada tarefa de conceber sem exceder aos limites determinados pelo respeito histórico. Junto está a MJR Construtora, em operação que já colocou 17 arquitetos na prancheta e mais de 250 profissionais na execução da obra. Obviamente, as cores azul e branca predominam desde a entrada pelo acesso na Rua Paissandu. Mantém a fisionomia do IE, mas ganhou uma loja com camisas e souvenirs para deleite de ex-alunos. E para entrar na área escolar não pode rodar na cancela, onde a liberação é feita com reconhecimento facial. Alguns passos e ali está o velho Campanário (inaugurado em 1945) e seu conhecido sino. Tudo como foi um dia. O mesmo pátio, pelo menos por cima. “Não tinha nada aqui”, disse o arquiteto Ricardo Langaro ao apontar para baixo. “Agora, aqui (subterrâneos) passam redes elétrica, de esgoto, pluvial, hidráulica e cabeamento de informática”. É a obra que fica escondida e provoca a pergunta – quantos metros? “Não dá para saber”, respondeu Fernando com um sorriso.

Quadra com piso de Olimpíada

Ginásio: tradição e tecnologia em quadra - Foto-Fernando Langaro

Uns passos à direita e estamos no Ginásio do IE. Mantém a identidade, mas tudo é novo e a tecnologia corre em quadra de nariz empinado. “O piso foi feito pela Recoma, de São Paulo. É a mesma quadra utilizada nas olimpíadas do Rio e de Tóquio. Tem banheiros, três vestiários e cabines para imprensa com ar-condicionado e vidros acústicos”, mostrou Ricardo. Além do acesso ao espaço escolar, há, ainda, uma entrada para o público externo. A iluminação é toda em LED. Tradicional no esporte, o IE recebia em seu campo as lendárias equipes do Gaúcho nos anos 1960/70 para jogos-treinos. Seus alunos disputaram olimpíadas, enquanto no vôlei e basquete tremia a perna de adversários. Agora a área total é menor, mas tem quatro quadras esportivas, duas internas no ginásio e duas externas: uma polivalente e outra para futebol sete com grama natural e irrigação própria.

Não perdeu a identidade

Refeitório com a cara do IE

Saímos do ginásio e ao lado encontramos uma ampliação encaixada ao lado: o refeitório. Bonito, linhas arrojadas e, no melhor estilo iense, aconchegante. A cozinha industrial, toda em aço inox, é mais um brilho nesta história resplandecente. “Veio completa da Tramontina. Temos um depósito para higienização ao lado e saída independente para resíduos”, que, segundo o arquiteto, é mais uma norma politicamente correta. “Aquela caixa d’água metálica (42 mil litros) veio do Paraná e foi necessário um caminhão-guindaste para coloca-la ali. O playground tem o piso emborrachado para maior segurança das crianças”, mostrou. Num giro de 360º há muitas novidades e modernidades. Mesmo assim, não perdeu a identidade. Para onde os olhos correrem a gente tem a absoluta certeza de que está no Instituto Educacional.

Do Redondão ao sonho dos anjos

Arquitetos Fernando (de costas) e Ricardo com o diretor Marcos Wesley

Vanguarda é a expressão sinônimo do IE, cujos padrões educacionais sempre andaram à frente em muitas épocas. O prédio redondo, que ocupa o espaço entre a Brasil e a Coronel Miranda, é emblemático exemplo. O Redondão continuará redondo, mas foi repaginado e ganhou um banho de tecnologia. “Tem 12 salas de aula, salas de apoio e adaptações ao tempo, como a nova sala de ciências”. Projetores, ar-condicionado, fibra ótica, monitoramento com imagens estão em todos os prédios. Na outra esquina da Brasil, está a Educação Infantil. Como era meio-dia, entramos falando baixinho: toda refrigerada, com copa, sala brinquedos, troca-fraldas, cadeirinhas desse tamaninho e banheiros que foram tirados de contos de fada. Sshh... silêncio... Nessa sala é hora do soninho e os pimpolhos estão na maior soneca. Passos suaves e saímos sem bater a porta. Na entrada do Redondão encontramos o professor Marcos Wesley, o diretor do IE! Confirmou que em 2024 o prédio Texas terá o segundo grau. “Ensino médio”, corrigiu o didático professor.

A imponência centenária do prédio Texas

Texas é cartão postal de Passo Fundo

Inaugurado em 1922, o prédio Texas é fachada imponente do Instituto Educacional. De frente para a Avenida Brasil, é cartão postal de Passo Fundo. Com 101 anos, praticamente estava caindo de velho. “Foi tombado pelo Patrimônio Histórico em 2015, mas estava com a estrutura colapsando”. Certamente, a restauração que exigiu mais cuidado e superação de adversidades. Afinal, o Texas é um símbolo. Ou, simplificando, a cereja desse bolo que agora tem a leveza de um pão de ló.

Idoso e moderninho

Já na sua concepção, o Texas carregava o DNA da vanguarda iense. “Sinta que aqui não está quente, está agradável ainda sem ligar os sistemas de ar-condicionado. É o tipo da construção. As gateiras, entradas de ar na parte inferior (porão) mantém o ambiente com temperatura agradável”. A técnica, explicou Ricardo Langaro, lembra as adegas em porões das casas coloniais. Mas o Texas vai além. “A base é em pedras de basalto e as paredes maciças de tijolos à vista. A porta tem mais de 101 anos. Quando o pessoal lixou, encontrou chumbo que, de acordo com pesquisadores do Instituto Histórico, devem ser da Revolução de 1930, quando o IE abrigou algumas famílias. As pingadeiras, na base das janelas, são em pedra apicoada à mão. As colunas nos cantos, que pensamos que eram em basalto pintado, são em granito”.

Por cima e por baixo

Infelizmente, essa obra de arte estava despencando. O assoalho em madeira estava podre, a cobertura era outro risco. O desafio era garantir a sustentação para o novo telhado sem mexer na estrutura. Também era necessário trocar o piso sem alterar suas características. “Colocamos as estruturas sem que elas fiquem expostas. O piso ganhou base em concreto e cobertura em madeira na mesma bitola e no mesmo sentido em que estava o original”, conta com orgulho Langaro. Boa parte da madeira do Texas foi reaproveitada em marcos, portas e móveis.

Elevador e mais um andar

O Texas acabou aumentando. Não em tamanho, mas em área aproveitável. Antes eram dois pavimentos, agora são três. “Aproveitamos a inclinação do telhado existente, mantivemos a mesma telha francesa e fizemos o tratamento térmico. O espaço de cima será uma biblioteca, com vidro acústico e um espaço cultural, onde ficará o busto do Professor Schisler. Terá salas alternativas para oficinas, um elevador, uma sala com estrutura para a imprensa e tudo dentro do padrão original”, disse com muito orgulho Ricardo.

O valor imaterial da arquitetura

Ricardo Langaro

O passo-fundense Ricardo Langaro não esconde o orgulho em participar desta concepção. Assim como o espanhol Antoni Gaudí, vê neste trabalho a sua Sagrada Família de Barcelona. “Em 40 anos de atividade, este foi o trabalho mais gratificante. É um marco para Passo Fundo a recuperação desta instituição. É um valor imaterial para o estado do Rio Grande do Sul. Incomensurável! Importante a ECB Group, através do Erasmo Carlos Battistella, uma atitude louvável de um homem de negócios, um presente para a sociedade”.


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