Alterações no escapamento provocam poluição e são ilegais

A ocorrência de quatro mortes em Balneário Camboriú pode estar ligada à adulteração do sistema de descarga

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Marcelo Vargas: “conversão de gases tóxicos em gases não nocivos” - Fotos – LC Schneider-ONMarcelo Vargas: “conversão de gases tóxicos em gases não nocivos” - Fotos – LC Schneider-ON
Marcelo Vargas: “conversão de gases tóxicos em gases não nocivos” - Fotos – LC Schneider-ON
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Os jovens sempre foram apaixonados pelos automóveis. Uma fissura antiga que envolve potência, ronco dos motores, velocidade, algumas ilegalidades e até tragédias. Mexer nos veículos é um impulso quase sem controle para os mais novinhos. Isso em todos os tempos, dos pneus tala-larga ao envenenamento de motores. E, como o som da máquina é a expressão pública da adrenalina, a descarga de cano-reto passou pelo escapamento Kadron e, agora, a fixação é retirar o catalizador. É ilegal. E pode ser fatal, pois a adulteração do sistema de escape é apontada como responsável pela morte de quatro jovens a bordo de um BMW, no primeiro dia do ano.

Concessionária

“Os engenheiros estudaram anos e anos para fazer um carro, não há motivo algum para fazer alterações”. Assim, Rodrigo Silveira, consultor técnico da IESA Porto Alegre avalia as mudanças no escapamento de veículos da marca alemã BMW. A empresa tem 15 lojas no Rio Grande do Sul, e, dentre as quatro da marca BMW, está a revenda de Passo Fundo. “O veículo possui sondas para leitura dos dados antes e pós catalizador, para medir a emissão de poluentes, em o catalisador gera uma mistura (combustível + ar) errada. Isso traz malefícios para o veículo pela restrição de dados e produz fluxo maior de gases”. Rodrigo foi enfático ao explicar que “não fazemos nenhum tipo de alteração fora dos padrões da fábrica”. E as adulterações podem acabar com a garantia. “Se por ventura tiver problema devido à alteração, perde a garantia”, alertou o consultor da IESA.

Ilegal e poluente

O dispositivo catalizador é obrigatório no Brasil, desde 1997, inclusive para motocicletas, e sua retirada resulta em penalizações como multa e recolhimento do veículo. O renomado advogado Dárcio Vieira Marques diz que “vale recordar que nenhum proprietário de veículo automotor pode alterar as características dos veículos e suas especificações básicas, sem autorização prévia da autoridade competente, especialmente no que diz respeito aos limites e exigências de emissão de poluentes e ruídos, previstos pelos Órgãos Ambientais competentes, ficando sujeitos às penas da lei. Aliás, nesse particular, convém lembrar o art. 98 e seus parágrafos, do Código de Trânsito Brasileiro”, concluiu Dr. Dárcio.

 Um giro na oficina para conhecer o catalisador e o downpipe

Na Ssoraf Car, reparos automotivos multimarcas, conversamos com Marcelo de Araújo Vargas, que traz na genética a paixão pelo automobilismo. Ele dividiu o cockpit de Fuscas e protótipos com seu pai, recentemente falecido, o cardiologista Hugo Vargas Filho. “Corremos inclusive as 12 Horas de Tarumã e as Mil Milhas Brasileiras”, conta em meio aos troféus que decoram a sala. O papo começa pela escolha dos jovens, que hoje preferem os sedans médios, que eram os carros Tiozão. “Acredito que é pela potência dos sedans médios de hoje”, disse em referência aos BMW Série 3, Mercedes Série C ou Audi Série A4. Para dar um clima mais esportivo, os jovens motoras querem ronco e para isso alteram o sistema de escapamento. “Não fazemos esse serviço, mas tem grande procura”, disse Marcelinho.

O escapamento e a gambiarra

Após a queima interna no motor, o sistema de escapamento começa pelo coletor. “É onde está o catalisador, um conjunto fechado que contém uma cerâmica com furos, tipo um favo. O fluxo passa por esse material que converte os gases tóxicos que saíram do motor em gases não nocivos. Depois seguem para os silenciadores e finalmente para o cano de descarga”. Marcelo mostrou sistemas simples, com um catalisador e dois silenciadores. “Mas carros com motores V6 ou V8 têm dois catalizadores, quatro silenciadores e duas saídas”. E a gambiarra? “Simplesmente quebram a cerâmica ou trocam o catalizador por uma imitação (oca), colocando um downpipe junto ao coletor”.

Carro com motor V8: um catalizador de cada lado

Balneário Camboriú

Sem laudos periciais conclusivos, ainda não é possível determinar o que ocorreu no caso de Balneário Camboriú. Quatro jovens morreram após permanecer algumas horas em um BMW Série 3 com motor e ar-condicionado ligados. O escapamento do veículo estava adulterado. “Se o downpipe está trincado, fora dos padrões ou mal instalado, pode gerar vazamento. É o gás mais tóxico, pois está no início do sistema de descarga. Esse gás fica no cofre do motor (área abaixo do capô) onde está a captação de ar para o ar-condicionado. Fica abaixo do para-brisa, tem vedação que protege da água e da poeira, mas não é 100% para gases. Então o gás é aspirado para o interior do veículo. Isso se a circulação estiver aberta, com entrada de ar de fora para dentro. Se estivesse fechada (apenas circulando o ar interno) não entraria o gás tóxico”, detalhou Marcelo.

Os valiosos e cobiçados metais do catalisador

“Um catalisador novo para carros menores custa em torno de R$ 1.500 a 2.000. Já para carros como BMW e Mercedes custa mais de R$ 10 mil”, informou Pedro Vinícius Lagni, sócio da Tranquilo Auto Peças. Disse que a empresa trabalha com equipamentos novos de descarga, completos e de acordo com especificações do INMETRO. O catalisador é composto por óxido de alumínio e metais preciosos como paládio, platina e ródio. Sim, o ródio é o metal mais caro do mundo! “A cerâmica usada do catalisador é vendida por uns R$ 500 o quilo, um material muito cobiçado pelo valor”.

O empresário também informou que para customizar, além de mexer no escapamento, é necessário alterar a programação eletrônica do veículo. “Nas caminhonetes diesel, eles desligam a válvula EGR que controla a emissão de gases poluentes”, concluiu.


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