Um levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 55% da população brasileira se identifica como “preto” ou “pardo”. Os dados coletados no último censo, realizado em 2022, mostram que 45,3% da população brasileira se declara parda, e superaram a quantidade de brancos pela primeira vez desde 1872, quando foi realizado o primeiro recenseamento do país. Além disso, a proporção de pretos mais que dobrou entre 1991 e 2022, alcançando 10,2% da população.
Em Passo Fundo a pesquisa mostra que, comparando os dados do censo de 2010 com o de 2022, também houve um aumento de pessoas que se declaram pretas ou pardas. Essas pessoas somam 21,6% da população da cidade. Em 2010 elas representavam pouco mais de 16,3%.
Segundo o coordenador regional do IBGE em Passo Fundo, Jorge Benhur Bilhar Bilhar, o aumento desta parcela da população é muito significativa. Ele esclarece que, durante o censo, o agente do IBGE pergunta se a pessoa “considera a sua Cor e Raça, como sendo: Branca, Preta, Amarela, Parda e Indígena?”. Assim, o agente, não pode induzir ou definir as etnias raciais. Desta forma, os dados mostram como cada pessoa se vê.
Afirmação
O ativista do movimento negro em Passo Fundo, Ipácio Carolino, diz que os dados do IBGE mostram uma percepção muito positiva. Para ele, diversos fatores podem ter contribuído para esse aumento na participação dos negros e pardos nos dados da população local. Um deles está ligado a taxa de natalidade; outro é relacionado aos imigrantes, já que muitos africanos vieram morar em Passo Fundo, e esses novos moradores acabaram impactando nos números. Mas, aliado a isso, há um trabalho de resgate da autoestima do povo preto e do povo pardo. “Se faz um trabalho contínuo, fazendo com que desperte a consciência de se reconhecer como tal. Não apenas o outro precisa reconhecer, mas o próprio indivíduo precisa ser reconhecido”, explica ele.
Para Ipácio, esses dados são importantes para que os governos, em todas as instâncias, possam desenvolver políticas públicas voltadas a essa população, por exemplo na saúde, ou do acesso ao mercado de trabalho. Para ele, os números do censo podem apontar onde estão as falhas e as desigualdades.
Entre os diversos fatores apontados por Ipácio, um foi especialmente destacado, que é o da educação. “Os pretos e pardos, em função do preconceito, discriminação e racismo, negavam-se. Mas com educação as pessoas mudaram a sua percepção de mundo”, afirma. Entretanto, para ele, esses números podem não ser fiéis a realidade do dia a dia. “Eu penso que há um índice ainda maior, e com o tempo, vamos trabalhando essas questões na sociedade, e as pessoas vão se assumindo, a sociedade vai entender que é preciso respeitar as diferenças. Ser preto, pardo ou branco, faz parte de uma construção da sociedade”, diz ele.
FOTO ARQUIVO PESSOAL
uriosidades
- Os dados do Censo 2022 mostram que houve um aumento muito grande das pessoas que se declararam Indígenas. No caso desta população, em 2010 eram 190, já em 2022 são 331. Apesar desse aumento em números absolutos, proporcionalmente essas pessoas representam uma parcela muito pequena da população local, sendo inferior a 1%.
- Outro dado relevante mostrado, foi que reduziu o número de pessoas que se consideram amarelos. Em 2010 eram 563, em 2022 o número caiu para 117.
- No comparativo dos dados de Passo Fundo, com os números gerais do Rio Grande do Sul, a cidade e o estado tem percentuais muito próximos de população que se declara preto ou pardo, superior a 21%.