Na madrugada de quarta-feira, 18 de janeiro, morreu Ivo Tasca, aos 97 anos. Ele estava hospitalizado em Passo Fundo há alguns dias, após um quadro de insuficiências provocadas pela idade avançada. Seu corpo foi cremado à tarde. A morte de Ivo provocou manifestações de grande admiração da comunidade passo-fundense. Em quase 98 anos, deixou marcas em vários segmentos empresariais, no esporte e na Justiça onde atuou como juiz leigo no Juizado de Pequenas Causas. Tasca conquistou amizades de várias gerações. Respeitoso para com todos, também conquistou o respeito e a admiração da comunidade de Passo Fundo. Nos negócios, no Fórum, no futebol com amigos, no automobilismo ou na Mesa Um do Oásis, simbolizou a sobriedade da amizade e o respeito recíproco, agora resumido em saudades.
Família
Ivo Risieri Tasca nasceu em Ernestina, então Distrito de Passo Fundo, em 03 de maio de 1926. Foi casado com Helda Reolon Tasca, já falecida. Teve os filhos Roberto, médico cirurgião-plástico que morreu precocemente em 1984, Rogério (Tucha), médico cardiologista que atua no Rio de Janeiro, e Silvana, publicitária. Deixa os netos Roberta, Bruno, Manuela, Renata e Bianca, além dos bisnetos Luca, Joaquim e Felipa. Após um longo período no enfrentamento de uma doença, após 62 anos de casados, Ivo sofreu um forte baque com a perda da esposa, Dona Helda. Em 2016, comemorou os 90 anos em uma festa no Rio de Janeiro, onde os convidados usaram um característico chapéu branco. Ficou conhecida como a ‘Festa do Chapéu’, prestigiada por confrades de Passo Fundo. Nos últimos meses, o assunto com os amigos era a festa dos 100 anos, que ocorreria em 2026.
Do ônibus ao Fórum
Sobre a trajetória do pai, Rogério lembra que ele começou na Empresa Tasca, “que tinha os ônibus da linha Passo Fundo, Lagoa Vermelha e Vacaria. Era do pai dele, mas, lá por 1943, ele e o irmão assumiram os ônibus. Naquela época, eram os proprietários e motoristas”. Esteve nas transportadoras Mayer e Sulina, à época em que participou da formação da Unesul, grande empresa de ônibus do Sul do país. Ivo passou pela Fecotrigo, onde atuou na base Passo Fundo e na sede em Porto Alegre. “Teve granjas (lavouras) aqui em Passo Fundo e em Cachoeira. Depois vendeu as lavouras e foi atuar no Juizado”, informou a filha Silvana. Em 1964 Ivo concluiu a Faculdade de Direito na UPF, mas pouco trabalhou como advogado. Logo foi nomeado juiz leigo e, por décadas, atuou no Juizado de Pequenas Causas na Comarca de Passo Fundo. “Parou somente com a aposentadoria compulsória. Ele gostava muito e não queria parar”, contam com orgulho Rogério e Silvana.
Futebol e automobilismo
“O pai era fanático por automobilismo, gremista e Gaúcho, além de católico fervoroso. Mas jogou pelo Independente. No segundo grau foi para o Conceição por causa do futebol”, recordam os filhos. Ivo era ponta direita, de acordo com o amigo Ênio ‘Xó’ Gava. Tucha conta que o pai “correu de Fusca nos circuitos de rua de Passo Fundo. Essa paixão pelo automobilismo ele transferiu para os filhos”. Roberto, o mais velho, dedicou-se ao kart e brilhou nos circuitos de rua ou da então novíssima pista da Roselândia. Já Silvana pisou fundo no Rallye, uma das pioneiras na modalidade, disputando provas nas décadas de 1970/80. Ivo Tasca também atuou como dirigente no esporte motor, pois presidiu o Kart Clube Passo Fundo.
Amigos
Seu colega de turma no Direito da UPF, o professor Luiz Juarez Nogueira de Azevedo diz que “Ivo Tasca foi das melhores pessoas que conheci e vai fazer muita falta para nós, seus amigos e sua família. Foi juiz leigo do juizado especial cível de Passo Fundo, exercendo sua função com extrema proficiência. Por sua simpatia, carisma e humanidade, desfrutava de elevada estima entre seus colegas, amigos e na comunidade. Ele foi para o mundo dos bons e dos justos, que será o abrigo da sua alma generosa”. Aldo Battisti, convocador da Academia da Mesa Um, conta que conheceu Ivo na época da cooperativa. “Nos últimos tempos ele diminui a presença no Oásis. Então invertemos o caminho para desfrutar de um café, um verdadeiro chá da tarde, em sua residência”, lembra. Múcio de Castro Filho, diretor de O Nacional, resume Ivo como “um excelente cidadão, para a família e a sociedade. Integro. Era especial, um homem raro”.
Repercussão
O deputado federal Luciano Azevedo também se manifestou sobre a perda. “Ivo Tasca deixa o seu legado, por meio da sua contribuição e dedicação a nossa cidade. Lamento a perda e externo os meus sentimentos a toda família”. O presidente da Câmara de Passo Fundo, Saul Spinelli, disse que “figuras Como o Seu Ivo são pessoas que impulsionam o desenvolvimento da cidade e fazem com que Passo Fundo seja destaque. São pessoas que estão além do seu tempo. Num momento em que faltam referências, onde, infelizmente, os ídolos dos jovens nem sempre são aquelas pessoas que fortalecem a nossa juventude, homens como ele são referências. A história do Seu Ivo permanece viva, servindo de exemplo para todos nós.”
A turma do futebol
Após a morte do filho Roberto, os seus amigos “encamparam” o Ivo que passou a participar da turma. “Pegamos ele como nosso amigão”, conta Humberto Tadeu Lamaison, o popular Vaca. “Ele ficou no lugar do Beto e jogava futebol com a gente. Ele, o Bibi (Carlos Oberdan Vieira), o Dipp (Airton), Cláudio Zanatta e outros. Carismático, gente boa demais. Esperávamos pela festa dos 100 anos. Chegou perto”, disse com muito carinho. Já o ex-prefeito Airton Dipp, que era da sua turma de futebol, enaltece que “Ivo foi acima de tudo um amigo de várias gerações e uma reserva moral de Passo Fundo”. No salão ou no campo, Tasca bateu uma bolinha com várias gerações e deixou as quadras lá pelo final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Mas nunca abandonou a arquibancada para vibrar com o futebol.