De Passo Fundo até os Andes numa Variant 1975

Foram 5.197km dedicados à gastronomia típica para chegar a 4.170m de altitude

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Em Pumarca: Gringo, Barba e Edinho - Fotos – Álbum de ViagemEm Pumarca: Gringo, Barba e Edinho - Fotos – Álbum de Viagem
Em Pumarca: Gringo, Barba e Edinho - Fotos – Álbum de Viagem
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Uma brincadeira que rendeu conhecimentos, muitos sabores, amizades e alguns mililitros de adrenalina. Assim, podemos definir os 13 dias da viagem dos três amigos que foram de Passo Fundo à Cordilheira dos Andes, no norte da Argentina. Seria uma viagem normal, não fosse o veículo utilizado pelos aventureiros: uma VW Variant 1975. O modelo foi lançado em 1968, com motor 1.600cc de quatro cilindros, deitado e refrigerado a ar. Pois às vésperas de completar 49 anos, a bem-sucedida perua da Volkswagen mostrou que ainda está em forma, pois percorreu 5.197 km e subiu até 4.170 metros de altitude. Carinhosamente apelidada de “Ferrari”, chamou a atenção e foi a estrela da viagem. A máquina é de Edinho há dez anos. Era de seu pai, que a comprou para pescar. Mas o filho tanto buzinou que ele acabou levando.

O grupo

Se a Variant foi a protagonista principal, Edinho, Gringo e Barba foram os coadjuvantes da aventura. Ederson Godois, o Edinho, é cervejeiro na Farrapos, Alan Pozzebon, o Gringo, é sócio e cozinheiro do Batatas, enquanto Vinícius Scotta, o Barba, é mecânico de motos Harley Davidson. E como surgiu a ideia da viagem? “Há cinco meses, começamos de bobeira e depois o caso ficou sério. Ia mais gente, mas desistiram”, conta Gringo. A proposta da viagem era um tour gastronômico. O roteiro garantiu sabores variados e inusitados, sempre com foco na culinária característica de cada região. “Quando a gente parava, era um momento gourmet. Boa comida, vinhos e cervejas de cada local”, lembrou Barba com água na boca.

Pneu e cerveja

Passo Fundo, 26 de dezembro de 2023, marcou o início de muito chão pela frente. Um pulo até São Borja e se bandearam para Santo Tomé, respirando o ar de Corrientes para o primeiro pouso em solo argentino. Logo a Ferrari já estava em Presidencia Roque Sáenz Peña e em seguida Termas do Rio Hondo. Até Santiago Del Estero, como para subir nem todo santo ajuda, “dificultou um pouco”, conta Edinho. No terceiro dia estourou um pneu da Variant, o primeiro pequeno incidente com a valente veterana. “Foi numa reta de mais de 100km entre Quimilí e Suncho Corral”. Trocar pneu dá um trabalhinho, mas justifica matar a sede na próxima parada com uma cervejinha local. E foi valorizando as paradas que o passeio ficou mais bonito. E saboroso. “A ideia inicial era ir até San Pedro de Atacama (Chile), mas preferimos valorizar a comida regional”, conta Gringo.

Amigos na paisagem

Missão cumprida

Mirador Cuesta de Lipan, com 4.170 metros de altitude, foi o topo da aventura. A partir de Jujuy, a rota do retorno foi definida de acordo com as delícias que mereciam repetição. Pelo caminho uma aula de arqueologia, paisagem com lhamas e vicunhas. A história dos Quilmes que guerrearam com os Incas. “Depois os espanhóis desmancharam tudo, mas eles pelearam 130 anos defendendo o lugar”. Rúmbia em Salta, no Ano Novo. Em Purmarca caiu o queixo do Edinho com a paisagem que lembrou os filmes de Zorro. Amizades com argentinos que querem conhecer Passo Fundo. Uma chilena que está vindo a pé para o Brasil e passará por aqui.

Empanada

A jornada gastronômica teve o exótico churrasco de lhama, além dos chivitos. Da parrilla voltaram falando no chinchulín e riñones, que pretendem preparar aqui nos ares do Planalto Médio. Cervejas locais foram elogiadas e superaram as expectativas. São marcas quase desconhecidas e que não chegam por aqui. Vinhos? É claro, pois estiveram em Salta, onde produzem os melhores vinhos de altura da Argentina, ou em Cafayate. Fernet Branca com Coca-Cola é a bebida que levou distinção máxima. Mas, afinal, qual foi a melhor refeição? Os três foram unânimes para eleger um pastel de beira de estrada. Sim, uma empanada recheada com mondongo. “Feita em forno de barro”, emendou Barba.

Baixo custo

Foi gasto o planejado e o preço do combustível ajudou. Lá o litro custava R$ 3,50 em média. Para dormir optavam entre hostel e resort, com preços que variavam de R$ 15 a 100. A comida estava barata. Pagavam apenas R$ 50 por uma farta parrilha. Fechando os 13 dias de aventura, chegaram em Passo Fundo dia 08 de janeiro. O êxito desta, abre perspectiva para a próxima com o dobro de chão pela frente até o Chile. “Agora a turma está motivada”, disse Edinho. Para Barba, “foi coragem e uma dose de loucura”. E Gringo emendou, “ou de fernet”.

A estrela brilhou e foi o centro das atenções

Dona Variant: carinhosamente a Ferrari

A Variant passava e encantava. “Lá não conhecem a Variant, pois o modelo não foi fabricado na Argentina. O pessoal parava, filmava e perguntava que carro é esse?”, conta Edinho. Aliás, apenas ele pilotou a Ferrari em todo percurso. “É ciumento, não deixa ninguém sentar ao volante da Variant”, disseram Gringo e Barba, em tom de reclamação. E a máquina foi destaque em todo percurso. Encantou um casal de alemães que viajava em motos. A mulher, em uma espécie de portuñol germânico, disse “esse carro é alemón, é Volkswagen”, e dá-lhe fotos. Tudo ia bem, mas, lá pelas tantas, um guarda da Gendarmería Nacional (a polícia argentina) saltou no meio da rodovia e mandou parar. Suspiros e, ufa. Ele sequer pediu a documentação do veículo ou dos ocupantes. Apenas queria saber sobre “el auto”. Um bom bate-papo, onde trocaram informações sobre a Variant por preciosas dicas gastronômicas. E segue a viagem.

Falta de ar, sustos e SPA

Na altitude, já acima de 3.000 metros, a Dona Variant deu sinais de cansaço com o ar rarefeito. Sintoma normal de problemas na mistura ar-combustível. “Deu falta de ar nela e também no Gringo”, brincou Barba. Mas, aos 49 aninhos, essa senhora superou as adversidades e cumpriu todo trajeto. Além de fazer a turma sujar as mãos para trocar um pneu, a Ferrari pregou dois sustos na galera, o primeiro na ida. “Ela falhava em rotação alta. Mas o vilão era apenas um plugue do módulo de ignição”. Na volta, no meio do deserto, a Ferrari pregou outra peça, contou Edinho. “Pegamos um buraco e deu uma pane geral, nada funcionava, mas logo resolvemos, pois foi mais um plugue desconectado”. E agora, depois da viagem? “Ela vai para um SPA. Fica uns dias lá para darem uns retoques na lataria. A mecânica está OK, não mexe em nada”, sentenciou o ciumento proprietário da máquina.

 

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