Já pensou em ficar sem água para beber, cozinhar, tomar banho, ainda mais durante o verão em que as temperaturas e a sensação térmica muitas vezes ultrapassam os 30º? É assim que algumas famílias que vivem em ocupações em Passo Fundo, sobrevivem de forma precária com a falta de infraestrutura de água, luz e saneamento básico. Por se tratar de espaços ocupados, há questões técnicas jurídicas que criam percalços ainda maiores, porém, enquanto Poder Público, Ministério Público e Corsan discutem uma solução para o caso, mais de 100 famílias que vivem na Ocupação Valinhos II convivem com a falta de água.
Na manhã de ontem (6) moradores da Ocupação Valinhos II, cansados de esperar por uma solução, trancaram a Avenida Rio Grande buscando chamar a atenção das lideranças e do poder público para a problemática. “Existimos há mais de 10 anos nesse território que não tem infraestrutura nenhuma nem de água, de luz, de saneamento básico e a água sempre foi um problema nessa ocupação. Em 24 de janeiro de 2023 nós já havíamos acionado a Secretaria de Habitação que é quem faz as negociações para podermos pensar a infraestrutura daqui porque nós já sofríamos, já não tínhamos água adequada. O secretário da época pediu para que a gente olhasse a nossa infraestrutura porque nós temos na comunidade um grupo que cuida se há vazamento para que se tenha água, fizemos isso e deu uma melhorada, mas não resolveu o problema”, conta a liderança da Ocupação, Edivânia Rodrigues da Silva.
O grupo explicou que mora no local há anos e até hoje não possui uma ligação formal de água, sendo obrigados a recorrer às ligações irregulares. “De uns cinco meses para cá a situação se agravou, nós não temos água, têm famílias que ficam três dias sem água. Estamos falando de água, independentemente de onde você está é um direito constitucional ter água garantida, queremos que o município e a Corsan apresentem uma proposta, nós não estamos pedindo água de graça, queremos pagar, cada um ter o seu registro de água para podermos viver melhor na comunidade”, pontuou.
Dificuldades
A doméstica, Luana Bonissoni, conta a dificuldade de viver sem água. “Tenho uma filha de 10 anos, moro desde o começo da ocupação moro aqui. É difícil para cozinhar, tomar banho, para tudo é difícil”, disse.
Outra moradora, Zenilde Pohing, também lamenta pela situação. “Chego em casa do trabalho e não tem água para fazer comida, lavar as roupas e olha com esses calorões que está dando e nós sem água. Até então era água fraquinha, agora nem tem vindo. A gente quer pagar água, pedimos que venham ajudar nós”, afirmou.
Outra liderança da Ocupação Valinhos II, Sandra Hernandes, também destaca as dificuldades enfrentadas pela população. “Sou uma das moradoras mais antigas que tem aqui, vai fazer 11 anos e sempre tivemos problema, mas era algo que a gente se adaptava, mas nos últimos tempos vem diminuindo, diminuindo e de uma semana para cá ela parou. Sem água para banho e para nada. Somos em cinco mulheres que coordenam a ocupação, ontem o povo vinha lá em casa o dia inteiro, pedindo ajuda, o que nos preocupa é com os acamados, idosos, crianças, tem gente que é doente, faz hemodiálise e não estamos pedindo nada mais que nosso direito, é desumano ficar sem água. A gente fica uma semana sem comer, mas sem água não, a única coisa que a gente está pedindo é água”, disse.
Conforme as lideranças da Ocupação Valinhos II, foram protocoladas solicitações para o Ministério Público com um abaixo-assinado, no gabinete do Prefeito, na presidência da Câmara de vereadores e na Defensoria Pública.
Prefeitura Municipal
A Prefeitura de Passo Fundo explicou que a área da Ocupação Valinhos II possui destinação industrial e que está ocupada por várias famílias já há muitos anos. “A Prefeitura está tomando as providências legais necessárias para uma possível alteração do Plano Diretor e regularização da ocupação existente na área. Quanto à questão da área, a prefeitura e a Corsan estão em avançadas tratativas e, nos próximos dias, a prefeitura deverá autorizar a Corsan a instalar a rede de água no local, a exemplo do que já ocorreu com a ocupação quatro do Bairro José Alexandre Zachia”.
Nota da Corsan
A Corsan esclareceu em nota que que não atende a área, que o local está em processo de regularização fundiária e é atualmente abastecido por métodos alternativos. “Para que a Companhia possa ter autorização para instalar redes de água é necessário antes a conclusão da regularização, como foi realizado recentemente na Ocupação 4 do bairro Valinhos.
Para mais informações, estão à disposição da comunidade os canais de relacionamento com o cliente: app Corsan, site www.corsan.com.br (na Unidade de Atendimento Virtual), ligações gratuitas pelo 0800.646.6444 e WhatsApp (51) 99704-6644.