Os transtornos causados pela falta de luz em temporais e enxurradas, poluição visual e até mesmo acidentes, o mais grave registrado no ano passado quando Romildo Oliveira, de 54 anos, morreu após perder o controle da motocicleta que se enroscou em fios soltos. Passo Fundo enfrenta há muitos anos o problema, principalmente com a evolução dos serviços de telefonia, internet e tv a cabo. A Prefeitura de Passo Fundo criou o programa Poste Limpo, que retira fios soltos dos postes de energia, contudo mesmo que o excedente seja retirado, é preciso discutir e pensar na modernização do sistema de energia elétrica.
A fiação subterrânea pode abranger a rede elétrica, cabos de telefonia e tv, contudo, enfrenta muitos entraves para ser instalada no país. Em entrevista ao Jornal ON, a consultora de negócios da RGE na região Planalto, Eliana Bortolon, explicou que os custos envolvendo a construção de rede subterrânea, em comparação com uma rede aérea, giram em torno de 10 vezes. “Ressalta-se que 60 a 70% do valor da obra recaia sobre a parte civil de sua implantação, visto a necessidade de escavações, construção de caixas de passagem, câmaras para transformadores e dutos”, disse.
Mais que estética é cuidado
A instalação da rede subterrânea proporciona mais que uma paisagem limpa, em um mundo onde a imagem e a fotografia são tão importantes. De acordo com especialistas, a rede subterrânea tem menor ocorrência de falta de energia, tem uma vida útil mais longa e proporciona maior segurança para a população, uma vez que os fios não ficam expostos.
Por que é tão difícil a implantação no país?
No Brasil a rede subterrânea abrange apenas 1% da distribuição de energia elétrica no país. Os custos para implementação são apontados como um dos principais desafios.
Segundo Elaine, a expansão do processo da conversão de redes aéreas para subterrâneas depende de dois fatores, o primeiro, que é a existência de recursos financeiros das concessionárias e do poder público ou de empreendedores particulares. “O segundo que assim como o desenvolvimento de recursos e critérios técnicos que possibilitem a otimização e o compartilhamento das instalações entre os vários agentes de serviços públicos e privados como energia elétrica, telecomunicações (TV a cabo, telefonia, entre outros), iluminação pública, hoje também ocupantes da posteação existente nas cidades”, explicou.
Outro ponto destacado pela RGE é que em muitas cidades há locais de grande circulação de pessoas e serviços públicos. “Como fatores que dificultam a conversão de redes de distribuição aéreas em subterrâneas, relacionam-se os locais com grande ocupação de serviços públicos no subsolo e a falta de espaço livre acima do solo, como praças ou recuo de edificações que possam receber componentes das redes subterrâneas. Também locais alagadiços ou com predomínio de terreno com pedras, ou locais tombados pelo patrimônio histórico, ou ainda com grande arborização podem representar elevação dos custos de conversão e de duração das obras previstas. Além disso, teria todo o transtorno causado para a população em decorrência das obras civis necessárias para a implementação”, pontua.
Passo Fundo conta com mais de 400 km de rede de média tensão
Conforme a RGE, o município conta com mais de 400 km de rede primária, de média tensão na área urbana e em seus arredores com 23.547 postes. Sobre a estimativa de quanto custaria fazer a implantação em Passo Fundo, Eliana explicou que é preciso realizar projetos. “Não tem como estimar visto que situações de rede subterrâneas são exceções nos projetos elaborados pela distribuidora, logo seria necessário a elaboração de projeto específico para possibilitar orçamento”, disse.
Audiência na Câmara de Vereadores
Uma audiência realizada nesta semana (20) na Câmara de Vereadores de Passo Fundo, discutiu a viabilidade da implantação na cidade, contando com a presença de lideranças e representantes de diversas entidades. “Antes de apresentar uma lei, vamos fechar com as entidades, com a população e também com o Executivo Municipal. Para que juntos, a gente consiga construir uma lei, colocar em votação, aprovar e ter a certeza que ela vai ser aplicada, porque foi discutida com todas as partes”, explicou Spinelli. Segundo ele, é preciso esclarecer aspectos referentes aos custos, quem será responsável, quais são as intervenções necessárias, onde é necessário, onde é possível, como ficam as raízes das árvores, entre outros questionamentos”, disse o presidente do Legislativo, Saul Spinelli (PSB).
Marau
Durante a audiência os secretários municipais de Marau de Planejamento, Silvio Confortin, e de Cidade, Segurança e Trânsito, Vilmo Zanchin apresentaram os avanços para a implantação das fiações subterrâneas em um projeto que iniciou em 2012 com as instalações em três quadras da Avenida Júlio Borella. “Ao longo dos últimos anos, as intervenções ganharam continuidade em 2018, em 2020 e em 2023, com o avanço por mais duas quadras em cada ocasião. As duas últimas quadras custaram mais de R$ 2,5 milhões, incluindo iluminação, telefonia, calçamento, valas, reaterro e parte elétrica”, explicaram.
Conforme o relato da comitiva marauense, apesar da resistência de alguns segmentos, o resultado foi satisfatório e trouxe melhorias quanto à estética, segurança e manutenção das estruturas. “O transtorno é provisório, o benefício é permanente”, comentou Zanchin.
A audiência pública definiu que o assunto será tratado no âmbito da Comissão de Planejamento e Desenvolvimento Urbano e de Interior (CPDUI) da Câmara de Vereadores de Passo Fundo. Conforme Saul Spinelli, a comissão ficará encarregada de organizar as próximas discussões junto aos representantes dos órgãos que se relacionam com o tema.