É difícil ficar avesso ao que tem ocorrido no Rio Grande do Sul desde o início do mês. As imagens chocantes de famílias resgatadas, desabrigadas e desoladas ao voltarem para casa e encontrarem pouco do que tinham intacto, ou nada além de entulho, têm gerado uma onda de solidariedade pelo país. Em Passo Fundo, são muitos os exemplos, dentre eles a ação intitulada “Campanha Volta para Casa”, promovida por um grupo de amigos que já arrecadou alimentos, cobertores, sofás e outros móveis, e que agora se mobiliza para o envio de conjuntos para cozinha.
O galpão emprestado para os organizadores da campanha, localizado na esquina entre as Ruas Coronel Pelegrini e Duque de Caxias, serve como ponto de arrecadação desde o início, há pouco mais de um mês. O engajamento tem dado resultados, pois são muitas as peças de roupa, alguns armários e fogões, sofás, cobertores e colchões, cestas básicas e ração animal. Tudo está sendo organizado para que, assim que a água baixar, ocorra a entrega a moradores de Canoas, vizinha a Porto Alegre, e uma das cidades mais afetadas pelas chuvas, com parte ainda embaixo d’água. A distribuição também será feita pelos próprios envolvidos com a iniciativa. “Tem gente que vai nos apoiar emprestando caminhão, além de dirigir até lá. A gente tem as caminhonetes de cada um dos parceiros, nossos amigos também, que vão auxiliar com o transporte”, conta o empresário Cristiano Marques, um dos voluntários.
Segundo lembra, o vínculo familiar de alguns dos integrantes do grupo com pessoas afetadas pelas enchentes naquela cidade foi o start para a campanha. “Um começou querendo ajudar um parente, o outro da mesma forma, e aí nos juntamos para conseguir espalhar mais, para alcançar mais pessoas”.
Além dos donativos arrecadados, vendo a extensão das perdas materiais dos muitos flagelados, o grupo pensou em ampliar a ação, e, com contatos com uma fábrica moveleira, viabilizou a compra a preço de custo de móveis para cozinhas, “que estão quase prontos. Por isso, a gente precisa do Pix agora, para podermos pagar essas 10 cozinhas que foram feitas”, justifica Marques, ao calcular o custo total em cerca de R$ 7,9 mil. Segundo lista, o kit é formado por balcão e pia, armário, mesa com cadeiras, além de um raque para sala. Se o valor arrecadado for maior do que o necessário para essa compra, garante, além de um auxílio para o combustível dos veículos que farão a entrega, mais pessoas poderão ser beneficiadas. “A gente vai ajudar com a compra de botijão de gás, por exemplo, ou outras coisas que precisarem”.
Cerca de metade dos conjuntos de cozinhas já tem destino, e o restante deve ser distribuído conforme a necessidade dos moradores daquela cidade. O número do Pix que recebe as doações é o 54 9 91984268 (telefone), em nome de BKT Comércio e Representações. No ponto de arrecadação da campanha, ainda há a necessidade, principalmente, por eletrodomésticos, como fogões.
Mais de 55 mil pessoas em abrigos
Os números divulgados pela Defesa Civil estadual, na manhã de segunda-feira (27), apontam que 55.813 pessoas são consideradas desabrigadas, e estão em abrigos públicos. O total de desalojados alcança 581.638 pessoas, que estão na casa de parentes, amigos ou conhecidos, por exemplo. São 169 Óbitos confirmados e 56 desaparecidos.
Boletim da Confederação Nacional de Municípios (CNM), com dados ainda parciais, indicam que o setor habitacional no Rio Grande do Sul contabiliza prejuízos de R$ 4,6 bilhões, com mais de 108,6 mil casas danificadas ou destruídas.