O que explica o aumento nos casos de dengue em Passo Fundo

Na última semana, foram confirmados dois óbitos causados pela doença. O total de casos passa de 1,7 mil

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Borrifação interna é realizada nos prédios públicos municipais com maior concentração de pessoas para atendimento, como os Cais. Fotos divulgação PMPF/ Michel SanderiBorrifação interna é realizada nos prédios públicos municipais com maior concentração de pessoas para atendimento, como os Cais. Fotos divulgação PMPF/ Michel Sanderi
Borrifação interna é realizada nos prédios públicos municipais com maior concentração de pessoas para atendimento, como os Cais. Fotos divulgação PMPF/ Michel Sanderi
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De 873 casos de dengue ao longo de todo o ano de 2023, o número saltou para 1.716 em Passo Fundo apenas até a metade de 2024. A gravidade da incidência também se mostra com o registro de duas mortes em maio, uma idosa de 62 anos e outra de 86, que tiveram a doença como causa confirmada pelo laboratório central de análises do Governo do Estado na última sexta-feira (31). Efeitos climáticos ajudam a entender a realidade atual, conforme a Secretaria Municipal de Saúde, mas não somente isso. A Vigilância Ambiental em Saúde alerta que o descuido com a água parada e depósitos de lixo ainda são um problema grave e carecem de atenção da população.

A crescente observada por aqui acompanha o que vem ocorrendo em todo o Brasil. Ao longo do ano (dados até maio), o país já contabiliza 5.100.766 casos prováveis de dengue, número que representa mais que o triplo de casos prováveis da doença identificados ao longo de todo o ano passado, quando foram anotados 1.649.144 casos. O painel de monitoramento de arbovirose mostra que foram 2.827 mortes, e outros 2.712 óbitos seguem em investigação. 

Além dos 1.716 casos confirmados de dengue, Passo Fundo tem outros 698 em investigação, apresentando uma incidência de 1.264,2 casos prováveis para cada 100 mil habitantes. A faixa etária com maior número de confirmações está entre 40 e 49 anos. Entre os bairros com mais focos do mosquito Aedes Aegypti, destacam-se Petrópolis, São Cristóvão e Boqueirão. 

Na avaliação da secretária de Saúde, Cristine Pilati, os efeitos climáticos deste ano contribuíram para uma escalada dos casos de dengue em todo o Rio Grande do Sul. “Desde 2023, estávamos preparados para este aumento. Importante ressaltar que o LIRAa [Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti], que reflete a realidade dos domicílios, foi mais alto no início do ano. Novamente em maio, o LIRAa foi elevado, mas não nos mesmos bairros que em janeiro, demonstrando que as ações realizadas foram efetivas. Os principais focos dos mosquitos continuam sendo no interior dos domicílios, principalmente nos vasos de plantas”, observa Pilati, ao solicitar o apoio da população às medidas de prevenção. 

A dengue possui padrão sazonal, com aumento do número de casos e o risco para epidemias, principalmente, entre os meses de outubro de um ano a maio do ano seguinte, sendo esse último mês, historicamente, com a maior incidência aqui no município. Junho, porém, ainda é considerado um período de risco, pondera a secretária, “mas não sabemos como a epidemia irá se comportar este ano, devido às enchentes”. 

Para o próximo período considerado crítico para a proliferação do mosquito, adianta ela, a Secretaria já está elaborando estratégias, incrementando as medidas de combate já existes e preparando mais equipamentos.


Ações intensificadas 

Conforme a Prefeitura, foram reforçados os trabalhos de identificação e contenção dos focos do mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão da dengue. Para tanto, foram colocados mais agentes de combate às endemias, realizadas mais visitas domiciliares, verificação dos imóveis e orientação aos moradores.

Foram realizadas pulverizações com inseticida contra o mosquito Aedes aegypti no entorno das residências com casos confirmados, além de campanhas de conscientização sobre os cuidados que devem ser adotados pela comunidade. “Desde 2023, iniciamos com treinamentos de toda a equipe de saúde para o combate a epidemia de dengue. No dia 2 de janeiro, a campanha contra a doença iniciou, inclusive com carros de som nos bairros. Foi realizado o dia D de combate a Dengue em abril e a Vigilância Ambiental tem realizado um trabalho efetivo de borrifação intradomiciliar, pulverização dos locais com casos detectados positivos e locais estratégicos verificados pelos agentes de endemias”, detalha a secretária municipal.

Além disso, notificações e multas podem ser aplicadas aos proprietários de imóveis que não tomarem os cuidados necessários. Nesses casos, o valor pode variar entre R$ 500 a R$ 5.500. A gestão municipal informou, ainda, que ampliou a limpeza urbana e o descarte correto com o programa Cidade Limpa e a disponibilização de contêineres móveis nos bairros.


Resistência da população para as vistorias

Os riscos gerados pelo descuido com as propriedades, depósito de lixo em locais inadequados ou falta de limpeza de terrenos, por exemplo, são amplamente conhecidos, mas são pontos que ainda carecem de atenção da população. A coordenadora da Vigilância Ambiental em Saúde de Passo Fundo, Ivânia Silvestrin, percebe que muitos moradores não têm mantido os cuidados necessários para evitar a água parada, “tanto que o LIRAa ainda aponta que nossos maiores problemas são os depósitos B, pratinhos de plantas e depósitos de lixos”, revela. 

O próprio trabalho rotineiro dos servidores municipais também enfrenta dificuldades. Segundo Silvestrin, ainda há “muita resistência da população em receber os agentes”. Nessa linha de frente, atuam 52 Agentes de Endemia e 68 Agentes Comunitários de Saúde, informou a Pasta da Saúde.

Após a confirmação dos dois óbitos, a Prefeitura Municipal reiterou que a situação em Passo Fundo exige a colaboração de todos os moradores, verificando e mantendo limpo o pátio de suas residências, realizando o descarte correto de resíduos, eliminando água parada e possíveis criadouros, evitando o uso de automedicação e, em caso de sintomas, procurando auxílio médico.

Em dezembro de 2023, a vacina contra dengue foi incorporada no Sistema Único de Saúde (SUS). Passo Fundo, no entanto, não recebe doses, pois, conforme a secretária de Saúde, Cristine Pilati, não preencheu os critérios para a vacinação. 

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