O NACIONAL, às vésperas de completar seu centenário, é um dos mais antigos e longevos jornais publicados no Rio Grande do Sul e no Brasil.
Foi fundado no ano de 1925, pelo advogado Herculano de Araújo Annes, associado a seus primos Hiram de Araújo Bastos, proprietário da antiga Livraria Nacional, e Americano de Araújo Bastos. Todos eles eram ligados à situação política local. Herculano era filho de Gervásio Lucas Annes, coronel-comandante da Guarda Nacional, duas vezes intendente (prefeito), e chefe do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). Hiram e Americano eram filhos de Gabriel Bastos, que integrou a junta governativa que governou o município no início do período republicano.
Apesar de seus proprietários e dirigentes serem estreitamente ligados ao partido dominante e à administração local — o intendente eleito em 1924 era Armando de Araújo Annes, irmão do Dr. Herculano — em seu primeiro editorial, o jornal se proclamou independente. Sob o seu próprio título, desde o início, em todas as edições, no frontispício da sua primeira página, fez inscrever a sua condição de jornal independente.
Declaração de independência
Até então, todos os jornais publicados em Passo Fundo e noutros lugares eram sempre vinculados a partidos políticos, defendendo seus postulados e atacando sistematicamente os adversários. No Estado atuavam, desde os primeiros anos do novo regime, dois partidos, inconciliáveis e inimigos desde a guerra civil de 1893: o Partido Republicano (chimangos) e o Partido Federalista (maragatos). As duas agremiações acabavam de depor as armas para pôr termo à Revolução, de 1923. Inconformados com a derrota de seu candidato Assis Brasil e com as fraudes que permitiram mais uma reeleição de Borges de Medeiros para o governo do Estado, os maragatos tinham se insurgido pelas armas a fim de removê-lo do poder. O armistício de Pedras Altas de modo algum logrou pacificar o Estado. Ao contrário: continuavam vivos e intensos os ódios que levaram os dois partidos ao campo de batalha.
Por isso, aquela singular declaração de independência do novo órgão de imprensa, proclamada num dia do inverno de 1925, não foi em vão. Além de um estímulo à pacificação e à harmonia entre as famílias passo-fundenses, conseguiu a todo tempo demostrar que pode existir uma imprensa livre de sectarismo e influências, voltada à defesa do bem comum e de outros valores.
Comprometimento com a comunidade
Múcio de Castro, que assumiu a direção em 1940, deu continuidade ao propósito de preservar a independência do jornal. Jamais permitiu que se submetesse a injunções dos poderosos, fossem elas políticas, sectárias ou de grupos. Chegou a enfrentar a força e o arbítrio de duas ditaduras, primeiro da do Estado Novo e depois da de 1964, que tentou sem êxito silenciar o jornal.
Foi mais longe O Nacional sob o comando de Múcio de Castro. Além de preservar ciosamente a sua independência, passou cada vez mais a comprometer-se com os interesses maiores da comunidade. Reconhecidamente, a todo tempo, agora sob a batuta do incansável Múcio de Castro Filho, o nosso querido e indispensável jornal sempre esteve presente e atuante, ao lado ou à frente em todos os movimentos e iniciativas relevantes da história de Passo Fundo ao longo deste século e do anterior.
O mais importante e significativo de todos foi, sem dúvida, o movimento coletivo de que resultou a criação da Universidade de Passo Fundo. A atividade de O Nacional, com seus editoriais e noticiários, somando-se à atuação pessoal de Múcio enquanto deputado estadual e depois disso, foi decisiva para a abertura das primeiras escolas de ensino superior e depois para a oficialização da Universidade, ocorrida em 1968, pela qual batalhou longa e denodadamente. Esses fatos foram determinantes para impulsionar não somente a educação e a formação das novas gerações, mas também para beneficiar a atividade econômica no seu conjunto. A presença da Universidade e do sistema de ensino superior, que aqui progressivamente foi implantado, foi a força que impulsionou não somente a educação, o ensino e a pesquisa. Mais do que isso, foi o fator que possibilitou a crescente pujança da indústria, do comércio, da medicina de alto padrão, da construção civil e do agronegócio, orgulho da nossa cidade. Daí resultou tornar-se o município, nesta primeira quadra do século XXI, uma das principais economias do Estado e da região sulina.
Parte da história
Por tudo isso, interpretando o sentimento geral, posso reafirmar que O Nacional, às vésperas do primeiro centenário, sob a inspiração do ideal de independência proclamado por seus fundadores, como parte inseparável da história da cidade, comprometido com seus anseios e ideais, prossegue altivo e cada vez mais fortalecido na sua missão de intérprete e defensor dos anseios e necessidades da nossa urbe e do seu povo.