A cesta básica de Passo Fundo apresentou redução de R$ 71,64 em julho, quando comparado a junho. Na variação mensal dos últimos 12 meses, diminuiu 1,09%, passando de R$ 1,435,10 em julho de 2023 para R$ 1399,83 em julho de 2024. Os números podem surpreender, sobretudo se a percepção for de que, de maneira geral, os preços aumentam ano a ano - a inflação em 2024, por exemplo, medida pelo IPCA, deve oscilar cerca 4% -, mas, conforme frisa a coordenação responsável pela pesquisa, são fundamentados em metodologia de coleta e análise de dados e representam uma mediana do período. Entenda adiante como é feito o levantamento.
O boletim mensal é realizado há mais de três décadas pelo Centro de Pesquisa e Extensão (Cepeac) da Universidade de Passo Fundo (UPF). O objetivo é revelar um preço médio dos produtos na cidade, garantindo o “poder de tomada de decisão ao consumidor”, aponta o coordenador do projeto da Cesta Básica, doutor em economia e professor da UPF, Julcemar Zilli. “Sabendo quanto é o preço médio de cada um dos produtos que nós estamos analisando, ao irem até um supermercado, as pessoas podem ter esse parâmetro de comparação e identificar se de fato aquele preço daquele produto naquele supermercado está acima ou abaixo da média para a cidade. Pode escolher em comprar ou pesquisar preço em outros supermercados, e, com isso, fazer com que o seu dinheiro renda mais”.
Na prática, complementa o economista, o índice revela duas informações relevantes, além do custo da cesta básica local, identifica o poder aquisitivo da população ao longo do tempo. “Os preços oscilam a todo momento, podem aumentar, como podem cair, e o salário mínimo basicamente tem um aumento ao longo do ano. Com isso, nós também, além de sabermos quanto custa a cesta básica, conseguimos identificar quanto mensalmente o padrão de família de Passo Fundo precisa gastar dado o seu salário. Quando o salário permanece igual e a cesta básica aumenta, isso significa que o poder aquisitivo da família diminui. E o contrário também é verdade”.
Pesquisa é feita há mais de 30 anos
O coordenador do estudo retoma que a coleta mensal desses dados iniciou em 1992, e tem por base a visita da equipe aos pontos de venda cadastrados. “O processo de coleta dos preços envolve a visita mensal nos últimos dias do mês a 22 supermercados de Passo Fundo, do centro e bairros, onde são coletados os preços de 42 itens. Após isso, os preços maiores e menores são descartados e trabalhamos com a mediana, ou seja, os preços que estão ali no meio da nossa distribuição”, detalha.
Conforme continua Zilli, os bolsistas do projeto vão até os supermercados - “os maiores, obviamente”, ressalta - para verificar sempre o preço do mesmo produto e da mesma quantidade. “Se é o feijão de um quilo, então vai ser sempre o feijão de um quilo, e com isso a gente consegue ter uma ideia muito clara de como está o comportamento dos gastos com a cesta básica aqui na cidade”.
Numa primeira fase do projeto, porém, para a criação da lista de compras, foram identificados os 42 produtos mais consumidos pela população de Passo Fundo. “Eles são oriundos de uma pesquisa de orçamento familiar, que a gente chama de POF, onde se analisa durante um mês todos os bens, todos os produtos que foram consumidos pela família padrão aqui da cidade”. O grupo consumidor também é importante para o estudo, sendo considerada uma família composta por quatro pessoas, que tem como renda até cinco salários mínimos. “Dessa forma, a gente identificou o que normalmente se consome, quais os produtos que costumam estar presentes nessa cesta básica. Diante disso, nós temos três eixos, a alimentação, a higiene e a limpeza. Obviamente, a alimentação é que tem o maior peso”, pondera Zilli.
É um preço médio
O último boletim divulgado registrou que os produtos que acumularam maiores altas de preços em julho foram o pó p/ suco, a lâmina de barbear e o desodorante, com preços majorados em 55,08%, 43,18% e 10,03%, respectivamente. Por outro lado, os produtos de maior queda foram o desinfetante, o tomate e o creme dental, com preços reduzidos em 40,07%, 27,35% e 19,92%, respectivamente.
Essa variação pode não ser constatada por um consumidor em específico no supermercado que frequenta, pois, reitera Julcemar Zilli, é resultado de um cálculo que compreende todos os locais visitados. “Considero importante informar a sociedade que nós estamos trabalhando sempre com um preço médio de cada um dos itens, então, por vezes, o familiar vai identificar que, no supermercado que ele vai, o preço daquele produto está muito maior do que nós estamos expondo, e isso ocorre exatamente porque nós estamos trabalhando com uma média de 22 supermercados. Essa é a situação, e por vezes, as próprias pessoas não entendem e acham que, de fato, a gente está, de alguma forma, influenciando nesse indicador, e não. A ideia exatamente é nós termos um padrão médio de gastos na cidade de Passo Fundo, e obviamente nós vamos ter aí a questão do preço máximo, do preço mínimo. Depende de onde o consumidor está olhando o seu preço e o produto que ele está olhando, isso pode fazer uma diferença significativa no valor da cesta básica dele, mas isso é a própria metodologia que nos deixa tranquilos com relação a essas questões”, finaliza o coordenador.