A instalação de adutoras reserva e a perfuração de poços artesianos pela cidade são medidas que serão adotadas em um curto prazo pela Corsan, numa estratégia para evitar novos casos de desabastecimento em Passo Fundo. O anúncio veio nessa quinta-feira (06), dias após três rompimentos seguidos da adutora responsável por 40% do abastecimento da cidade. “É inadmissível a população ficar sem água”, reconheceu o diretor-executivo da concessionária, Rodrigo Lacerda, durante coletiva de imprensa. As contas que apresentaram elevação drástica também serão revisadas, garantiu.
O crescimento da demanda por água na cidade em 8% no último ano e a falta de investimentos no sistema em anos anteriores são apontados como motivos da dificuldade em manter o serviço em pleno funcionamento. Apesar da justificativa, Lacerda classificou como inadmissível o desabastecimento, ainda mais diante das altas temperaturas registradas nas últimas semanas.
Segundo ele, o episódio mudou completamente o plano operacional da empresa e a perfuração de poços artesianos será a alternativa mais rápida para garantir o abastecimento nos bairros mais distantes da estação de tratamento. “A estratégia que a Corsan tem adotado para dar celeridade é criar centros de produção de água localizados em cada bairro. Ao invés de crescimento de produção em estações de tratamento, serão perfurados diversos poços espalhados pela cidade justamente para a produção ficar localizada nos bairros e a gente conseguir acelerar o processo de recuperação em caso de parada, e ter mais qualidade e eficiência na distribuição de água”, detalhou.
O diretor enfatizou que essa medida está associada a uma série de outros dispositivos de segurança operacional, como a instalação de ventosas voltadas a acelerar a recuperação do sistema ao retirar o ar da rede; a instalação de válvulas redutoras de pressão; e a mobilização de mais de 20 pessoas dedicadas ao programa de perda de água, para reduzir o desperdício. “Uma série de investimentos que vão somar mais de R$ 20 milhões somente em 2025, permitindo uma maior robustez e qualidade no sistema de abastecimento de água em Passo Fundo. Entendemos que é muito ruim ter essa intermitência e ficar sem água, e estamos trabalhando dia e noite com toda a nossa equipe para que a cidade não passe mais por isso”, garantiu.
Novas adutoras
A adutora que apresentou problemas de vazamento foi construída em 1998 e está localizada eu uma área de difícil acesso, próximo à Perimetral Leste, o que atrasou o trabalho de conserto. Para evitar futuros deslocamentos, ela recebeu uma nova ancoragem. Além disso, a Corsan anunciou, já para os próximos dias, a instalação de uma adutora paralela, de aproximadamente 50 metros, naquele mesmo local, que ficará como reserva para situações de emergências.
Além dela, será construída uma terceira adutora, de 2,5 quilômetros de extensão. O equipamento auxiliar fará a captação na Barragem da Fazenda, sendo utilizada somente em ocasiões específicas compreendendo um plano de contingência. Essa nova estrutura tem previsão de ser concluída em até 150 dias. “Tendo alternativas para a segurança operacional na cidade, não passaremos mais por problemas como esse”, projeta.
Comunidades ainda sem água
Nessa quinta-feira, quase duas semanas após o primeiro corte no sistema, relatos ainda indicavam a falta de água em diversas localidades. Rodrigo reconheceu que bairros como Petrópolis, Leonardo Ilha, São José, entre outros, localizados em regiões mais altas da cidade, acabam afetados pelo desabastecimento por mais tempo. “Até que água chegue aos locais mais altos e distantes das centrais de tratamento é necessário que toda a região esteja abastecida. O percurso e o tempo de recuperação são muito mais longos, como no caso dos bairros São José e Leonardo Ilha”, exemplificou, ao reiterar que as novas estruturas devem resolver essa deficiência.
Ao todo, especificou, serão construídos 10 poços artesianos em até 60 dias. Duas unidades foram colocadas em operação nessa semana, nos bairros São José e José Alexandre Zachia. Outros dois tiveram a perfuração iniciada, na Petrópolis e um segundo no Zachia. “Ainda poderemos ter oscilações até que todas essas melhorias estejam concluídas”, pontuou.
Revisão das contas
Na última semana, conforme publicou ON, um acordo judicial foi estabelecido - a partir de ação ingressada pela Defensoria Pública – determinando a suspensão das faturas de janeiro de 2025 que superem em pelo menos 40% o consumo médio apurado nas medições de meses anteriores, “até que a Corsan verifique a razão desse aumento”. A suspensão vale para as contas que tenham um volume de consumo de 20 m³/ mês ou mais. A empresa informou que o acordo será cumprido e que vai analisar caso a caso.
Um levantamento preliminar aponta que cerca de 3,5 mil a 4 mil consumidores se enquadrariam nessa reavaliação. O levantamento final deve ser concluído nesta sexta-feira. “Acreditamos que ao longo do mês de março teremos essa análise das contas concluída, e se necessário iremos até as residências para prestar esclarecimentos. Em seguida, vamos aplicar, nos casos devidos, um parcelamento de até dez vezes, entendendo as necessidades da população”, disse Rodrigo Lacerda.
Segundo ele, mensalmente, são 70 mil contas lidas pela empresa no município. “É natural que o consumo aumente nessa época do ano, também em função do calor registrado”, ponderou.
A questão das cobranças tem sido abordada constantemente na Câmara de Vereadores. Uma das proposições discutidas na sessão plenária de quarta-feira (05) foi o projeto de Lei nº 25/2025, de autoria da vereadora Eva Valéria Lorenzato (PT). A proposta prevê a regulamentação da cobrança das contas de água no município, garantindo ao consumidor “o direito à informação clara e precisa sobre os serviços prestados pela concessionária de serviços públicos de abastecimento de água e esgoto”.
A matéria também destaca que, em respeito ao princípio da transparência previsto no Código de Defesa do Consumidor, fica proibida a inclusão de cobranças genéricas sob a designação ‘outros’ ou qualquer outra denominação não específica nas faturas de água. O texto segue os trâmites internos antes de ser votado em Plenário, o que não há prazo.
Até 27 mil famílias se enquadram na Tarifa Social
A Prefeitura de Passo Fundo assinou uma Ordem de Serviço para garantir o acesso automático de até 27 mil famílias do município ao benefício da tarifa social da Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN). A medida assegura um desconto de 60% na tarifa básica da conta de água e esgoto para os munícipes inscritos no Cadastro Único (CadÚnico) com renda per capita de até meio salário mínimo.
A partir da assinatura da Ordem de Serviço, a Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (SEMCAS) encaminhará, até o dia 10 de cada mês, um relatório à CORSAN com os nomes e endereços das famílias inscritas no Cadastro Único. Dessa forma, os beneficiários passarão a receber o desconto automaticamente, sem necessidade de requerimentos adicionais.
A iniciativa está alinhada à Lei Federal 14.898/2024, que estabelece o direito à tarifa social para famílias de baixa renda. Além disso, está em conformidade com o Termo Aditivo do contrato de concessão da CORSAN, garantindo que o benefício seja implementado de maneira automática no município. "Com essa medida, eliminamos burocracias e asseguramos que milhares de famílias possam usufruir do desconto na tarifa de água de forma simples e rápida", destacou o Prefeito Pedro Almeida.
De acordo com o site da Corsan, o valor da tarifa básica varia de acordo com a categoria do cliente e o tipo de serviço. Para Residencial Social (RS), de R$ 18,96 por mês, ou R$ 227,52 por ano; e para Residencial Básica (RB), R$ 47,88 por mês, ou R$ 574,56 por ano.