Reunidas em uma sala da escola municipal Coronel Sebastião Rocha, no bairro Valinhos, um grupo de 30 mulheres se prepara para iniciar uma nova caminhada. Remanescentes do projeto Mulheres da Paz, desenvolvido entre 2012 a 2013, elas agora fazem parte do Serviço de Informação à Mulher (SIM). Um serviço totalmente voluntário direcionado para mulheres vítimas de violência doméstica.
Criado em 2001 pela Comissão dos Direitos Humanos, tendo como realizadoras as Promotoras Legais Populares, o SIM funcionou durante um período no prédio do IFIBE, na vila Rodrigues, até dar lugar para o Mulheres da Paz. O projeto foi retomado e entrou em funcionamento na semana passada. Agora com caráter itinerante, ele permanecerá durante todo o mês em um bairro. O atendimento acontece todas as quartas-feiras, das 14h às 17 horas. Após a passagem pelo Valinhos, a iniciativa, novamente coordenada pela Comissão dos Direitos Humanos, percorrerá os bairros Victor Issler, São Luiz Gonzaga, Integração e Bom Jesus. O serviço é direcionado para mulheres vítimas de qualquer tipo de violência. “Ouvimos os relatos, esclarecemos dúvidas, orientamos as vítimas e encaminhamos os casos para os órgãos competentes. É uma ferramenta importante para o enfrentamento da violência” diz coordenadora, Valda Maria Belizki.
Edelvina Schmidt da Rocha,47 anos, é uma das voluntárias. Mesmo com o fim do Mulheres da Paz, do qual exibe orgulhosa a camiseta, ela segue auxiliando as vítimas. “O projeto parou, mas as pessoas continuam precisando de atendimento. Com o tempo a gente cria uma proximidade, uma confiança das pessoas. Elas começam a falar e, aos poucos, vão transformando suas realidades. Não tem como se omitir de uma missão destas. O SIM é uma nova oportunidade para elas” comenta.
Com uma trajetória semelhante, Marli Terezinha da Veiga, 49 anos, compartilha da mesma opinião da colega. Após integrar dois projetos nesta mesma linha, ela diz estar pronta para o novo desafio. “Tivemos uma boa capacitação nesta trajetória, este conhecimento faz toda a diferença nos atendimentos” observa.
De vítima à voluntária
Aos 44 anos, Maria (nome fictício) fala com a autoridade de quem já esteve nas duas pontas do problema. Abandonada pela mãe ainda na infância enfrentou as mais diferentes formas de violência, tanto física como psicológica, incluindo abuso sexual. Situação que perdurou na fase adulta, num relacionamento de seis anos. “Nos seis primeiros meses foi um príncipe, depois virou um sapo. Fui muitas vezes agredida. Naquela época não havia Delegacia da Mulher, nem projeto algum. Ninguém se metia em briga de marido e mulher. Pensei várias vezes em suicídio, até em tirar a vida dos meus dois filhos para acabar com tanto sofrimento. Busquei força em Deus e, aos 40 anos, consegui me separar e dar a volta por cima” recorda.
Hoje, Maria aproveita toda esta experiência para evitar que outras mulheres passem pelo mesmo sofrimento. “Elas são agredidas na primeira vez, pensam que ele vai mudar. Acontece a segunda vez, a terceira, muitas acabam morrendo. Sei que não é fácil começar do zero, criar os filhos sozinha, pagar aluguel, mas tem que enfrentar. O primeiro passo de tudo é resgatar o amor próprio. Sou uma vencedora, tento ser para estas mulheres a pessoa que não tive quando precisei” revela.