Uma visita pelos espaços históricos

Projeto Relendo Passo Fundo valoriza espaços e edificações de caráter histórico ou interesse arquitetônico do município

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O Hotel Gloria, inaugurado na década de 1920, hospedou muitas pessoas ilustres, como Getúlio Vargas, que discursou de uma de suas sacadas. Essa e outras dezenas de curiosidades sobre espaços históricos e de interesse arquitetônico de Passo Fundo são reveladas e recontadas no projeto Relendo Passo Fundo da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade de Passo Fundo (Fear/UPF), por meio do projeto de extensão VivA!Emau.

O projeto desenvolveu, entre maio e julho de 2016, dois percursos urbanos guiados. O evento também abrangeu pesquisa sobre os mais de 40 pontos visitados, mini-cursos de fotografia, e desenho à mão livre (Urban Sketchers), entre outras atividades, que envolveram mais de cem pessoas, entre alunos, funcionários e professores da UPF, voluntários e comunidade em geral. A ideia futura é reunir todos esses registros em um livro impresso.

De acordo com a coordenadora do VivA!Emau, professora Carla Portal Vasconcellos, o objetivo geral do evento é promover a valorização dos espaços de significação histórica e arquitetônica, a compreensão das relações que se estabelecem a partir dos mesmos com o contexto onde se inscrevem ontem e hoje, e a importância de sua preservação. “A cidade é obra de pessoas e grupos em condições históricas. Ler a cidade significa buscar compreender esta sobreposição de processos e resgatar significados da realidade, dando um sentido ao mundo e ao lugar que ocupamos nele”, afirma Carla.

O Relendo Passo Fundo também tem como objetivo registrar os espaços de importância histórica e/ou arquitetônica e seus entornos e compartilhar vivências. “Ao incorporar duas diferentes formas de registro ao evento, desenho à mão livre e fotografia, o projeto documenta a inserção atual destes espaços, valoriza as expressões artísticas, e acaba por escrever um novo texto, recontando a história dentro do presente contexto”, destaca a professora. 

Desenvolvimento do projeto
Os alunos da disciplina de Teoria e História do Urbanismo II do curso de Arquitetura e Urbanismo, selecionaram, pesquisaram e discorreram sobre os pontos visitados. Já outros alunos, que participaram de mini-cursos de fotografia ministrados pelo  Laboratório de Áudio e Vídeo em Arquitetura e Urbanismo (Lavau), registraram estes pontos e o próprio evento. “Do ponto de vista acadêmico, o ‘Relendo Passo Fundo’ é um evento que vincula ensino e extensão, dando uma nova dimensão aos conhecimentos compartilhados nas disciplinas do curso de Arquitetura”, observa a professora Carla.

Em pontos específicos do trajeto, reuniram-se alunos, arquitetos e professores (que também participaram de encontro preparatório) registraram, em croqui à mão livre, cenas da cidade, dando início a um movimento chamado Urban Sketchers, que já ocorre em outras cidades do Brasil e do mundo.

O evento ocorreu em duas datas: no dia 28 de maio, o Capítulo I, a partir da frente da Catedral, na Praça Marechal Floriano, percorreu 19 pontos, e no dia 02 de julho desenvolveu-se o Capítulo II, que teve início no Quartel do Exército (Rua Teixeira Soares), com apresentação do grupo independente Jota Company de street dance e visitou 21 pontos.

Os integrantes do projeto estão em tratativas para uma nova edição do evento.

Como surgiu?
Em 2015, o projeto de extensão VivA!Emau foi convidado a participar da Semana do Patrimônio e desenvolveu uma atividade na Praça Marechal Floriano, convidando os passantes para conhecer um pouco mais sobre a história dos prédios do entorno da Praça. “Ficamos muito felizes com o resultado e com a receptividade que tivemos no desenvolvimento daquela atividade e, já ao final daquela manhã, estávamos todos entusiasmados para ampliar a experiência”, relata a professora Carla.

Conforme a professora, a iniciativa realizada na época provocou certa surpresa e reflexão  sobre os prédios existentes. “Algumas pessoas, além de ouvirem, tinham muitas histórias para contar. Outras paravam e olhavam para os prédios como se nunca os houvessem visto. Esses diferentes aspectos, a interação e a surpresa, nos animaram a organizar o ‘Relendo Passo Fundo’”, revela.

VivA!Emau
O VivA!Emau é um projeto vinculado à Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UPF, ligado ao Núcleo de Arquitetura e Desenvolvimento Urbano e Comunitário (Naduc), em parceria com o Laboratório de Áudio e Vídeo da Faculdade de Arquitetura (Lavau). Mais informações na página do projeto no Facebook/VivA!emau.

Confira a seguir alguns resumos feitos pela professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UPF, Greice Rampaneli, sobre prédios históricos visitados durante as atividades do projeto:

Hotel Glória
O Hotel Glória foi construído na década de 1920 com objetivo de servir aos passageiros da ferrovia, por isso sua proximidade com a estação férrea. Assim como ele, Passo Fundo viu a construção de diversos hotéis nessa mesma época, marcadamente construídos na linguagem do historicismo eclético. A edificação possui dois pavimentos e ainda que com forte marcação da esquina em 45º, o acesso principal do Hotel acontecia pela Rua General Canabarro. A platibanda é reta com frisos e elementos decorativos sobrepostos. Assimétrica, com um balcão na esquina e outro com verga em arco abatido na Rua General Canabarro (onde discursou o então presidente Getúlio Vargas), a edificação apresenta equilíbrio formal e volumétrico.

Cassino da Maroca
A construção do Cassino Palácio e depois conhecido como Cassino da Maroca, foi encomenda de sua proprietária, Isaltina Rodrigues, ao maior empresário da construção civil da época João De Cesaro, no final da década de 1930. A abertura formal do Cassino aconteceu em meados de fevereiro de 1941. O Cassino funcionou na Rua XV de Novembro, esquina com a General Osório entre 1941 e 1957. O partido arquitetônico enfatiza a esquina através da parede em curva com balcão no segundo pavimento e acesso principal no térreo. Com configuração arquitetônica bastante simples, possui uma linguagem sóbria com poucos elementos decorativos. Sua relevância histórica advém do fato de ter abrigado por 16 anos o Cassino da Maroca.

Silo e Moinho
Os prédios do Silo e o prédio dos Moinhos Riograndense. Suas presenças são marcadas por inúmeros aspectos: apresentam importantes elementos arquitetônicos industriais, localizam?EUR?se numa região privilegiada, pois podem ser vistos de várias áreas da cidade, além de serem exemplares únicos. Atualmente, ambos recebem função de casas noturnas.

Silo: Por possuir como função a armazenagem dos grãos, o edifício possui poucas aberturas e uma estrutura interna de madeira única na cidade. Sua monumentalidade é enfatizada pela relação com a edificação do moinho.

Moinho: Sua volumetria é percebida em grande parte do centro de Passo Fundo, em especial nas ruas Fagundes dos Reis e Moron, onde sua fachada posterior apresenta grande destaque.

Bebedouro
A construção do bebedouro se deu pela necessidade de um espaço para tratar os animais, pois naquele tempo o meio de transporte mais comum era o cavalo, a carroça, a charrete ou aranha e a gaiota; Então, ali os carroceiros traziam os seus animais para beberem água. O espaço servia também como ponto de encontro.

Quartel do exército
Em março de 1922, o então Ministro da Guerra, o Dr. J. Pandiá Calogeras, vindo de São Paulo, trouxe a possibilidade de construção de um quartel para a cidade, caso fosse doado um terreno. Ao ver o local da rua Teixeira Soares, ficou deslumbrado. Então, em 31 de agosto de 1922, com o comparecimento do major Tancredo Fernandes de Melo, Dr. Távora, representando o sr. Ministro da Guerra e Dr. Firmino Dutra, engenheiro construtor, autoridades, imprensa local, foi iniciado o marco inicial da construção. Atualmente as edificações abrigam o 3º Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar de Passo Fundo, entre outros órgãos.

Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição
A capela de N.S. da Conceição Aparecida foi construída em 1834, na atual rua General Neto. Em novembro de 1847 foi criada a paróquia de Passo Fundo, no entanto seus alicerces, à frente da Praça Tamandaré, foram lançados apenas em 1891. Mas, para tanto, houve um longo processo de planejamento. Desde a metade da década de1850 já havia sido constituída uma Comissão Encarregada das Obras da Igreja Matriz de Passo Fundo que organizava os projetos, buscava os recursos e relatava para a comunidade seus resultados. Sua  inauguração aconteceu entre 1907 e 1908.

Conjunto Arquitetônico: Museu, Teatro e Academia
As edificações possuem importância histórica e arquitetônica de conjunto

- Academia Passo-Fundense de Letras (APL):
A história da APL começou em 1889. Logo após a Proclamação da República, Gervásio Lucas Annes fundou, em Passo Fundo, o Partido Republicano. Quinze anos depois, no dia 16 de março de 1904, membros desse partido fundaram o Clube Pinheiro Machado, entidade política, recreativa e cultural. Em 31 de maio de 1915, o clube escriturou um terreno comprado de Herculano Trindade e sua esposa, Lucinda Lima Trindade, na atual Avenida Brasil, entre as atuais ruas Teixeira Soares e Quinze de Novembro. Com o advento do Estado Novo, em 1937, e a consequente passagem dos partidos políticos à clandestinidade, o clube não tinha mais razão de ser. Foi então que remanescentes daquela entidade política, recreativa e cultural, juntamente com uma plêiade de cultos cidadãos de Passo Fundo, no dia 07 de abril de 1938, fundaram o Grêmio Passo-Fundense de Letras

- Teatro Múcio de Castro:
O atual Teatro, especificamente, foi construído em fins do século XIX para sediar o Clube Dramático Passo-Fundense. Findado em 1889 para este fim, posteriormente serviu também como sede do Poder Judiciário, do Clube Social e Político Pinheiro Machado (que anos depois se mudaria para sede própria, em prédio ao lado, na atual Academia de Letras) e para o jornal O Gaúcho. Recentemente o edifício passou por restauração e adaptações às novas necessidades de uso.

- Museu de Artes Visuais Ruth Schneider:
A estrutura, construída entre 1909 e 1911, pelo construtor Luiz Ricci, foi inaugurada em 25 de julho de 1911, durante a administração do Cel. Gervásio Lucas Annes. Até 1930, o espaço serviu de sede da Intendência Municipal, que, posteriormente, mudou a nomenclatura para Executivo Municipal. Recentemente a fachada do prédio passou por manutenção.

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