Veículos lotam depósitos judiciais

Crédito fácil é apontado pelos especialistas como o maior causador da inadimplência

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Natália Fávero/ON

Cerca de 223 veículos apreendidos pela Justiça por falta de pagamento de financiamentos lotam os dois depósitos judiciais de Passo Fundo. As pessoas são atraídas pelas condições de pagamento com longas prestações e IPI reduzido, mas não levam em consideração que além da prestação do veículo terão que pagar emplacamento, combustível, seguro e manutenção em geral. Quando os consumidores não conseguem pagar o financiamento eles entregam amigavelmente o veículo ou as agências financiadoras entram com um mandado de busca e apreensão e os carros vão a leilão. Segundo o Banco Central a inadimplência em financiamentos de veículos gira em torno de 5,5% a 5,9%. Conforme os dados coletados pelo SCPC em Passo Fundo, o índice é semelhante em Passo Fundo em torno de 5,6%, ficando estável nos últimos dois meses. Em abril, este percentual chegou a 5,9%.

O mês de agosto bateu recorde na venda de veículos no país. Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o total de veículos emplacados aumentou 11,52% em agosto em relação a julho, para 580.843 unidades.  O resultado também refletiu no município. Na rede de concessionárias que vendem automóveis zero quilômetro, a venda aumentou 40% no mês de agosto. Foram negociados 700 veículos no município, 200 a mais que a média para o período. Em junho, foram 655 carros comercializados e em julho, 635.  Segundo o diretor da Fenabrave e proprietário da Pampa Veículos, Renato Bellotti, em entrevista ao Jornal O Nacional no mês passado, a expectativa é vender mais ainda porque já foi comercializado todo o estoque e tem muito carro encomendado nas fábricas que ainda não foi entregue. Com a prorrogação do IPI, um carro de R$ 30 mil poderá ser adquirido até o final de outubro por R$ 27 mil.

Esta situação reflete no número de veículos nos depósitos judiciais. No depósito localizado na rua Prestes Guimarães, dos 30 veículos existentes, 16 são de financiamentos não pagos. Já no depósito judicial na Avenida Presidente Vargas, há 207 veículos de Passo Fundo e região que foram apreendidos pela Justiça ou devolvidos pelos proprietários devido a falta de pagamento do financiamento.

Cuidado com os atrativos
Segundo a economista, Cleide Fatima Moretto, para garantir a estabilidade na economia, considerando o declínio no ritmo do crescimento econômico do país, dentre eles a possibilidade de redução nas vendas e desemprego, o Governo adotou medidas de incentivo ao consumo e, dentre elas, a redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a compra de automóveis. Dependendo da potência do motor, como é o caso dos motores de até mil cilindradas (1.0), a taxa do IPI passou de 7,0% para 0,0%, para aqueles entre mil (1.0) a duas mil cilindras (2.0), a alíquota reduziu de 11,0% para 5,5%.

A economista frisou que para o consumidor, esta redução no preço dos veículos novos representa um grande atrativo: não apenas pelo preço nominal menor, mas sobretudo porque está garantindo a compra de um veículo novo, idealizado em seus desejos de consumo.

Como a maioria das pessoas não dispõe de recursos acumulados para efetuar a compra, o setor financeiro ampliou, também, as linhas de financiamento. As concessionárias, então, efetivam transações com consumidores que realizam o “seu sonho” do carro novo em 40, 50 e 60 meses. “No momento da aquisição, a prestação de R$ 450,00, R$ 600,00 parece irrisória, mas o que costuma ficar de lado é o real significado de mais de 3 anos da sua renda comprometida com tal parcela. O prazo é longo, a renda limitada e, num horizonte de outras possibilidades de consumo e imprevistos, não é difícil surgirem as dificuldades”, explicou Cleide. Quando mais de três prestações não forem pagas e o consumidor não conseguir negociar a dívida existe a possibilidade de a financeira requerer o veículo. “A consequência é o aumento de carros retidos nos depósitos judiciais, inadimplência e muita frustração para as famílias, situação que um planejamento adequado e atitudes mais realistas em relação ao padrão de consumo, poderia evitar”, reforçou a economista.

Consumidores precisam levar em consideração outros custos
A prestação do veículo não é o único gasto que o consumidor tem que levar em consideração no momento da compra. Conforme o coordenador do Balcão do Consumidor da Faculdade de Direito da UPF, Rogério Silva, é necessário prever os custos com emplacamento, combustível, seguro e manutenção geral do veículo. Além disso, é preciso analisar os juros. “Nestes financiamentos elas acabam pagando o equivalente a dois carros e meio. Outro fator é a depreciação no preço. O consumidor tira um veiculo da revenda e no primeiro dia, o carro perde 30%”, ressaltou Silva. Os financiamentos a longo prazo também merece a atenção do consumidor. “Tem financiamentos de até 90 meses. Só que neste meio tempo as pessoas podem passar por alguma dificuldade como perda de emprego, separação, doença”, disse o coordenador do Balcão do Consumidor. Rogério explicou que quando o consumidor não consegue mais pagar a prestação, a agência financiadora entra na Justiça com um mandado de busca e apreensão, o veículo é retirado do consumidor e vai a leilão.

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