A menina Yasmim Farina, de apenas um ano de idade, teve a vida salva graças a um transplante inédito de parte do fígado do pai. A bebê teve alta na tarde desta terça-feira (23) do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo e passou a ser a paciente mais jovem da instituição a ser submetida com sucesso a um transplante de parte de um fígado.
Natural de Barrão de Cotegipe, Yasmin logo após o nascimento apresentou na pele um aspecto amarelado. No início, acreditou-se na possibilidade de uma provável icterícia, comum em bebês recém-nascidos. Mais tarde, já no HSVP, veio o diagnóstico de Atresia de Vias Biliares (AVB). No dia 24 de setembro Yasmim completou um ano de vida e no dia 29 ela realizou um transplante, no qual recebeu do pai uma parte do fígado. Feito pelo cirurgião chefe da Equipe de Transplante Hepático do HSVP, Dr. Paulo Reichert, o transplante de Yasmim foi o quarto do gênero. Ao longo da trajetória de mais de 10 anos de procedimentos hepáticos no HSVP, a menina é a menor paciente já transplantada na instituição.
A Atresia de Vias Biliares obstruí o canal que liga o fígado ao intestino, pelo qual é transportada a bili, uma secreção que auxilia no processo digestivo. “Com o acúmulo da bili no fígado, desenvolve-se um processo inflamatório que leva à cirrose biliar. Este caso ocorre um para cada 100 mil nascidos. Recebemos a Yasmim com um processo inflamatório avançado, realizamos uma cirurgia para que a bili fosse drenada do fígado para o intestino. O fígado da paciente já estava muito doente e a cirurgia não deu resultados. Foi aí que a encaminhamos para o transplante”, contou a gastroenterologista pediátrica, Stefânia Simon Sostruznik.
Ao vivenciar uma maternidade mais tensa, Tatieli Dassoler Farina descreve que após o nascimento, a filha ficava cada dia mais amarela. “Yasmim nasceu com 2.400 kg, logo percebi que tinha alguma coisa de errado com minha pequena. A levei várias vezes para atendimento, mas diziam que era normal nos recém-nascidos, que era amarelão. A minha preocupação aumentou muito quando as fezes dela ficaram sem cor e a urina muito escura. Fomos para o São Vicente e aí veio o diagnóstico de AVB. Ela fez a cirurgia, mas não deu resultado. Foi então, que o Dr. Paulo e a Dra. Stefânia nos avisaram que ela teria que transplantar. Conversei com o meu esposo (Marcelo Farina) e decidimos que seria ele o doador”.
Conforme Reichert, os transplantes pediátricos são mais complicados, em razão dos órgãos serem menores. “Os exames mostraram a compatibilidade para a doação entre o pai, que tem 33 anos e a Yasmim. Foi a primeira vez, em casos pediátricos atendidos no HSVP, que o pai doou o fígado para a filha. No Brasil, apenas 3% dos transplantes de fígado são em crianças, onde ocorrem anualmente uma média de 1.200 transplantes. Em casos pediátricos, esperamos que a criança atinja no mínimo 10 quilos para transplantar. A Yasmim realizou o procedimento com 7.300 kg pela gravidade e por ela não conseguir ganhar peso devido a cirrose. O desafio da cirurgia é que tudo é muito pequeno. A artéria que precisávamos reconstituir media cerca de um milímetro, sendo que no adulto é de oito milímetros. Procedimento como esse, só foi possível ser realizado devido a alta complexidade do HSVP”.
Yasmim recebeu parte do fígado do pai, diferente do transplante adulto que é feito com o órgão inteiro. “A cirurgia foi realizada por vários profissionais. Participaram o cirurgião pediátrico Gustavo Castro, o anestesista Rinaldo Sossella, a gastroenterologista pediátrica Stefânia Simon Sostruznik e a pediatra Denise Fronza”, evidenciou Reichert.
O pai Marcelo recebeu alta logo após o transplante e não pôde visitar a filha ainda por restrições clínicas. Quem acompanha 24 horas a Yasmim é a mãe, que não vê a hora de levar a pequena para casa. “Agora é vida nova. Desde a cirurgia ela mudou muito e a cor amarelada já está sumindo. Em três dias ela ganhou 300 gramas, para quem viu ela apenas perder peso isso é muito bom. Ficaremos morando por cinco meses na Casa da Acolhida aqui em Passo Fundo, assim ficaremos mais próximos para o acompanhamento diário. Ainda não estaremos em casa, mas poderemos receber visitas. Principalmente a do pai, que não aguenta mais de saudades”.
Fígado doado pelo pai salva bebê de um ano
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