Quando a professora Terezinha Fátima de Oliveira chegava a sua sala de aula, ela enxergava uma pintura, um desenho que assumia traços marcantes. Era uma pintura com rostos cansados colocados lado a lado, com olhares fixos, e que geralmente era o resultado de um dia de trabalho.
Dessa representação, praticamente real, do quadro Os Operários (1933) da artista Tarsila do Amaral a professora iniciou um processo de transformação com os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), da Escola Estadual Ernesto Tochetto, através da arte. “Tenho prazer em trabalhar com o aluno do EJA, pois quando entrei pela primeira vez numa sala de aula e observei essas pessoas vi estudantes em potencial. Eles trazem a sua realidade de vida com uma ótica que renova o professor e a escola inteira”, afirma a professora de Artes.
Então a professora começou a colorir o cotidiano de suas aulas com as cores vibrantes da fase antropofágica da pintora paulista. E a partir do convite da Academia Passo-fundense de Letras (APL), de participar da II Semana das Letras da APL, iniciou um trabalho de releituras da obra que inspirou o Movimento Antropofágico, que foi a tela Abaporu (1928). O autor Oswald de Andrade, que na época era marido de Tarsila do Amaral, escreveu o Manifesto Antropofágico que propunha uma “deglutição” da cultura europeia, vigente na época, para que a arte nacional ganhasse uma feição brasileira. A obra que foi batizada por Tarsila, que significa o homem que come carne humana, trouxe nova dinâmica para a escola. “Esse trabalho focado no EJA preza pelo envolvimento e participação constante nas atividades. O aluno busca um processo de conhecimento diferenciado, então a metodologia é direcionada para o cidadão valorizando a sua produção e anseios”, confirmou a vice-diretora Ivonete Maria Zamarchi Lemos.
Exposição
No dia 1º de novembro, quinta-feira, será exposto na sede da APL o resultado dos trabalhos na atividade que dará destaque para a Semana da Arte Moderna de 1922. Segundo a professora Terezinha recursos e técnicas diferentes farão parte da exposição. “O interessante desse trabalho foi a proposta dos alunos em produzir fotografias, sendo eles retratados como o personagem principal da obra. Produzimos uma cenário e cada um fez sua versão da pintura, cada um se tornou o Abaporu”, comentou a professora. O estudante Michael da Silva, 22 anos, comenta a participação na elaboração dos trabalhos – “Estamos em contato com aulas práticas e isso trouxe o interesse da turma inteira para participar da criação das fotos e das releituras sobre uma obra tão importante”, disse.
Para o presidente da APL, Osvandré Lech, a participação escolar transforma o processo do conhecimento. “Tivemos contato com a escola depois da homenagem feita por eles durante o desfile de 7 de setembro, em comemoração aos 74 da Academia. Percebemos os métodos ativos da escola, pois a arte de educar é fazer o aluno pensar. O bom professor é aquele que instiga para que o estudante possa buscar um raciocínio próprio, tornando isso um fluxo de ensinar e aprender para ambos os lados”, disse o presidente, apontando a presença da Academia num processo amplo de difusão cultural. “A ideia da Semana das Letras é criar um fórum de discussão sobre a cultura na cidade e que isso ocorra de forma interdisciplinar. Queremos que o público possa indagar e se instigar com essa inclusão para criarmos um fórum de discussão sobre a cultura”, acrescentou. A aluna Silvana Camargo, 29, destaca a participação nesse movimento: “trabalhar a imaginação, aprender e ver esse primeiro trabalho sendo parte de uma exposição é um orgulho, e esse reconhecimento nos incentiva”, comentou.
Semana das Letras
A II Semana das Letras da APL – A Arte da Literatura em suas Variadas Formas acontece na sede da APL, Av. Brasil Oeste – 792, e terá em sua programação palestra, exibição de vídeos, declamação de poemas, além da exposição organizada pela escola. O ingresso é 1Kg de alimento não perecível.