Integrantes do projeto Mulheres da Paz protestaram na manhã de ontem pela morte da colega Silvia Aparecida de Miranda, 36 anos, assassinada quinta-feira passada no bairro Jaboticabal. Ao tentar defender a filha, ela levou uma facada no peito desferida pelo genro, um jovem de apenas 20 anos. Segurando cartazes, faixas e usando uma laço preto na roupa, as mulheres se concentraram em frente a 1ª Delegacia de Polícia, responsável pela investigação do caso. Depois, o grupo seguiu pela avenida Brasil, até o fórum no centro da cidade.
Com pedidos de ‘justiça’ e fazendo referência à lei Maria da Penha, as mulheres protestaram por mais de uma hora. Um grupo foi recebido pela delegada Daniela de Oliveira, que informou sobre o andamento do caso e disse que todas as providências estão sendo tomadas. “Realizamos diligências e o advogado do acusado já entrou em contato conosco se comprometendo em apresentá-lo nos próximos dias. Vamos aguardar a apresentação” comentou.
Representante do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim), Márcia Carbonari, revelou que os protestos vão continuar até que o acusado seja punido. A partir desta terça-feira, as Mulheres da Paz prometem iniciar uma vigília permanente em frente ao fórum. Os grupos devem se revezar em escalas de duas horas diárias. A primeira delas será das 14 às 16 horas. “ A morte de Silvia é mais uma prova dessa cultura machista. Isso precisa ter um fim. Ela não pode ser apenas mais uma na estatística deste feminicídio das mulheres. Queria apenas defender a filha e acabou sendo assassinada desta forma” protestou.
Liderança
Moradora do bairro Jaboticabal, Eliane Dias, 31 anos, passou a conviver com Silvia a partir do projeto Mulheres da Paz. Companheira de grupo, os quatro meses em que atuaram juntas, foram suficientes para reconhecer as qualidades da colega. “Era uma companheira cativante, sempre pronta para ajudar. Apesar dos problemas, era muito disposta e bem humorada ” lembrou emocionada.
Para as integrantes da comissão multidisciplinar responsável pela coordenação do Mulheres da Paz, Silvia já era uma liderança muito antes da chegada do projeto. “Tanto que havia assumido a presidência do bairro, no lugar do presidente eleito, que se afastou para concorrer a vereador. Ela devolveu o cargo na semana passada” lembrou a educadora Valda Maria Belitzki.
Capacitada para prevenir e denunciar situações de violência doméstica contra a mulher, Silvia enfrentava o problema dentro da própria família. O relacionamento conturbado da filha com o genro já se arrastava havia pelo menos sete anos. Um conflito que ela comentava com as colegas, e do qual acabou sendo vítima. “O que ela tentava evitar na casa dos outros, aconteceu justamente com ela” lamentou Eliane.
Em março deste ano, a família já havia registrado duas ocorrências de lesões corporais e ameaças contra o jovem. Uma delas na Delegacia da Mulher e outra na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, pelo fato de ele ter agredido a própria filha, de apenas quatro anos, e o cunhado, menor de idade.
Entrevista – Franciele Miranda
“Minha mãe morreu tentando me salvar”
A jovem Franciele Miranda, 19 anos, participou dos protestos na manhã de ontem. Em entrevista ao ON, ela relatou o relacionamento conturbado que mantinha há pelo menos sete anos com o acusado.
ON – Vocês estavam juntos há sete anos, as agressões eram frequentes?
Franciele Miranda – Sim, ele sempre me bateu. Chegava de madrugada, me acordava e me batia. Teve uma vez que me agrediu com uma faca na cabeça, eu desmaiei e fui medicada.
ON – Esses fatos já haviam sido denunciados à polícia
Franciele Miranda – Fizemos registros de ocorrência. Ele me ameaçava muito. Dizia que seu eu não fosse dele, não seria de mais ninguém.
ON – E no dia do crime, o que aconteceu?
Franciele Miranda – Eu estava separada dele há duas semanas. Estava morando com minha mãe. Fui até a casa, que fica perto, buscar o remédio para minha filha e ele estava lá. Quando abri a porta do armário, minhas roupas estavam todas cortadas, picadas. Me deu um desespero. Minha mãe foi até lá ver o que estava acontecendo.
ON – Eles discutiram?
Franciele Miranda – Sim, discutiram, ele pegou um canivete, acho que era canivete, e saiu atrás dela. Na frente da casa, minha mãe resvalou e caiu, então foi atingida no peito. Me tranquei em uma peça com minha filha. Minha mãe foi me salvar e acabou morrendo. Quero que seja feita justiça. Isso não pode ficar assim.
Mulheres da Paz protestam por morte de colega
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