Por Angela Prestes e Clarissa Battistella
Estagiárias NEXJOR – AGECOM/UPF
Poluição. Degradação. Destruição. O ser humano, nas últimas décadas, está tão acostumado a ouvir essas palavras que já nem dimensiona o impacto dessas ações. Uma notícia de que mais uma área de floresta foi desmatada, ou que mais uma queimada aconteceu em determinado local, já se tornou algo corriqueiro. Segundo o IBGE, o desmatamento em grande escala já chega a 46% das matas primitivas da Terra. Dos 62.200.000 Km² de florestas originais, somente 33.400.000 ainda cobrem a superfície do planeta. Por ano, cerca de 170 mil Km² de mata simplesmente desaparecem, e a principal forma de desmatamento são as queimadas de grandes áreas para o cultivo da agricultura e a prática da pecuária. A comercialização da madeira, a expansão dos centros urbanos, a construção de estradas e o extrativismo de interesse econômico são outros importantes fatores que levam à devastação.
Segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), o Brasil é o recordista no mundo em desmatamento. Todo ano são desmatados somente na Amazônia em torno de 15 mil Km² de floresta. Assim, falar sobre sustentabilidade nos dias de hoje é quase um clichê.
Da mesma forma que o desmatamento e as queimadas, a poluição do ar e o lixo são assuntos que invadem o cotidiano das pessoas todos os dias. Há anos o rio Passo Fundo vem sendo pauta de muitos veículos de comunicação. O lixo – que várias vezes acumula em seu leito – é mostrado à população como uma prova palpável de que o problema precisa ser resolvido. Ver num jornal estampada a foto de garrafas pet, sacolinhas e inúmeros outros objetos degradando as águas do rio não deveria ser algo comum, mas ainda é.
As consequências
Já esteve pior, mas a poluição continua. Ao lado do Bourbon Shopping, por exemplo, onde o rio passa, há lixo acumulado, que causa inúmeros problemas. O primeiro deles é o efeito físico dos resíduos. Segundo a bióloga e professora da Universidade de Passo Fundo, Carla Tedesco, “o lixo depositado não deixa o rio correr e isso constitui um problema, como foco de doenças, de larvas de mosquitos, com riscos de produção de parasitas indesejáveis.” Mas não é apenas a água parada que acarreta problemas. “Junto com isso, a matéria orgânica que entra, como restos de comida e fezes, acaba criando uma fonte orgânica para as bactérias”, ressalta Carla. Quando isso ocorre, essas bactérias consomem oxigênio da água utilizado por outros animais que habitam o rio. A consequência imediata é que não é possível os peixes sobreviverem, pois são organismos maiores e precisam de mais oxigênio. “Eles são os primeiros a ter problemas. Mas, se diminuem os peixes, fica com uma comunidade muito restrita, basicamente relacionada aos decompositores de matéria orgânica, e isso afeta a cadeia ecológica”. É aí que o rumo natural é afetado e ocorre a simplificação dos sistemas. Os micro-organismos que degradam a matéria orgânica, algas, zooplanctom e demais espécies que ali vivem, como microcrustáceos e pequenos insetos aquáticos, acabam morrendo em consequência da poluição.
Isso é o que acontece dentro do rio, mas os problemas acabam indo além. As pessoas são atingidas direta e indiretamente, visto que a água parada é fonte de diversos patógenos. Conforme a bióloga, “um contato com essa água pode ocasionar diversas afecções de pele por conta da contaminação”, e indiretamente, pelo cheiro e pela poluição visual.
Muitas tentativas de recuperação do rio já foram feitas. O primeiro tenente do 3º Batalhão Ambiental da Brigada Militar de Passo Fundo, Joceli Moreira de Melo, explica que, em dezembro do ano passado, foi feita uma inspeção nas imediações da Embrapa e na confluência com o rio Miranda, onde se constatou um grande acúmulo de resíduos sólidos, que permaneceram presos nas taquaras formando uma ilha de aproximadamente 100 metros. Também foi constatado que, nas margens do rio, ficaram resíduos de lixo espalhados numa extensão de aproximadamente de 500 metros, retirados no início de 2012. Ainda neste ano, cerca de 120 pessoas, entre Corpo de Bombeiros, Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Batalhão Ambiental da Brigada Militar, Defesa Civil, grupos ecológicos e empresas parceiras realizaram um mutirão para, mais uma vez, limpar o rio Passo Fundo. Foram subtraídos cerca de 18 toneladas de resíduos dentro do perímetro urbano, numa extensão de 3,9 quilômetros.
Numa tentativa de amenizar ainda mais a delicada situação do rio, foram plantadas 120 mudas de árvores em suas imediações.
Há chance de recuperação?
E água poluída pode ser recuperada? Isso depende de vários aspectos, para Tedesco. “Talvez essa água possa se recuperar um pouco, talvez não, depende da vazão. Quando a carga é orgânica, ela pode se recuperar totalmente. Agora, quando os poluentes são químicos, quando são jogados antibióticos, metais pesados, eles são de longa duração, e a recuperação é muito difícil.” O rio Passo Fundo tem foz no rio Uruguai e o tempo que leva para percorrer esse caminho é essencial para a sua recuperação. Contudo, para isso é necessário que, até chegar lá, ele não receba outras cargas de poluentes, o que dificilmente acontece.
Todos já estão cansados de saber a solução para o problema da poluição. Se o lixo está lá foi porque alguém o colocou nesse lugar. Falta o quê? Consciência de que essa água, que hoje já não se recupera mais, fará falta algum dia.
Rio Passo Fundo: Retrato do descaso
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