A tradição de comer carne suína no ano novo para atrair boa sorte faz a procura e, consequentemente, os preços pagos pelo produto aumentarem. Mesmo ficando mais caro para o consumidor final, o valor pago aos criadores não cresce na mesma proporção. Mesmo assim, a melhor remuneração no final deste segundo semestre deve amenizar a crise enfrentada pelo setor com o aumento dos custos de produção durante o ano.
O presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS) Valdecir Luis Folador explica que o aumento da demanda por carne suína é comum no segundo semestre de todos os anos, principalmente no mercado interno. No entanto não há dados precisos sobre o aumento do consumo nesse período. Ele esclarece que o aumento é verificado tanto por um pequeno crescimento nos abates – já que os frigoríficos mantém um volume praticamente constante -, mas principalmente pela diminuição dos estoques. Tudo isso resulta na valorização do produto.
Mais caro
Neste ano, outro fator contribui para deixar a carne suína mais cara. A elevação do custo de produção em função da valorização do milho e da soja, principais componentes da alimentação dos animais, é um deles. “Os preços vêm se elevando desde o início do segundo semestre de forma mais intensa para cobrir esses custos e com a demanda aumentada a tendência é termos preços maiores para o consumidor”, acrescenta. Os preços pagos aos produtores também aumentaram um pouco, mas ainda não o suficiente para garantir uma margem de lucro adequada.
Folador destaca que o valor pago aos produtores serve para cobrir os custos de produção, mas não para um rendimento suficiente. “Hoje o produtor comercializa o quilo do suíno vivo entre R$ 2,90 e R$ 3,00. Para ser um preço considerado bom ele teria de estar no mínimo em R$ 3,50 o quilo para pagar o custo e deixar margem satisfatória”, compara o presidente da ACSURS.
No primeiro semestre o produtor trabalhou com prejuízo em função do aumento do custo da produção. Embora o consumidor esteja pagando a mais, esses valores ficam em vários elos da cadeia e quase não chegam aos criadores. De acordo com ele, a situação não é diferente tanto para criadores integrados ou independentes. “O integrado recebe um valor praticamente fixo com poucas variações durante o ano. E para o que não é integrado ele trabalha as variações do mercado”, compara. Hoje no Rio Grande do Sul, cerca de 7 milhões de suínos são abatidos todos os anos.
Reação dos preços
O suinocultor de Passo Fundo Mario Piccinini trabalha na atividade há 16 anos. Ele é integrado a uma empresa com abatedouro em Santo Ângelo e conta que o lote entregue no mês de outubro teve rendimento de R$ 2,50 o quilo. Já para os animais entregues na semana passada, a expectativa é receber R$ 2,80 o quilo. Segundo ele por ser integrado ele sentiu a crise de forma diferente dos suinocultores independentes, já que a empresa cobre parte dos custos de produção.
Em Tio Hugo, o criador Luiz Rodrigues há um ano trabalha de forma integrada. Ele observa que no final do ano, geralmente de novembro até no máximo fevereiro, há um aumento no valor pago aos produtores em função da maior demanda. Neste ano, porém, ele espera que o período de melhor remuneração se estenda até março ou abril já que a oferta do produto teve uma queda significativa durante o ano.