A campeã das infrações

Quase 80% das multas aplicadas no Estado por parar o veículo sobre a faixa de pedestres acontecem em Passo Fundo. Mudança na legislação aumenta rigor na fiscalização, dobrando as infrações e reduzindo acidentes envolvendo motociclistas

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Um ato tão simples e obrigatório pelo Código de Trânsito Brasileiro, como não parar sobre a faixa de pedestres ainda é ignorado pelos motoristas passo-fundenses, o que revela um comportamento diferenciado no trânsito na cidade, mas também um maior rigor na fiscalização. A segunda maior violação cometida em Passo Fundo totalizou mais de 11,6 mil multas em todo o ano passado, o que representa 14,7% do total registrado na cidade. Mas o mais surpreendente é que este número representa 78,8% do total registrado da mesma infração em todo o Rio Grande do Sul. O problema é revelado em um balanço do Detran/RS sobre as multas de trânsito aplicadas no ano passado.

No município, essa infração aumentou 8,5% entre 2011 e 2012. No Estado, a mesma imprudência representou apenas 0,65% do total das multas, ficando na 16ª posição do ranking e totalizando 14.735 (dados preliminares até dezembro). Da mesma forma, mais de 11% das multas aplicadas no Estado por avançar o sinal vermelho também aconteceram em Passo Fundo. Do total de 85.040 das infrações cometidas Rio Grande do Sul no ano passado, 9.420 foi registrado aqui. No ranking estadual, avançar o sinal vermelho é a 7ª mais freqüente e em Passo Fundo é a terceira.

135 multas diárias

Um dos motivos para a grande quantidade das multas é que na cidade há radares especiais que detectam carros parados sobre a faixa de pedestres quando o semáforo está vermelho. Além disso, os equipamentos também registram o avanço no sinal vermelho e o excesso de velocidade. No total, estas três infrações juntas somaram na cidade uma média de quase 135 multas diárias. Para o secretário de segurança, Gilmar Lopes, este dado revela a falta de conscientização tanto dos motoristas quanto dos pedestres. “É uma absoluta falta de respeito do condutor em respeito a legislação em si. Além disso, revela uma falta de preparo por parte dos pedestres no sentido de que se ele utilizar corretamente faixa de segurança estará enaltecendo, cada vez mais, aquele local destinado para ele. Se eu respeitar, todos vão consequentemente respeitar. Esta disparidade de comportamentos leva ao descaso tanto de um, como de outro e, consequentemente o conflito vai existir”, analisa.

O Diretor Técnico do Detran/RS, Ildo Mário Szinvelski, explica a importância da aplicação das multas e vê de forma positiva os equipamentos eletrônicos que dão mais rigor na fiscalização das normas de trânsito. “Em Passo Fundo, o olho eletrônico, através das lombadas e semáforos eletrônicos, tem como objetivo mudar comportamentos e permitir que o condutor do veículo, cumprindo a Lei, ou seja, não cometendo nenhuma infração de trânsito, não se envolverá em acidentes de tráfego”, afirmou.  Szinvelski complementa: “o infrator tem que fazer uma profunda reflexão porque aquele espaço (faixa de segurança) é do pedestre. O ato de dirigir é muito sério, exige respeito em especial com os mais vulneráveis – pedestres, ciclistas e motociclistas”, explicou.

Em 2012, as três infrações mais cometidas - exceder a velocidade, parar o veículo sobre a faixa de pedestres e avançar o sinal vermelho - somaram na cidade uma média de quase 135 multas diárias.

Acima do limite

Outro dado revelador é que os motoristas de Passo Fundo não estão preocupados em cumprir com os limites de velocidade. Enquanto o total de todas as infrações na cidade subiu 8,5% entre 2011 e 2012, os flagrantes do excesso de velocidade aumentaram 28,6%%. Conforme o levantamento, o volume de multas saltou de 19.952 para 27.960 entre 2011 e 2012. No Estado, essa mesma infração caiu pouco menos de 1%. No ranking do Rio Grande do Sul, a maioria das multas é aplicada por excesso de velocidade (37,7% do total). Em Passo Fundo, a infração representa 35,4% do total em 2012.

Ainda de acordo com o Detran, em Passo Fundo foram aplicadas 78.953 multas entre janeiro e dezembro – média de 214 autuações por dia - sendo que 27.960 são por exceder a velocidade. Os dados abrangem não somente a área urbana, onde estão instaladas as lombadas e sinaleiras eletrônicas, como também nas rodovias que cortam a cidade.

Ranking das campeãs

Infração               Multas em PF    Multas no RS     

Excesso de velocidade   27.960 (1º)          781.200 (1º)       

Parar veículo sobre a faixa de pedestres               11.614 (2º)          14.735 (16º)

Avançar sinal vermelho ou parada obrigatória     11.614 (3º)          85.040 (7º)

Estacionar em local indevido       6.887 (4º)             158.107 (3º)

Conduzir o veículo com características alteradas                5.259 (5º)                             223.563 (2º)

Dirigir com fone/calçado irregular/incapacidade 3.370 (6º)                             84.853 (8º)

Ultrapassar pela contramão em local indevido    2.306 (7º)             47.262 (10º)

Sem cinto de segurança                1.919 (8º)             111.994 (4º)

Entregar, dirigir, permitir direção a pessoa sem documento de habilitação regular             1.674 (9º)             44.099  (11º)

Conduzir motocicleta sem equipamentos obrigatórios    1.148 (10º)          27.423 (13º)

Acidentes com motos reduzem 24%

Apesar do aumento na frota de veículos circulando pelas ruas, o número de acidentes não aumentou no ano passado. Segundo o levantamento parcial da Guarda de Trânsito da Prefeitura, em 2011 foram registrados 2.504 acidentes, contra os 2.490 ocorridos entre janeiro e novembro de 2012. Os homens ainda lideram as estatísticas. Do total de 5.046 pessoas envolvidas em ocorrências, 75% eram do sexo masculino, contra 19% de mulheres. Em outros 4,5% dos casos não foi possível identificar os envolvidos.

Outro dado positivo é que houve uma queda de 24% no número de acidentes envolvendo motociclistas. O motivo para a redução pode ter sido o uso de equipamentos obrigatórios, que passou a ser obrigatório a partir de 4 de agosto do ano passado, conforme a Resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) nº 356/10. Em 2011, foram 268 ocorrências, contra 203 registradas até novembro de 2012. Mas em contrapartida, aumentou o rigor na fiscalização e com isso praticamente dobrou o número de multas registradas por conduzir motocicleta sem equipamentos obrigatórios. O volume de multas saltou de 776 para 1.148 no período analisado. “Em Passo Fundo podemos observar grandes mudanças, que são diretamente proporcionais, ou seja, aumentou o rigor, a fiscalização, o número de multas, mas também reduziu sensivelmente o número de acidentes”, analisou o diretor do Detran.

“Quando se aumenta a fiscalização, automaticamente se reduz o número de acidentes, de mortes e das tragédias. Sendo assim, a conclusão que podemos chegar sobre Passo Fundo é que a redução da acidentalidade foi proporcional a intensificação da fiscalização”.

Ildo Mário Szinvelski, Diretor Técnico do Detran/RS.

Acidentes

Tipo de ocorrência           2011       2012       Variação

Total de acidentes           2.504     2.490*   - 0,5%

Número de condutores do sexo masculino          3.918     3.825*   - 2,4%

Número de condutores do sexo feminino            958         992*      + 3,4%

Número de motociclistas envolvidos       268         203*      - 24%

* Dados preliminares, referente as ocorrências registradas entre janeiro a novembro de 2012.

Balada Segura

Desde setembro, pelo menos cinco motoristas são flagrados por dia dirigindo sob efeito de álcool ou entorpecentes em Passo Fundo. A frequência dos flagrantes fez com que crescesse em 72,4% as multas no período em que aumentou o cerco das autoridades, através da Operação Balada Segura. Segundo o levantamento, que inclui os motoristas que se negam a soprar o bafômetro, no ano passado foram 173 flagrantes. O diretor de Detran explica os objetivos da operação. “A redução da acidentalidade se torna eficaz com a operação Balada Segura. Para o Detran, a morte de uma pessoa no trânsito é uma violência evitável. Não vamos mais aceitar que o outro coloque a vida das pessoas. Nós não consideramos as infrações simplesmente como uma estatística e sim como um tratamento técnico com objetivo de mudar o perfil dos motoristas. Nós vamos chegar a um dia onde o motorista vai ter vergonha de exceder a velocidade, de não usar o cinto de segurança e de beber e dirigir no espaço público”, concluiu.

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