A região de Passo Fundo produz anualmente cerca de 14 mil toneladas de uva de diversas variedades. Neste ano, porém, problemas com geadas tardias deverão ser responsáveis por uma diminuição de até 30% na produção. A qualidade dos frutos a serem colhidos, no entanto, deverá agradar os produtores de vinho e de suco. Com o calor as frutas apresentam boas concentrações de açúcar o que é benéfico à indústria vinícola. Enquanto em alguns locais as perdas foram pequenas, em algumas propriedades o prejuízo pode ser de 95%. Produtores já acionaram o Pró-Agro e outros esperam a finalização dos laudos para encaminhar o pedido do seguro.
Nos municípios abrangidos pela Emater Regional de Passo Fundo são cultivados entre 1,2 e 1,3 mil hectares de videiras. A maior parte delas encontra-se em pequenas propriedades com áreas não muito superiores a um hectare. Conforme o engenheiro agrônomo Ivan Guarienti as principais variedades cultivadas são as para fabricação de vinhos coloniais como niágara, bordô e isabel, além de alguns tipos de uvas finas. “A região é tradicional consumidora de vinhos comuns”, observa.
Perda
O vitivinicultor Eugenio Carlos Trento, da localidade de Cahcoeirão, em Marau, deve ter uma perda de 95% na produção de uva nesta safra. Acostumado a colher em média 100 toneladas da fruta na área de 5,7 hectares, neste ano a produção deve ser de aproximadamente 5 mil quilos. A geada de setembro do último ano foi a responsável pelo prejuízo. Em áreas onde foi feita a repoda o desenvolvimento está com um atraso de 20 a 25 dias em relação ao ciclo normal. Ele espera a confecção do laudo pelos técnicos da Emater para ativar o Pró-Agro. “No ano passado tivemos uma safra excelente em qualidade e produtividade. Foram colhidos 115 mil quilos de uva”, lembra. Parte da safra é utilizada para a produção de vinho artesanal e outra vendida a uma empresa para a produção de suco. A maior parte do trabalho é feito pela própria família, apenas na época da colheita contrata mão-de-obra de fora.
Produção focada
A Vinícola Don Abel no município de Casca estima uma queda de 15 a 20% da produção de uvas nesta safra em função da geada tardia que atingiu as parreiras. Mesmo assim, o clima colaborou e as uvas produzidas em vinhedos próprios estão com excelente qualidade conforme considera o proprietário Sérgio de Bastiani. Ele observa que o inverno ameno e as altas temperaturas de dezembro e do início de janeiro anteciparam a maturação em média em 20 dias. A variedade tannat, por exemplo, que geralmente é moída na metade de fevereiro, já deverá ser processada na próxima semana. Da mesma forma, a merlot deve ser processada no início de fevereiro, quando o ciclo normal seria para o final de fevereiro.
Com o mercado focado na produção de vinhos finos diferenciados e a produção em pequenas quantidades, a Don Abel tem como meta processar 40 mil garrafas nesta safra. Entre as variedades cultivadas em vinhedos próprios estão a tannat, merlot, chardonnay e cabernet sauvignon. No último ano, os vinhos produzidos na vinícola foram destaque no ranking “Os melhores vinhos do novo mundo”, do Jornal Valor Econômico; e na Revista Baco – Os melhores vinhos do Brasil.
Colheita
Na região de Sarandi e Barra Funda a colheita das uvas das variedades niágara branca e rose está sendo iniciada. Já nas áreas plantadas próximas ao município de David Canabarro os frutos devem começar a amadurecer nas próximas duas semanas. Para as variedades bordô e isabel a colheita deve ser iniciada apenas a partir de fevereiro. “A qualidade está boa, o que houve foi quebra devido às geadas tardias. Quando você tem calor e seca aumenta a graduação de açúcar nas uvas”, observa Ivan Guarienti da Emater. Quando a uva apresenta um bom teor de açúcar não há a necessidade de acrescentar açúcar de cana ou álcool vinílico para aumentar a graduação alcoólica do vinho e consequentemente melhora a qualidade e a durabilidade.
A região mais prejudicada com as geadas fica na região de Sarandi e Barra Funda. Já na região de David Canabarro, como é mais fria, a brotação inicia mais tarde o que diminuiu a intensidade dos danos.
Área
Guarienti esclarece que há alguns anos houve um aumento significativo na implantação de pomares na região, mas que agora está estabilizado. Anualmente há a implantação de 100 a 120 hectares que praticamente repõem os pomares velhos. “Temos uma produção e uma área plantada praticamente estabilizadas na região. Você atinge um teto de consumo e o mercado equilibra a produção. E a ampliação de pomares se deve muito a mão-de-obra também que é escassa no meio rural. Com isso a viticultura é uma atividade praticamente familiar”, esclarece. Guarienti destaca ainda que os preços de comercialização desta safra ainda não estão estabelecidos. No entanto, a produção de uva e vinho é uma boa fonte de renda aos agricultores o que garante que poucos deles saiam da atividade.
Incentivo
Nesta semana foram definidos também os detalhes para a assinatura de convênio de cooperação, que formalizará o repasse de recursos do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura do Rio Grande do Sul (Fundovitis) para o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). O encontro aconteceu na sede Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa), que integra o Conselho Deliberativo do Fundo.
De acordo com o secretário em exercício da Agricultura, Claudio Fioreze, para o próximo ano serão transferidos R$ 10,1 milhões para o Ibravin, conforme o plano de trabalho aprovado pelo Conselho Deliberativo do Fundovitis, em dezembro do ano passado. Serão executados sete projetos para atingir 19 metas. "Isso se tornou possível graças ao aumento do repasse dos recursos arrecadados pelo Fundo, que foi de 25% para 50%, por meio da Lei 13.911, sancionada pelo governador Tarso Genro em 11 de janeiro de 2012", explicou.
Entre os projetos destacam-se a promoção e comunicação, no valor de R$ 5,8 milhões; recuperação de regiões deprimidas para assistência técnica e enológica em convênio com a Emater, no valor de R$ 2,4 milhões; projeto Cadastro Vitivinícola, no valor de R$ 650 mil; projeto Manutenção do Laren - Laboratório de Referência Enológica, no valor de R$ 875 mil, entre outros.