No último final de semana, a Dia Indústria da Arte realizou junto a barragem do Capinguí em Mato Castelhano, o 1º Retiro de Imersão Teatral. A atividade faz parte da comemoração dos dois anos do grupo e reuniu crianças, adolescentes e adultos para dois dias de oficinas teatrais.
No início de janeiro de 2011, depois de formados em Produção Cênica, pela Universidade de Passo Fundo, Iussen Seelig, Felipe Lemos, Franciele Lopes e Toni Campos perceberam que a cidade de Passo Fundo necessitava de algo mais no que diz respeito ao teatro. Com o fim do CST na Universidade, a alternativa foi tornar o teatro próximo – de quem faz e de quem vê.
Para fazer isso, no entanto, não é preciso muito - um professor, alguns alunos, um texto. Logo, uma cena toma forma, uma interpretação ganha sentido e, para quem assiste, a intensidade fica por conta da realidade que, no rosto de cada ator, estampa a própria vida. Para a Dia Indústria da Arte é preciso apenas paixão.
Sem muitos recursos financeiros e estruturais, o grupo de teatro fez o que pôde para chegar, nesse mês, aos dois anos de atuação. O pontapé inicial para que a Dia passasse de uma ideia para uma companhia, de fato, se deu quando Iussen Seelig estagiou, ainda como aluno, em uma instituição social nos bairros carentes da cidade. Apesar de ministrar oficinas de teatro para crianças e adolescentes, ele percebeu que muitas delas, além de nunca terem assistido uma peça, não sabiam o que era teatro e, ainda assim, participavam. "Nessa época percebi que a noção de teatro das crianças e jovens era muito rasa. Muitos nunca tinham assistido uma peça de teatro, era como se um aluno de canto nunca tivesse ouvido uma música. Então a primeira coisa que eu fiz foi levar esses alunos assistir espetáculos teatrais profissionais. E muitos ficaram encantados”, lembra Iussen.
Da plateia para os palcos: as crianças, depois de assistir e entender como funciona o teatro, começaram a participar das oficinas e viraram atores. As experiências impulsionaram a criação do grupo de teatro e, hoje, o vínculo com a comunidade é a característica principal da Dia. Todo o trabalho resulta em dois anos de progresso: a participação e alcance da companhia ultrapassa as 2000 pessoas, entre crianças, jovens e adultos.
A preocupação da companhia vai muito além de simplesmente interpretar. A atuação acontece junto às escolas, através de oficinas sobre teatro e corporalidade: a intenção é que o ator entende o que faz e o porquê faz. Em cada encontro são trabalhados aspectos como voz, estéticas teatrais, história do teatro, dança e diferentes técnicas que são ensinadas na faculdade. Estruturada em cima de quatro eixos – ser uma companhia teatral; teatro-educação e formação teatral, produção cultural e pesquisa teatral – o grupo não apenas ensaia e apresenta peças, como pesquisa novas técnicas e, também, formas de agir e do fazer teatral. “Percebi que ao contrário de que algumas pessoas das escolas, as crianças queriam ir além das apresentações de datas comemorativas (como é feito, geralmente) e ir mais fundo na pesquisa do teatro e muitos tinham vontade de levar isso como profissão”, destaca Iussen.
O retiro do final de semana só confirma que o trabalho da Dia está dando certo. Além de disseminar a arte, contribui para a efervescência do cenário teatral na cidade: além de grupos profissionais, as escolas estão atuantes e capazes de interagir com tais grupos. O objetivo do encontro que aconteceu foi, segundo Iussen, dividir com a comunidade regional um pouco da pesquisa teatral. Em pouco mais de um dia, os inscritos participaram de oficinas sobre a história do teatro, corporalidade e música com os integrantes do grupo e, ainda, com o ator e músico Carlinhos Tabajara e o instrumentista Maikon Ubertii.