A falta de planejamento e gestão do Hospital Municipal Dr. César Santos em sua totalidade, além de um déficit de arrecadação que gira em torno de 50% para suprir os gastos foram algumas questões pontuais levantadas durante o Fórum: pensando o Hospital, realizado na manhã desta quinta-feira. O Fórum foi criado por determinação do prefeito Luciano Azevedo e objetiva debater amplamente com a sociedade soluções para a instituição. O principal desafio é fazer com que a instituição tenha status de hospital. “Lançar um olhar coletivo para apurar a realidade do Hospital. É isso que queremos! Pedimos que os representantes que aqui vieram conheçam e vivenciem esta situação para termos um norte, um caminho para recuperar a instituição e de fato tornar-lá um hospital”, frisou o diretor Fabiano Bolner. A declaração do diretor se refere à inexistência de uma maternidade e da internação pediátrica, o que descaracteriza a instituição do enquadramento técnico acerca dos serviços que um hospital com capacidade completa deve prestar à comunidade.
Para o secretário de Saúde, Luiz Artur Rosa Filho, existem dois problemas centrais: um de caráter operacional e outro econômico. “Há uma insuficiência operacional, não são prestados os serviços que potencialmente poderiam ser prestados. Isto repercute na emergência dos outros dois hospitais e no atendimento primário que não dá vazão a tanta demanda. Ainda, o Hospital não cumpre com as necessidades econômicas. Mensalmente se arrecada R$ 450 mil e se gasta R$ 750 mil. Esses R$ 300 mil são deficitários e saem dos cofres municipais”, ressaltou o secretário.
Como uma instituição pública, o Hospital não tem dívidas em investimentos, mas tem dívidas de custeio para manter sua funcionalidade. Além da contrapartida de R$ 250 mil do município, há o repasse de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e do Governo do Estado para questões específicas, competentes aos serviços subsidiados pelo Estado. Segundo a direção, cerca de R$ 50 mil foram despendidos pelo Plano Diretor, mas este montante foi utilizado para modificações que não passaram pela avaliação da equipe de trabalho do Hospital. “O primeiro relatório que recebemos no início de janeiro apontava uma dívida de R$ 778 mil porque não houve o repasse da Prefeitura e ainda houve dificuldade do repasse do Estado. Foram por estas questões que encontramos este valor, mas esta dívida se dá pelo seu custeio, pois não há investimentos sendo feitos”, finalizou Bolner.
Capacidade comprometida
Atualmente, o Hospital Municipal Beneficente Dr. César Santos possui 86 leitos cadastrados, mas opera com 47 leitos. Ainda, não há maternidade e atendimentos de maior complexidade na pediatria, apenas o Pronto Atendimento Pediátrico com salas de observação.
Os leitos cirúrgicos também estão reduzidos, de quatro, dois funcionam, sendo um com algumas dificuldades. Já a taxa de internação fica em torno de 33%, quando não abaixo de 20% do quadro completo. Resquícios de um antigo laboratório farmacêutico, resíduos químicos e a estrutura física do almoxarifado preocupam a direção. Remédios estão alojados indevidamente, próximo a tintas de impressoras e caixas empilhadas em um local sem ventilação e inadequado. Alguns aparelhos também apresentam problemas, como dois aparelhos de raio-x de 1970, que necessitam de manutenção frequente.
Medicamentos
No ano passado, 26 mil medicamentos venceram devido à baixa no número de internações. Dentre outros apontamentos, também existe uma ala de leitos hospitalares totalmente desativada, em que os quartos servem como depósito de material. “Nós achamos um monitor fetal fechado, sem patrimônio e que poderia ter sido descartado com outros produtos que iriam para o lixo. Precisamos de um planejamento estratégico para que esta situação seja revertida e para que o Hospital cumpra com o seu papel”, ponderou Bolner.
Audiência Pública
Um encontro será marcado após o feriado de Carnaval para dar início às discussões sobre novas ações em benefício do Hospital Municipal. O tempo até a audiência pública permite que todas as instituições parceiras conheçam a realidade do espaço e acessem relatórios com informações importantes.
Por iniciativa de integrantes da Conferência Municipal de Saúde, foi sugerido que a audiência funcione como um pré-conferência temática, para o assunto ser levado aos debates da conferência municipal. As medidas projetadas devem ser a médio e longo prazo, com um planejamento e execução de ações que projetem o futuro do Hospital.
Estavam presentes representantes de inúmeras entidades. Além da direção do Hospital Municipal e da Secretaria de Saúde, compareceram integrantes do Conselho Municipal de Saúde (CMS); Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (CREMERS); Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (COREN); União das Associações de Moradores de Passo Fundo (UAMPAF); Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS); Ordem dos Advogados do Brasil Passo Fundo (OAB/PF); Hospital São Vicente de Paulo (HSVP); Hospital da Cidade (HC); Universidade de Passo Fundo (UPF); Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS); Faculdade Meridional (IMED); Ministério Público (MP); Câmara de Vereadores; 6ª Coordenadoria Regional de Saúde (6ª CRS); e Secretaria de Planejamento (Seplan).