Compromisso pela educação e segurança das crianças atendidas, são os principais fatores que norteiam a determinação em não utilizar andadores nas escolas de educação infantil de Passo Fundo. Há vários anos o equipamento não é utilizado na rede municipal de educação, o que obteve maior respaldo quando da recomendação emitida pelo Ministério Público no ano de 2009.
De acordo com o secretário municipal de Educação, Edemilson Brandão, o fato de Passo Fundo contar com uma classe médica forte e atuante é um dos principais fatores que fez com que o município fosse tomado como exemplo na campanha nacional. “Essa é uma discussão antiga no município não só entre os médicos, mas entre os educadores. Temos aqui um Fórum de Educação Infantil que debate temas importantes e uma faculdade de Educação com muitos anos de atuação que dão ênfase à educação de qualidade. Seria até uma incoerência usar este equipamento que vai contra o pleno desenvolvimento da criança”, salienta.
Entre as escolas particulares de educação infantil, a Redação fez contato com 10 instituições, que afirmaram não fazer o uso dos andadores. A maioria, inclusive, condena o uso do equipamento por questões de segurança e por prejudicarem o desenvolvimento dos bebês que “ainda não têm a postura e a força adequadas para usar andadores”, comenta uma das professoras. Outra afirmação foi com relação aos prejuízos no desenvolvimento e da vivência de cada fase, uma vez que a maioria das crianças que usa andador acaba não engatinhando ou o faz por um período muito curto de tempo.
Acidentes
As quedas são os acidentes que representam a principal causa de internações de crianças e adolescentes nos hospitais brasileiros, segundo o Ministério da Saúde. Dados da ONG Criança Segura mostram também que entre os principais causadores de quedas em bebês estão os móveis, as escadas e os andadores. Segundo a ONG, que trabalha na conscientização para a segurança de bebês, crianças e adolescentes, os andadores são responsáveis por mais acidentes que qualquer outro produto infantil destinado a crianças, sendo que quedas de escadas e tropeços quando em uso do equipamento resulta a maior parte das lesões registradas nos acidentes.
Foi para prevenir que fatos como estes com andadores continuem se repetindo pelo país que a Sociedade Brasileira de Pediatria deu início este mês a uma campanha nacional para evitar o uso desse produto e para proibir a comercialização em todo o Brasil. O mote da campanha partiu do recente caso de um bebê baiano de dez meses que caiu de uma altura de dez degraus quando estava usando um andador e teve uma fratura cervical, chegando já sem vida ao hospital.
Somado a isso, a pediatra Claudia Lima Campodônico Fonseca, do Espírito Santo, fez uma sugestão à SBP para a elaboração de uma campanha neste sentido, quando fez o relato em forma de denúncia de um caso em que uma criança de um ano e meio caiu da sacada de um prédio, de uma altura de cerca de dois metros quando fazia uso de um andador. Apesar de ter sofrido traumatismo craniano, a criança passa bem, mas poderia ter tido resultado semelhante ao ocorrido na Bahia.
Em Passo Fundo, um caso que aconteceu em 2009, com um bebê que caiu de uma escada e foi atendido pelo pediatra Rui Wolff foi o estopim para que o Ministério Público instaurasse inquérito e emitisse recomendação para que os andadores não fossem utilizados em escolas, hospitais e abrigos. Depois de atender a criança, Wolf fez uma reclamação ao MP, que verificou a necessidade de desencadear um trabalho preventivo, com o objetivo de evitar prejuízos ao desenvolvimento motor e acidentes com bebês e crianças, decorrente da utilização de andadores.
Recomendações
Dentro da campanha, o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Eduardo Vaz, listou seis recomendações aos médicos pediatras no país. Confira.
1) Inclua na orientação antecipatória das consultas de puericultura, a partir do período neonatal, a contraindicação enfática ao uso de andadores.
2) Recomende que todas as famílias leiam a posição da SBP, disponível no site “Conversando com o Pediatra”.
3) Para as famílias que começarem a consultar com bebês que você não acompanhou desde o nascimento, pergunte se possuem andador e, em caso positivo, recomende a sua destruição.
4) Certifique-se de que não há andadores nos seus locais de trabalho, como hospitais e creches.
5) Envolva-se na divulgação em todos os meios de comunicação dos riscos do uso de andadores e por que devem ser banidos.
6) Notifique à SBP os casos de traumatismos causados por quedas de andador ou de alguma forma relacionados com o seu uso.