Os bebês que nascem no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo possuem a assistência de profissionais que realizam os testes da orelhinha, do coraçãozinho e do olhinho. A novidade para quem nascer em 2013 é o teste da linguinha, atualmente realizado de forma pioneira no Brasil. Ele é capaz de diagnosticar a presença da anquiloglossia (popularmente conhecida como língua presa) e o grau de limitação dos movimentos causado por ela, o que pode comprometer as funções de sugar, engolir, mastigar e falar. A equipe do Serviço de Fonoaudiologia do HSVP iniciou neste mês um estudo das alterações da língua com todos os bebês que nascem na instituição. A intenção é levantar dados sobre incidência do problema e tornar o exame uma exigência, assim como os outros testes já realizados.
O município de Brotas (SP) foi o primeiro do Brasil a realizar essa avaliação, coberta pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No Hospital São Vicente a estagiária de fonoaudiologia, Ana Clara Varella, passa diariamente na Maternidade para avaliar em cada recém-nascido se o frênulo da língua (prega que conecta a língua ao assoalho da boca e que permite a parte anterior desse órgão mover-se livremente) está preso ou solto. “Quando eu identifico o problema, cadastro o bebê e depois junto com a fonoaudióloga responsável avaliamos o caso. Se confirmado que é língua presa encaminhamos uma solicitação ao pediatra para proceder com o pedido do procedimento que solta a língua”, relatou Ana.
Se a anquiloglossia não for detectada após o nascimento, podem ocorrer problemas que comprometem as funções de sugar, engolir, mastigar e falar. “Nossa preocupação principal está no desmame precoce. Os bebês que apresentam o problema mamam com mais frequência e ao mesmo tempo, cansam mais rapidamente devido a pouca movimentação da língua. A frenotomia, cirurgia de pequeno porte utilizada para correção das limitações nos movimentos da língua, é realizada por um cirurgião pediátrico e no mesmo dia o bebê já volta a mamar”, salientou a fonoaudióloga do HSVP, Lisiane Lieberknecht Siqueira.
Atualmente 20 bebês apresentaram o problema no HSVP, uma incidência que representa em média dois casos em cada seis nascimentos na instituição. “É uma quantidade considerável e que vale mais atenção. Se o problema for diagnosticado somente quando adulto o processo de recuperação é mais demorado, pois o frênulo já está fibrosado. É importante alertarmos que quem tem anquiloglossia já nasce com o problema e não desenvolve enquanto criança ou na adolescência”, destaca Lisiane.
A intenção das fonoaudiólogas é encerrar o estudo em março deste ano e no mesmo mês torná-lo padrão no hospital. Quem teve sorte foi a pequena Érica Rodrigues de Oliveira, que foi diagnosticada pela fonoaudióloga com anquiloglossia e não se tornará uma criança com a língua presa. “Eu não sabia que os bebês nasciam com esse problema. É minha quarta filha! Pode até ser que os outros filhos tenham esse problema e a gente nunca tenha notado. O bom destes testes é que nos deixa tranquila, pois é um problema a menos que eles terão no futuro”, contou a mãe, Elisabete Saraiva Rodrigues.