Na última semana, esteve no Brasil o pesquisador Bruce McDonald, do Instituto Federal de Tecnologia (ETH), de Zurique, na Suíça. McDonald é referência no mundo nas pesquisas voltadas ao controle de doenças em cereais e esteve em contato com pesquisadores da Unesp (Ilha Solteira, SP) e da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS) para avaliar os trabalhos que vem sendo realizados no controle de doenças emergentes no trigo. No cenário mundial, as pesquisas brasileiras com cereais de inverno na área de fitopatologia (ciência que estuda as doenças em plantas) têm despertado a atenção dos principais centros internacionais de pesquisa agrícola.
O clima tropical do Brasil sempre foi um desafio à produção de cereais de inverno, mas estudos agroclimáticos mostram que, a partir da década de 90, vêm ocorrendo mudanças no regime de chuvas na América Latina, com o aumento das precipitações durante a primavera, o que favorece ainda mais a proliferação de doenças fúngicas nas lavouras. No final do ano passado, estiveram no país fitopatologistas da Inglaterra (BBRSC) e da China (Instituto Jiangsu), preocupados com doenças como giberela e brusone no trigo. “A giberela é uma doença que desafio pesquisadores em todo o mundo, causando danos principalmente pela contaminação dos alimentos com micotoxinas. Já a brusone no trigo ainda está limitada à América Latina, mas o risco de chegar a outros continentes é preocupante”, esclarece o pesquisador da Embrapa Trigo, João Leodato Nunes Maciel. De acordo com os estudos de Bruce McDonald, do ETH, a dispersão de doenças na cultura do trigo ocorre primeiro entre países vizinhos, através do vento que faz a movimentação dos esporos (estrutura de reprodução dos fungos). Entre os continentes, o deslocamento de sementes contaminadas ainda é a principal forma de dispersão.
Duas décadas
Há mais de duas décadas, McDonald acompanha a evolução das doenças nos principais centros produtores de cereais de inverno no mundo. Para o pesquisador, saber onde o problema começou é imprescindível, isto porque as fontes de resistência devem estar no local de origem da doença. “A evolução natural das plantas cria mecanismos de resistência no próprio ambiente. Assim, antes de combater a doença é preciso encontrar a origem da doença”, diz McDonald. Ele cita como exemplo, a domesticação da cevada, que aconteceu há quase 4 mil anos. Com a pressão da cultura no ambiente, o primeiro registro fungo Rhynchosporium secalis, causador da doença conhecida como escaldadura, foi realizado na Escandinávia há mais de 3.600 anos. Agora a pesquisa está buscando fontes de resistência na própria Escandinávia, avaliando gramíneas como pastagens e invasoras que não são suscetíveis ao fungo. A visita de Bruce McDonald deve ampliar o intercâmbio de resultados no controle da brusone do trigo e outras doenças nos cereais de inverno, através de projetos desenvolvidos pelos pesquisadores Paulo Ceresini, da Unesp, e João Leodato Nunes Maciel, da Embrapa Trigo.