O último dia

Bento XVI deixa o comando da igreja e passa a ser intitulado como Papa Emérito

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Após oficializar a renúncia ao pontificado, na quinta-feira (28), Bento XVI vai receber o título de Sua Santidade Bento XVI, papa emérito, ou Sua Santidade Bento XVI, pontífice romano emérito. O título foi anunciado ontem pelo porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi. O último dia de Bento XVI como papa acabará às 19h de Roma (15h de Brasília). Ele deixará o local em direção à nova residência de helicóptero.

Com a renúncia, Bento XVI passará a usar vestes na cor branca, simples e sem manto, segundo o porta-voz do Vaticano. Ele não usará mais os sapatos vermelhos. “Parece que o papa ficou muito satisfeito com os sapatos que lhe presentearam no México, em Leon”, disse Lombardi.

Um dos símbolos do papa, o anel do pescador, será destruído. O adereço, que o papa recebe no momento da coroação e usa no dedo anular direito, simboliza a autoridade, segundo o porta-voz. O anel foi adotado no pontificado de Clemente IV (por volta de 1.265) e era usado como selo secreto para correspondências privadas.

O anel é de ouro e tem o nome do papa e em alto relevo do apóstolo Pedro pescando sobre uma barca. Quando o papa morre, o anel é retirado na presença do Colégio dos Cardeais e, em seguida, quebrado, simbolizando o fim do pontificado.

Ao deixar o pontificado, Bento XVI, de 85 anos, passará a viver, por dois meses, em Castel Gandolfo – residência de verão dos papas. Em seguida, Bento XVI passará a viver no Mosteiro Mater Ecclesia, na região do Vaticano. Segundo ele, vai se manter em oração e isolamento.

O último papa a renunciar foi Gregório XII, no século 15. O sucessor de Bento XVI será escolhido por 115 cardeais, com menos de 80 anos, reunidos no conclave. A data de início das votações não foi escolhido. A estimativa é que ocorra no começo de março com conclusão antes da Páscoa. No dia 25, Bento XVI assinou um decreto que abre a possibilidade de o conclave ser antecipado.

Coragem
A renúncia do papa Bento XVI deve ficar em segundo plano no legado deixado por ele, se considerado o que fez em oito anos de pontificado, como a coragem demonstrada no enfrentamento às denúncias de pedofilia dentro da Igreja Católica Apostólica Romana e às intrigas, assim como a defesa da tolerância religiosa. A conclusão é do embaixador do Brasil na Santa Sé, Almir Franco de Sá Barbuda, que esteve com Bento XVI numerosas vezes desde outubro de 2011, quando foi nomeado para o posto.

Sá Barbuda disse que sua impressão sobre o papa é a “melhor possível”. “É um homem muito corajoso, ele saiu de peito aberto em defesa do que acredita. Ele brigou para vencer as intrigas e combater os casos de pedofilia dentro da Igreja, esteve com algumas das vítimas e chorou com elas. Fez muito em defesa do ecumenismo e da tolerância religiosa, ao visitar sinagogas e mesquitas”, disse o diplomata.

Baldisseri conduzirá o conclave
A reunião que definirá o nome do sucessor do papa Bento XVI, o conclave, será conduzida por um bispo que conhece bem o Brasil e viveu no país: o atual secretário da Congregação para Bispos, dom Lorenzo Baldisseri, de 72 anos, que foi núncio apostólico no Brasil entre 2002 e 2012. Por ocupar o cargo de secretário do Colégio Cardinalício, Baldisseri assumirá a função de secretário do conclave. Pela Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, que determina como deve ser feita a eleição do novo papa, é o secretário do Colégio Cardinalício que desempenha as funções de secretário da Assembleia Eleitoral.

Nas Américas, além do Brasil, Baldisseri conhece bem o Paraguai, o Haiti, a Guatemala e El Salvador, onde viveu. Também teve experiências na África, pois morou em Moçambique e no Zimbábue. O único brasileiro que ocupou a função de  secretário do Colégio Cardinalício foi o cardeal Lucas Moreira Neves (1979-1987), que morreu em 2002. Mas durante o seu mandato não foi feito nenhum conclave. Moreira Neves foi arcebispo metropolitano de Salvador, capital da Bahia, e primaz do Brasil, nomeado pelo papa João Paulo II.

Ainda não foi definida a data do início do conclave, cuja duração não é definida. A expectativa é que comece nos próximos dias, conforme sinalizou o Vaticano sobre a antecipação da reunião. Durante o conclave, estarão aptos a votar 115 cardeais, inclusive cinco brasileiros. Os eleitores são mantidos isolados, sem contato externo. Há toda uma supervisão e um esquema de segurança para que isso ocorra. Os cardeais que votam são aqueles com menos de 80 anos.

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