Dez anos depois do início da invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos, em março de 2003, o país ainda não conseguiu superar e escalada de violência e as autoridades não convenceram a população de que a democracia é um regime melhor que a ditadura comandada durante décadas por Saddam Hussein. A avaliação é do professor de relações internacionais da Universidade Católica de Brasília (UCB), Creomar de Souza, que considera o rearranjo de forças entre sunitas e xiitas ainda instável, o que mantém o país sob tensão.
Nessa terça-feira (19), às vésperas dos dez anos da invasão, uma série de explosões matou pelo menos 50 pessoas em áreas xiitas de Bagdá, a capital do país.
As diferenças entre sunitas e xiitas se mantiveram ao longo desse período e nem a morte de Saddam Hussein em 2006, ou a retirada total das tropas norte-americanas em 2011, pôs fim à instabilidade política.
“A invasão forçou um rearranjo das forças políticas e o Estado formal caiu nas mãos dos xiitas, que são a maioria da população. Mas o Estado formal não goza da estabilidade formal e desejada”, disse Souza em entrevista.
O atual governo, comandado pelo primeiro-ministro iraquiano, Nouri Al Maliki, reconhecido pelo Parlamento em maio de 2006, está chegando ao fim de seu segundo – e último - mandato, mas ainda não conseguiu convencer a população de que a democracia é melhor que o regime de Hussein, na avaliação do professor..
“A grande questão atual do Iraque é a necessidade de mostrar às pessoas que vale mais a pena ter uma democracia que uma ditadura, mas os avanços reais são todos muito pequenos neste primeiro momento. Não houve avanço substancial em dez anos. A construção de um regime democrático é tarefa para uma geração e essa geração tem que assumir um pacto de que quer construir isso”, ponderou.
“Enquanto as instituições do Iraque continuarem tendo dificuldade de vender a ideia de que país é livre e democrático, muita gente vai continuar recorrendo à violência para assumir poder, em vez de se filiar a um partido e concorrer a uma eleição”, acrescentou.
Além das tensões étnicas, a possível tentativa de reeleição de Nouri Al Maliki pode agravar a instabilidade no país. O Parlamento decidiu que os líderes só podem ter dois mandatos, mas o atual primeiro-ministro está disposto a recorrer aos tribunais para se manter no poder. “Esse risco sempre existe em um país onde a democracia é instável”, explicou Souza.
Em dez anos, a Guerra do Iraque já contabiliza pelo menos 174 mil mortes, de acordo com o Iraq Body Count (IBC), grupo formado por voluntários do Reino Unido e dos Estados Unidos, que registra as mortes violentas de civis que resultaram da intervenção militar em 2003.
Apesar do auge da violência no Iraque ter ocorrido entre 2006 e 2007, os conflitos permanecem e ainda há uma média de 300 mortos por mês.
Agência Brasil