O comunicador e ex-vereador, Júlio Rosa, de 68 anos, que fez história no rádio de Passo Fundo morreu após uma parada cardíaca na quarta-feira (10). Por ironia do destino, este seria o dia em que ele receberia uma homenagem da Câmara de Vereadores. Rosa fez reportagem policial na Rádio Planalto e revolucionou a forma de comunicar quando passou a apresentar um programa na Rádio Uirapuru, no começo da década de 1980. Ele também foi vereador por três mandatos.
Conforme familiares do comunicador, ele possuía problemas cardíacos e estava internado desde segunda-feira (8) no Hospital São Vicente de Paulo, por complicações renais. Na manhã de ontem, Rosa teve duas paradas cardíacas. “Os médicos conseguiram reanimar na primeira parada, mas ele não resistiu na segunda”, informou o filho Régis Leonardo.
Júlio Rosa nasceu em Porto Alegre, no dia 31 de agosto de 1944. Estava no segundo casamento e tinha seis filhos biológicos e outros três adotivos. Trabalhou na Polícia Civil durante 20 anos e foi radialista por cerca de 30 anos. Transferido para Passo Fundo, deixou São Borja no final da década de 1970. Saiu da polícia, ficou desempregado e com os filhos pequenos para sustentar. Tornou-se radialista, trabalhou na extinta Rádio Municipal, na Rádio Uirapuru, na Rádio Planalto, foi colunista do Jornal O Nacional na década de 1990 e também atuou em outros veículos de comunicação.
Foi um dos primeiros a integrar a equipe da Rádio Uirapuru na fundação da emissora a convite do amigo Altair Colussi, que também faleceu há poucos dias. Foi nesta emissora que ganhou grande destaque em um dos programas que apresentava. “Você diz que não gosta, mas gosta. Você diz que não ouve, mas ouve”, esta era a chamada do programa matinal. Era contestador e costumava falar a “linguagem do povo”. Trabalhou durante 15 anos na Uirapuru e nos últimos anos atuou na Rádio Planalto, onde estava há cerca de 12 anos.
Foi vereador durante três mandatos, entre os anos de 1989 e 2000. Atualmente integrava o Ministério da Assembleia de Deus e exercia suas atividades espirituais nos hospitais, junto aos presidiários, aos internos no Case e nas casas de recuperação.
“Recebi o Júlio quando ele chegou na rodoviária de Passo Fundo”
O diretor da Transpasso, José da Silva Almeida, mais conhecido como seu Juca, foi o primeiro contato do Júlio Rosa quando ele foi transferido de São Borja para Passo Fundo. Seu Juca lembrou que na época em que trabalhava na Uirapuru havia filas na frente da rádio. “O Júlio era aquele que arrumava emprego para presidiário, dava dinheiro para as pessoas comprarem pão. Ele não sabia dizer não e ajudava todo mundo. Ele era um amigão”, disse Juca.
“O movimento comunitário teve apoio incondicional do Júlio”
Conforme uma das lideranças do movimento comunitário de Passo Fundo, Saul Spinelli, o Júlio Rosa foi presidente da Associação de Moradores da Cohab I e um dos que apoiou a criação da Uampaf. “Ele sempre dava atenção as bandeiras do movimento comunitário e fazia com que a sociedade e autoridades ouvissem o apelo das lideranças. Um dos ensinamentos que ele deixa é que não podemos deixar de se indignar com as injustiças e nem se calar diante das ameaças”, ressaltou Spinelli.
“Vai com Deus meu amigo”
O ex-vereador Luiz Miguel Scheis foi uma das primeiras pessoas a conviver com Júlio Rosa e sua família quando ele chegou no município. “Na época eu trabalhava na Rádio Municipal e ele na Polícia Civil, depois invertemos, fui para a Polícia Civil e ele para a Rádio e mais tarde em 1996, nos encontramos na Câmara de Vereadores onde fomos eleitos pelo mesmo partido e lá ficamos por duas legislaturas”, relembrou Scheis. No último sábado (6), Scheis havia encontrado Júlio no velório de um outro radialista do município, Altair Colussi. “Ele me deu um abraço forte. Estava abraçando meu amigo Júlio pela última vez”, disse o ex-vereador.
“Sempre foi focado no lado social e protegia os menos favorecidos”
O diretor da Rádio Uirapuru, Jerônimo Fragomeni, disse que Júlio chegou na emissora em 1981 e fez parte da equipe que montou a estrutura de programação. Utilizando a linguagem do povo ele tornou a rádio líder em audiência, através do Programa do Júlio Rosa, conhecido como repórter do povo. “Foi uma das pessoas que conheci que mais se preocupava com o próximo. A caridade era uma das grandes características do Júlio. A família também era sagrada para ele. Júlio sempre foi focado no lado social e protegia os menos favorecidos”, declarou Fragomeni.
“Júlio Rosa foi o nosso grande mestre”
O radialista João Altair da Silva da Rádio Planalto lembrou com carinho os 12 anos em que trabalhou com Júlio Rosa. “Ele é o principal ícone da rádio de Passo Fundo. Vai ficar um vácuo muito grande. Ele era dono de uma comunicação ímpar e tinha um grande poder de articulação com as palavras. Júlio conseguia extrair a essência de um assunto. Ele era fantástico”, destacou o radialista.
“Ele defendia a comunidade”
Júlio Rosa seria homenageado pela Câmara de Vereadores com o título de vereador emérito na quarta-feira. Conforme o autor da homenagem, vereador Paulo Pontual, o comunicador e ex-vereador foi muito importante para o município de Passo Fundo. “Tenho muita simpatia pela representatividade como radialista e vereador e pela maneira que ele defendia a comunidade. Vamos esperar um tempo, mas vamos manter a homenagem. Com certeza ele fará parte da galeria de vereadores eméritos”, disse Pontual.
Luto de três dias
O prefeito de Passo Fundo, Luciano Azevedo, decretou luto oficial de três dias devido ao falecimento de Júlio Rosa. Nesta quarta-feira (10), o ex-vereador e radialista seria homenageado pela Câmara de Vereadores com o título de vereador emérito de Passo Fundo. “Recebemos esta notícia triste no dia em que Júlio Rosa seria homenageado no lugar onde, por tantos anos, representou nossa comunidade. Ele sempre foi profundamente preocupado com as questões sociais e os mais pobres, tendo o olhar voltado para o próximo”, lembrou Luciano.
Câmara de Vereadores manifesta pesar
O Presidente interino da Câmara Municipal de Vereadores de Passo Fundo, Márcio Patussi, manifestou pesar pelo falecimento do ex-vereador que atuou como parlamentar nas legislaturas de 1989-1992, 1993-1996 e 1997-2000. “O ex-vereador Júlio Rosa da Silva foi importante comunicador em veículos da cidade. Desejamos à família muito alento e conforto nas mãos de Nosso Deus Pai Todo Poderoso”, declarou Patussi.
Seguindo os passos do pai
Ronaldo Rosa e Régis Leonardo, ambos radialistas da Rádio Uirapuru, começaram ainda na infância a se apaixonar pela profissão do pai. “Era muita criança em casa e o pai levava nós para a rádio”, lembrou Ronaldo, durante o velório.