As secas no Rio Grande do Sul são um problema histórico e até hoje o Estado não está preparado para enfrentar o problema. A falta de uma cultura de prevenção faz com que em anos de estiagem os prejuízos na lavoura sejam gigantescos. De acordo com dados do presidente do Comitê de Gerenciamento das Bacias Hidrográficas do Rio Passo Fundo e do Rio Jacuí Claud Ivan Goellner em cada 10 anos, são registradas em média sete secas. Nos últimos 30 anos, a média do prejuízo em anos de seca, apenas com a soja e o milho, supera os US$ 4 bilhões. Os dados foram apresentados durante o V Simpósio Nacional sobre o Uso da Água na Agricultura.
Este é um dos desafios atuais da agricultura gaúcha, organizar-se com tecnologia e técnicas de manejo que permitam minimizar as perdas em períodos de pouca chuva. Ao longo da história, o Rio Grande do Sul precisou superar vários desafios para poder desenvolver a produção agrícola. A correção da acidez e a melhoria da fertilidade dos solos e a utilização do plantio direto para evitar os problemas com a erosão são alguns deles. Hoje a adoção de equipamentos mais eficientes e a agricultura de precisão é um novo avanço, mas ainda assim é preciso de novos investimentos para evitar tantas perdas com as estiagens.
O normal é a seca
O professor Goellner explica que a situação climática normal para o Rio Grande do Sul é a seca e não anos com chuva. A cada dez anos, sete são de seca. “Foi uma falha, uma desatenção, tanto do governo estadual, quanto dos setores da agricultura no sentido de se prepararem e se organizarem tecnologicamente para o enfrentamento dessas secas com irrigação”, pontua. Se antes o problema era com a falta de recursos para a implantação desse sistema, nos últimos anos, financiamentos começaram a ser liberados. Por outro lado, muitos projetos esbarram no licenciamento ambiental para que os produtores possam armazenar a água que geralmente sobra no inverno, para ser utilizada no verão. “Isso ainda é uma questão cultural que deve ser superada aos poucos”, pondera.
Seca agrícola e seca climatológica
O presidente dos comitês esclarece ainda que para resolver o problema da seca agrícola, não basta ter uma reserva de água para a irrigação. É necessária a adoção de um conjunto de medidas que visem, fundamentalmente, a infiltração da água no solo e a sua conservação. “Hoje temos agricultores irrigando suas lavouras, mas devido ao solo compactado a maior parte da água que sai dos equipamentos não chega às raízes das plantas e escorre. Só a irrigação em si não resolve o problema”, esclarece sobre o problema da compactação do solo. Além disso, a busca de apoio tecnológico e científico de universidades e instituições permite conhecer novas técnicas de plantio e manejo.
Apesar das ferramentas que indicam períodos de seca com precisão e de apoio técnico para indicar quais as melhores épocas para semear e cultivares a serem utilizadas, muitos agricultores procedem o plantio da mesma forma em momentos de chuva ou de seca. “Esta é uma critica do aspecto cultural de deixar acontecer para ver o que vai fazer depois”, alerta.
As secas no Estado se devem principalmente a ocorrência do fenômeno La Niña e massas de ar polar. Quando ocorre o La Niña se tem verão seco e no ano seguinte quando ocorre o El Niño ocorrem invernos chuvosos.
Previsão do tempo e previsão climática
O pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) Helio Cardoso explica que há dois tipos de previsão das condições climáticas. A previsão do tempo, a curtíssimo prazo, e a previsão climática em prazos mais estendidos. A previsão climática apresenta indicativos para, em média, três meses. O Cemaden monitora principalmente as regiões mais secas do país, como os estados do nordeste. “Para o nordeste esse sistema de alerta já está bem configurado e avaliado. Agora, para o sul do país, existe o Inpe de Santa Maria que faz um diagnóstico de seca muito bom”, complementa. Embora esse tipo de previsão não indique quantidade de chuva, ela pode ser utilizada como ferramenta de planejamento da implementação de lavouras.