Enquanto o papa Francisco pisava, pela primeira vez, na terra carioca e o Rio Grande do Sul via, depois de décadas, a neve, as estradas do estado estavam lotadas de ônibus e carros cujo destino era a 28ª Jornada Mundial da Juventude. Em cada parada, os primeiros contatos: em Aparecida, a roda de música dos gaúchos conquistou a curiosidade de três africanos. Vindos de Gana, buscavam o Papa. Ao encontrar a música e a coreografia, não hesitaram e mostraram, também, a sua forma de celebrar a vida de Jesus Cristo. O grupo de 240 peregrinos passo-fundenses demorou 36 horas para cumprir os 1.405 quilômetros de distância e na madrugada e início da manhã de terça-feira chegou na terra do Cristo Redentor.
Comunidade que acolhe
Da janela do ônibus, bandeiras do Pará e de Tocantins podiam ser vistas e mostravam aos peregrinos gaúchos o primeiro contato. Entre sotaques, sorrisos e “bem-vindos” gaúchos, paraenses e tocantinenses - ainda que diferentes - tornavam-se iguais: compartilhando as mesmas experiências, a juventude não é mais de cada estado, mas do Brasil.
O primeiro grupo, com membros do Curso de Liderança Juvenil, Pastoral da Juventude e seminaristas, coordenado pelo Pe. Diego Tonet e por uma das responsáveis do CLJ, MarliseBiazus, chegou à Paróquia Menino Jesus de Praga, no bairro Bangu, pela manhã. Famílias da Comunidade Vila Aliança abriram as portas das casas para um grupo de 500 peregrinos - a estimativa era, apenas, para 90 jovens. Voluntários - responsáveis pela organização da acolhida aos peregrinos - buscavam, de casa em casa, um lugar onde os jovens pudessem passar os seis dias da JMJ.
No meio da busca, encontraram a família de Gláucia e Henrique que disponibilizou a casa para hospedagem, mas não foi selecionada pela organização da Jornada. Diante da chegada do grupo de Passo Fundo e, também, de Tocantins acolhe, durante essa semana, treze meninas. “A casa é humilde, mas ela é de vocês durante esse tempo”, acolheu Henrique. Victória Dal Magro participou da Semana Missionária em Passo Fundo e, depois de chegar na casa de Henrique, sentiu que a Jornada, finalmente, começou: “Além do alívio que sentimos em chegar no Rio de Janeiro, o sentimento é de felicidade. Temos medo do desconhecido e do novo, mas a ansiedade e a expectativa é o que dominam nesse momento”.
Primeiros passos
Depois da hospedagem, o grupo recebeu os kits peregrinos e, também, as primeiras orientações: entram nas casas das famílias das 22h às 00h e, pela manhã, devem sair às 7h. A programação matinal dos peregrinos envolve a catequese ministrada pelos bispos do mundo todo. Durante a tarde, os jovens escolhem a programação que desejam seguir: entre Festival da Juventude, Feira Vocacional e shows, os jovens têm a oportunidade de conhecer e explorar a vivência de fé de outros grupos. Os Atos Centrais acontecem, sempre, a partir das 18h e seguem durante a noite.
Glaucia e Henrique gravaram a chegada do Papa para mostrar às peregrinas que acolhem. As palavras do Sumo Pontífice - “Não trago prata nem ouro, mas algo mais valioso: Cristo” - injetaram novo ânimo no grupo: “O Papa é uma pessoa simples e mesmo ocupando um cargo muito alto não é orgulhoso. É do povo. É o Papa que precisávamos e queremos seguir o seu exemplo”, comenta Derci Da Silva, uma das adultas responsáveis pelo grupo.
Diário da JMJ
Quando embarcamos, em Passo Fundo, sabíamos que o caminho até o Rio de Janeiro seria complicado. Não éramos os únicos que partíamos e, a cada quilômetro completado, a distância encurtava, mas, também, outros ônibus se juntavam a nós na estrada. Congestionamento, paradas, filas. Peregrinar exige paciência e exige, também, preparação. A expectativa de passar 20 horas em um ônibus se transformou em 36 horas de ansiedade e, por vezes, agonia. Quando o grupo chegou ao Rio de Janeiro, ainda de madrugada, encontrou um endereço que, na verdade, não existia. Dormimos no ônibus, em uma das ruas cariocas. Quando chegamos ao Salão Paroquial da Igreja Menino Jesus de Praga todo o cansaço se transformou na expectativa por encontrar o novo. Acolhidos por um grupo de voluntários e, também, por um grupo de paraenses, encontramos, ainda na rua, o sorriso de quem tem o mesmo objetivo: encontrar uma forma de vivenciar a própria fé.
O que leva uma família a abrir as portas da sua casa para gente que não conhece? O que leva uma família a colocar os móveis do próprio lar para fora de casa para poder abrigar um grupo de treze pessoas? O que faz milhares de jovens abrirem mão de suas vidas, durante uma semana, para se transformarem em voluntários? Não há uma única resposta e não há nenhuma forma de descobrir os motivos pelas quais cada um direciona olhos, braços e pernas para o Rio de Janeiro. Há, sim, formas de encontrar em cada abraço ou em cada sorriso um pouco daquilo que viemos buscar: Jesus. Sim, em cada família um pouco da própria Igreja Católica. Cada jovem que desembarcou, ontem, no Rio de Janeiro é diferente. Cada um tem os próprios motivos para ganhar as ruas. Cada um encontra justificativas diferentes para vivenciar a Jornada, mas todos, sem exceção, são responsáveis pela construção da história de uma juventude que caminha, aos poucos, em direção ao compromisso de assumir a realidade da própria Igreja.