Trigo: uma questão política

Sindicato Rural de Passo Fundo promoveu uma reunião para debater a problemática do grão, que tem estrutura e organização, mas que depende de políticas públicas para garantir maior segurança aos produtores rurais

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Um debate importante, que reuniu autoridades regionais e nacionais para discutir a necessidade de decisões políticas na questão do trigo brasileiro. O tema vem sendo debatido hà décadas, mas somente agora poderá ter uma nova perspectiva com a inserção dos governos estadual e federal no debate. A provocação ao debate partiu da Comissão do Trigo do Sindicato Rural de Passo Fundo, que abrange nove municípios da região e é presidido por Paulo de Tarso Silva. A entidade tem entres os objetivos a luta pela causa dos produtores rurais gaúchos.


O compromisso do governo federal

O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Caio Rocha, fez um apanhado sobre a produção de grãos em geral, sobre a produção de trigo e as dificuldades do produtor, sobre as ações do governo federal que estão no Plano Safra 2013/14 para se ajustar com o tempo do produtor, seguro agrícola e câmara setorial do trigo. Ele enfatizou a importância do debate e o interesse do governo federal em, subsidiar incentivos aos produtores e destacou a importância do trigo no cenário brasileiro, enfatizando políticas agrícolas do governo federal, especialmente o Plano Safra, que em 2013, chegou com novidades. "É importante a mecanização nas propriedades, que aliada ao desenvolvimento de tecnologias, tem sido a grande responsável por aumentar a produção agrícola nos últimos dez anos. Na safra 2012/13, a área plantada aumentou apenas 12% em relação aos últimos dez anos, enquanto a produção de grãos cresceu mais de 56%. Ou seja, houve maior produtividade no período. Enquanto na safra 2003/04 vendemos mais de 30 bilhões de dólares em produtos do agronegócio, na temporada 2012/13 o valor superou os 100 bilhões de dólares. O valor, além de recorde, respondeu por mais de 30% de toda a pauta de exportações brasileiras. Enquanto os produtores de grãos aumentam os investimentos nos campos, o governo também amplia o crédito e as facilidades para financiar o desenvolvimento rural. O crédito disponibilizado para o setor cresceu mais de 300% em apenas dez anos, passando de R$ 32,5 bilhões para R$ 136 bilhões”, destacou Rocha.

O secretário afirmou que na safra 2013/14, o Governo Federal, além de ampliar o valor total do crédito para o setor, também se preocupou em propor linhas de crédito diferenciadas. “Dos R$ 136 bilhões para esta safra, um bilhão será voltado à inovação tecnológica. Além de aprimorar o processo produtivo nos campos, também queremos permitir que o produtor possa segurar a produção de grãos até o momento que considere mais adequado para vendê-la. Para tornar este cenário uma realidade, foram
disponibilizados para os próximos cinco anos R$ 25 bilhões, destes, R$ 5 bilhões já nesta safra, com taxa de juros de apenas três e meio por cento ao ano e prazo de pagamento de até 15 anos”.

 

Gonerno federal cria a Anater

Com o objetivo de se aproximar mais do produtor, o governo federal criou a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). “Essa agência será fundamental para orientar e capacitar os produtores rurais na adoção de melhores práticas nas propriedades”. Serão 128 cargos e diretorias ligadas à instituições como a Embrapa.

 

A opinião de um especialista

Cláudio Dóro, engenheiro agrônomo da Emater, enfatizou a questão do trigo como um debate que ocorre há décadas, mas que somente agora ganha força política, com a intervenção de entidades como o Sindicato Rural de Passo Fundo. “Discutimos a área técnica e não levamos até a área política e é uma decisão política. Estamos aqui debatendo agora com os governos estadual e federal e poderemos com isto equacionar alguns problemas que influem negativamente na cadeia do trigo”. Dóro enfatizou a importância dos R$ 400 milhões anunciados pelo governo federal para a comercialização do trigo para novembro a juros de 5,5% ao ano, para que cerealistas e produtores tomem posse deste dinheiro. “Muito desta conquista foi graças a trabalhos capetaneados por entidades como o Sindicato rural. A entidade abraçou a causa, o que é fundamental para que tenhamos sucesso neste objetivo em relação ao trigo”, explicou o engenheiro agrônomo.

 

A questão do trigo

Dóro, que tem vasto conhecimento no assunto trigo, destacou a questão dos estoques mundiais reguladores do grão que vem decaindo, assim como vem decaindo os estoques da soja e milho. “Temos o menor estoque dos últimos cinco anos. A China consome 110 bilhões de toneladas de trigo por ano, é o maior consumo mundial. Mas os chineses terão uma quebra de 20 milhões de toneladas, o dobro do Egito e quatro vezes mais do que nós importamos. A situação do trigo não é muito boa, e em contraponto os preços estão em alta. Hoje o quilo do trigo custa R$ 1,00, e o saco chega a R$ 63,00 relativo à safra remanescente. Na atual safra a previsão é de R$ 40,00 o saco. Em 2012 foi de R$ 28,00 O mercado está aquecido, mas precisa de incentivos políticos”.

O engenheiro explica que a projeção brasileira era de uma colheita de 5,5 milhões de toneladas, mas cerca de 30% da safra no Paraná será frustrada. “Poderemos colher em torno de 4,8 milhões de toneladas ou nem isso. Teremos que importar até 7 milhões de toneladas e a Argentina terá somente 5 milhões de toneladas, o que nos leva a analisar que teremos que importar trigo dos EUA, Ucrânia, México. O frete estará em alta, como um reflexo do dólar. Estamos perdendo oportunidade de ganhar muito dinheiro neste ano, que seria um momento oportuno de faturar. Esta quebra de safra do Paraná e a Argentina tendo menos trigo para exportar estarão dando sustentação aos preços”.

 

Perspectiva

Dóro explica que o RS plantou 1,27 milhão de hectares e deve colher 2,475 milhões de toneladas inicialmente. “Poderemos chegar perto de R$ 3 milhões de toneladas, mas ainda precisamos computar efeitos da geada. Temos estimativas preliminares que apontam para 2,7 milhões de toneladas. Consumimos 1,1 milhão e teremos um exportável de 1,5 milhão. Já exportamos 1,2 milhão este ano. Temos mercado e preço, o que falta para crescermos é o ato político”.

Dóro diz que há um parque de máquinas completo, terras ociosas, compradores de trigo, com exportação mensal que chega a 500 mil toneladas. “Estamos resolvendo o problema de outros países e não do nosso. O trigo favorece diretamente o produtor e aquece toda a economia, alimenta toda a cadeia, indústria, comércio, prestação de serviços, com melhor arrecadação de ICMS, taxas e tributos. No grão de trigo tem genética avançada, marketing, transporte, embalagem, assistência técnica, área de ensino, pesquisa. Não dá para separar o trigo do agronegócio é como separar o ferro do aço. Porém só poderemos resolver nosso problema da agricultura com renda de inverno, que é baseada no trigo, porque os demais grãos são limitados como cevada, canola, que tem restrições por parte da indústria. Nós temos mercado, bons gestores e uma área de pesquisa excelente, o que nos falta é decisão política”. 

 

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