As muitas histórias de quem teve câncer de mama

Sabrina teve câncer de mama em 2010, mas ainda está na luta contra a doença. Apesar disso, ela mostra que mesmo com este diagnóstico, é possível manter a alegria de viver

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Sabrina Frâncio Estrasulas Jardim, 34 anos, professora universitária, casada, descobriu um caroço no seio direito em fevereiro de 2010, em uma consulta de rotina. O diagnóstico, após vários exames: câncer de mama. “Eu estava com um câncer de mama em estágio avançado e com comprometimento da região axilar. Eu tinha, na época, 31 anos de idade e estava iniciando minha vida profissional aqui em Passo Fundo (sou natural de Bento Gonçalves). Pessoalmente, estava em início de namoro...”, lembra.
Após o diagnóstico, foram oito sessões de quimioterapia, perda dos cabelos, dos cílios, das sobrancelhas, “mas a vontade de viver e a autoestima nunca foram perdidas! Depois das quimioterapias fiz mastectomia total e esvaziamento axilar, que é a retirada da mama e, na mesma cirurgia, fiz a reconstrução”, conta. Seguido à cirurgia, no período de recuperação, foram mais 42 sessões de radioterapia e tratamento complementar com um medicamento anticancerígeno, com previsão para ser administrado por cinco anos. Nesse período, o namorado virou noivo e Sabrina precisou se afastar das atividades profissionais.

Em 2011, a vida voltava ao normal. Sabrina voltava a dar aulas, o noivado se transformava em casamento. Mas em abril de 2012, fortes dores na região do quadril levavam Sabrina a precisar fazer uma nova série de exames que descobriram metástases ósseas que se espalharam pela calota craniana, cabeça umeral esquerda, ângulo da escápula esquerda, 2º e 4º vértebras lombares, articulações sacroilíacas, ilíaco direito, acetábulos e porções proximais de ambos os fêmures. Ou seja, estava, novamente, com câncer, e precisou se afastar do trabalho porque ficou vários dias sem conseguir se locomover. Outras 27 sessões de quimioterapia intravenosa e internações semanais.

Novamente o cabelo se foi e o corpo ficou por demasiado debilitado. Entretanto, a doença estabilizou e como o organismo não estava mais suportando a carga da quimioterapia intravenosa, em conjunto com a equipe médica, resolveu passar para a quimioterapia oral, sem internações hospitalares e complementar o tratamento, a cada 21 dias, com uma aplicação intravenosa de um soro quimioterápico que ajuda a preservar os ossos. Tratamento este que precisa fazer por tempo indeterminado.
Mas quem pensa que toda essa situação fez Sabrina esmorecer e perder a vontade de lutar, muito se engana. Além de encarar a doença com uma alegria jovial, ela se mantém com uma grande vontade de viver e escreve em um blog, perfeitamente intitulado de Mundo de Sabrina, onde divide com os leitores o dia a dia de quem está enfrentando a doença com uma coragem extrema.
Confira, na entrevista que segue, os segredos de Sabrina no enfrentamento e convivência com o câncer.

O Nacional – Como você reagiu ao diagnóstico?
Sabrina Frâncio Estrasulas Jardim – Foi um grande susto! Lembro-me de parecer estar entrando num buraco negro. Me permiti chorar por 3 dias seguidos, mas depois escolhi enfrentar a doença com muita vontade, alegria, dignidade e otimismo. Na segunda vez, a recepção do diagnóstico foi bastante difícil. Era o “conhecido desconhecido” que batia à porta novamente... Precisei de um tempo para digerir tudo novamente... Escolhi, mais uma vez (e sempre!) a vida! E passar por todo este turbilhão com otimismo, autoestima e leveza! Um dos pontos fundamentais que me fizeram e me fazem ter muita força perante a doença é o apoio incondicional do meu marido, da minha família, e dos meus amigos que são verdadeiros anjos protetores e estão sempre prontos para somar e multiplicar alegria, carinho, afeto e energias positivas!

O Nacional - De onde veio a ideia de fazer o blog?
Sabrina Frâncio Estrasulas Jardim – Eu sempre gostei de me expressar escrevendo... Assim que a doença (que eu chamo de presente) apareceu, resolvi escrever a minha experiência para transcrever o que meu coração sentia e sente e também para poder compartilhar minha história de vida com outros tantos guerreiros que estão passando pelo tratamento oncológico. Já fiz muitos amigos por meio do blog, já aprendi muito e aprendo todos os dias. É bastante gratificante poder compartilhar sua história porque, com suas palavras e experiências, você pode transformar o dia de alguém... e isso eu acho fantástico! O blog me ajuda demais a passar pelos dias mais nebulosos e me faz aprender exponencialmente a viver!! Um dos acontecimentos interessantes que eu posso citar, dentre tantos é que, por meio do blog, conheci outras três mulheres (duas de São Paulo e uma de Santa Catarina) e montamos o “Banco da Autoestima”. No banco, enviamos um kit para as mulheres que passam pelo tratamento oncológico composto de um lenço ou peruca, uma bijuteria e uma cartinha. Esse gesto tem nos engrandecido muito e também auxiliado outras mulheres. Mesmo sem nunca termos nos encontrado, temos uma ligação de amizade muito bonita.

O Nacional – Qual o recado que você dá para as pessoas que estão enfrentando a mesma situação?
Sabrina Frâncio Estrasulas Jardim – O câncer me ensinou a viver plenamente e com leveza. O diagnóstico é muito difícil, sim. É preciso se permitir ficar entristecido, mas não fazer desta tristeza o seu dia-a-dia! Existe MUITA vida, mesmo com o câncer. Todos precisamos tirar aquela ideia errônea de que quem tem câncer tem uma “sentença”. Nada disso! A medicina avançou e avança muito, todos os dias, especialmente no tratamento quimioterápico. Existem quimioterapias, como esta que eu estou tomando, por exemplo, que não fazem o cabelo cair e você se sente mais disposto! E, mesmo que o cabelo cair, tem perucas ou lenços lindos e você tem a possibilidade de ter cabelos coloridos, todos os dias! Falar abertamente sobre o câncer é muito importante também: com seus familiares, amigos, companheiro(a) e, especialmente com o seu médico. Informação faz parte da cura, sim! E, o principal, aprenda a ouvir e a respeitar o seu corpo! E nunca perca a alegria de viver!

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