O desenvolvimento industrial de um país ou região geralmente é tratado como fator de agregação de valor, ampliação de receita e geração de empregos. Bandeira política de eficácia, a atração de investimentos no setor secundário tende a dinamizar a economia local e nacional. Por outro lado, os empresários brasileiros têm disputado uma corrida silenciosa e cheia de obstáculos. A desindustrialização é a forma encontrada para superar barreiras de logística, falta de mão de obra qualificada e altas cargas tributárias existentes. O fenômeno é estudado por economistas há anos e se espalha por empresas dos mais variados tamanhos. Em Passo Fundo e região, companhias deixam de atuar em partes do processo industrial e apostam na competitividade de produtos e componentes produzidos na China e de outros países onde os processos são menos dispendiosos.
A principal preocupação dos economistas de países com padrão de industrialização semelhante ao brasileiro diz respeito aos efeitos do câmbio na competitividade das exportações nos anos 2000. Quem explica esse processo é a economista e professora da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis da UPF Dra. Cleide Fátima Moretto. O temor é de que a apreciação da taxa de câmbio real e a concentração de recursos produtivos no setor primário reforcem o padrão de especialização de uma estrutura produtiva e exportadora em produtos intensivos em recursos naturais.
Esse processo, em detrimento do incremento de setores da indústria nacional que possuem um padrão tecnológico mais elevado, com maior capacidade inovativa, pode interferir no potencial de crescimento no longo prazo. “Observamos, pelos dados da balança comercial brasileira, que estamos sendo mais intensivos na exportação de produtos básicos e na importação de produtos manufaturados, sobretudo bens de capital e de consumo durável. Dessa forma, grande parte do superávit de nossa balança comercial está sendo mantido pela competitividade das exportações de commodities brasileiras”, alerta.
“Efeito China”
O dado mais importante que demonstra que as indústrias locais têm se curvado ao “efeito China” é o crescimento no volume de importados do país. Entre 2011 e 2012, o aumento foi de quase 155%, passando de US$ 9,4 milhões para US$ 24 milhões no ano passado. Em 2013, já sentindo os efeitos da valorização do dólar, as importações chinesas caíram 36,8% comparando o período entre janeiro e agosto deste ano e do ano passado.
Este fenômeno, apontado pela pesquisadora é registrado tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. De acordo com ela, na ânsia de diminuir custos de produção as empresas do mundo inteiro deslocaram parte dos processos produtivos para aquele país. Entre os motivos é o fato de o gigante asiático ganhar disparado em termos de custo de produção, sobretudo por meio de uma mão de obra desprotegida, praticamente escrava, aliado a maior conteúdo tecnológico. “Se tivermos presente uma visão sistêmica ou de fluxo da economia, nas implicações da ruptura entre produção e renda, sabemos que esse processo tem efeitos importantes no longo prazo. E é assim que estamos assistindo um número crescente de empresas brasileiras que desloca parte de seu processo produtivo para a China”, resume. Além de transferir a produção para o país asiático as empresas importam produtos que antes produzia internamente, mantendo a marca, mas desocupando insumos de produção internos, uma vez que a taxa de lucro está garantida.
É mais barato importar
Custo dos componentes gaúchos tem ficado entre 30% e 35% acima do valor dos importados
Instalada há pouco mais de um ano em Passo Fundo, a multinacional do segmento de guindastes Manitowoc enfrenta hoje algumas dificuldades no seu sistema produtivo. Os esforços da empresa em buscar fornecedores locais são responsáveis pela marca de 40% de nacionalização dos componentes utilizados na montagem dos guindastes. No entanto, o preço ainda não pode ser considerado competitivo em relação aos componentes importados. A principal vantagem em nacionalizar é poder oferecer um equipamento com mais facilidade de financiamento via Finame. Conforme o diretor de operações da Manitowoc no Brasil, Mauro Nunes, a meta é nacionalizar 60% da produção dos guindastes até o final do próximo ano. E os desafios são vários. Um deles diz respeito a falta de sistemistas na região de Passo Fundo.
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