Sete anos após o sequestro e assassinato da comerciante Rita Felipi de Cassia, 36 anos, o Tribunal de Justiça do Estado (TJE) confirmou, na semana passada, a decisão em primeiro grau e manteve a condenação de três, dos quatro envolvidos no crime que chocou os passo-fundenses. A vítima desapareceu no dia 16 de setembro de 2006. Cinco dias depois, teve o corpo encontrado por um pescador no arroio Chifrãozinho, sob a ponte da RS 153, entre Passo Fundo e Ernestina.
Na decisão do TJE, os autores Darlan da Silva Borges, 38 anos, Cassius Henrique Menezes, 28 e Diego Antônio Chagas, 25, foram condenados a 24 anos de prisão, em regime fechado, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado com resultado morte. O quarto envolvido no crime era menor de idade e já cumpriu medida sócio-educativa. A sentença confirmou a decisão da 1ª Vara de Execuções Criminais ocorrida em 2008. “Foi um alívio, mas a dor vai permanecer para sempre” resumiu o pai da vítima, Gildo Felipi, 65 anos.
O desfecho final do caso foi revelado na manhã de ontem, pelo delegado da Defrec, Adroaldo Schenkel, responsável pelas investigações e identificações dos acusados. Os três aguardavam a decisão em liberdade. Eles foram presos na sexta-feira e recolhidos ao Presídio Regional de Passo Fundo.
Os cinco dias que mudariam para sempre a vida dos Felipi, iniciou no distante 15 de setembro de 2006. Era uma sexta-feira, por volta das 20h, quando Rita deixou o mercado de propriedade da família, na vila Luiza, pela última vez. Na mesma noite, foi esfaqueada, estrangulada e jogada, ainda com vida, no rio. Logo após o crime, os autores deram início a uma série de ligações telefônicas aos familiares exigindo resgate no valor de R$ 40 mil. Algumas chamadas realizadas de telefones públicos e outras com o celular da empresária.
Durante as negociações, a casa dos pais da vítima foi transformada em base para a Brigada Militar e Polícia Civil. Momentos após a localização do carro da comerciante, abandonado na Vila Jardim, eles fizeram o primeiro contato exigindo o resgate. Na mesma noite, a família conseguiu levantar o dinheiro exigido por eles. Em troca, pedia um sinal de vida de de Rita, algo que já não era mais possível. Em razão disto, o pagamento não foi efetuado.
Na esperança de encontrar a filha com vida, no dia seguinte, um sábado chuvoso, o pai, e o irmão dela, atendendo exigência dos sequestradores, permaneceram das 9h até 15h, sentado em um banco, em frente à catedral, com os R$ 40 mil dentro de um saco. Ninguém apareceu. O último contato do grupo com a família ocorreu na segunda-feira. A tensão aumentava a cada dia, até que na quarta-feira, o mistério terminou de maneira trágica. O corpo da comerciante foi encontrado por um pescador no arroio Chifrãozinho. Além do marido, Rita deixou um filho, de cinco anos à época.
A Defrec assumiu as investigações e identificou os quatro envolvidos quatro meses depois. “A ação foi premeditada. A intenção era roubar a caminhoneta do pai dela e cobrar pela devolução. Vendo a filha sair de carro, aproveitaram a oportunidade e a sequestraram” disse Schenkel. Eles foram presos em janeiro de 2007, após o encerramento do inquérito e liberados cerca de 30 dias depois, através de um habeas corpus, para que respondessem em liberdade.
“Esta brutalidade acabou como nossas vidas”
Familiares da vítima receberam a notícia sobre a condenação dos acusados ainda na sexta-feira. Bastante emocionado, o pai, Gildo de Felipi disse que a sentença de 24 anos foi justa. No entanto, ele teme pelos benefícios e redução da pena. “Pelo menos agora podemos ficar mais tranquilos, sabendo que os três estão na cadeia. Espero que não sejam soltos em dois ou três anos. Não pode virar fogo de palha. Tem que servir de exemplo” desabafa. Sobre a longa espera de sete anos, o comerciante a define como muito triste e dolorida. A cada aniversário do crime, ele demonstrava a insatisfação com a lentidão da Justiça, colocando cartazes e faixas em frente ao seu estabelecimento. Segundo ele, a perda da única filha, mudou para sempre a rotina da família. “Perdeu o sentido. Esta brutalidade acabou com nossas vidas” lamentou.
O sentimento do marido, Anilton Roratto, 54 anos, também é de que a Justiça foi feita. Ele soube da notícia na manhã de ontem e disse ter ficado muito abalado. “É difícil de falar, lembrar de toda aquela tragédia. Volta tudo na memória. Cada lembrança dói muito. Posso dizer que a polícia e judiciário fizeram um trabalho muito bom” comenta.