Chuva não tira brilho de tributo a Mandela

Vários grupos se reuniam dançando e cantando nas arquibancadas e nos corredores do Soccer City.

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A chuva constante que atinge Joanesburgo desde a madrugada impediu que a arquibancada do Estádio Soccer City ficasse lotada para o tributo a Nelson Mandela. O mau tempo, no entanto, não tirou a beleza da homenagem que reuniu milhares de pessoas. Embora o memorial estivesse marcado para as 11h (7h no horário de Brasília), muitas pessoas foram ao estádio ainda no início da manhã.

A cerimônia reuniu representantes de mais de 100 países, incluindo a presidenta brasileira Dilma Rousseff e o chefe de governo norte-americano, Barack Obama. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, também compareceu ao tributo, e o papa Francisco enviou representante.

Vários grupos se reuniam dançando e cantando nas arquibancadas e nos corredores do Soccer City. O bancário Nathaniel Bafana Ledwaba explicou o significado de um dos cantos entoados horas antes da cerimônia, o Mandela, Meu Presidente. “Esse hino significa que Mandela foi e sempre será o nosso presidente. Ele trouxe paz para nosso país. Ele nos representa”, disse.

A estudante de mestrado em relações internacionais Nokwazi Hlubi avaliou o momento como marcante e único. Segundo ela, apesar da tristeza pela morte de Madiba, apelido pelo qual o ex-presidente sul-africano é conhecido e que remete ao seu clã, há de se comemorar todas as conquistas que ele trouxe para a África e a inspiração para todo o mundo. “Mandela é um ícone. Não haverá outro como ele.”
 
A imprensa de todo o mundo também esteve hoje no memorial a Mandela. Algumas emissoras de TV chegaram durante a madrugada para garantir os melhores lugares. O espaço era disputado e todos tinham a consciência de sua responsabilidade. Luís Simão, da Televisão de Moçambique, contou que cobriu, em 1994, as eleições que levaram Madiba à Presidência da África do Sul e que se sente privilegiado em poder voltar neste momento, apesar da grande perda.

“Mandela foi um grande líder. Não só da África do Sul, do Continente Africano como um todo, mas também do mundo. Nunca vi tantas personalidades em um único evento. Nunca tinha visto o secretário-geral da ONU ir a uma cerimônia fúnebre. Também vieram o presidente Obama, a presidenta brasileira. Isso mostra o reconhecimento do mundo”, disse Simão.

Ban Ki-Moon, Barack Obama e Dilma foram escolhidos para discursar durante a homenagem. Dilma disse que Mandela foi a maior personalidade do século 20. Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos e um dos mais aplaudidos no evento, classificou o líder sul-africano de “gigante da história”. A simpatia com Obama, no entanto, foi inversa à que os sul-africanos presentes no estádio tiveram com o presidente do país, Jacob Zuma, que tem o nome ligado a suspeitas de corrupção e foi vaiado em todos os momentos em que aparecia nos dois telões do Soccer City.

Após mais de quatro horas de cerimônia, o bispo Desmond Tutu, grande amigo de Mandela, encerrou dizendo que após passar quase três décadas na prisão e ter a visão e o pulmão prejudicados com os trabalhos forçados que fez, Madiba deu mais do que o mundo esperava dele. “Em vez de ser consumido em ódio e vingança, ele mostrou que é um dos esteios da paz, da reconciliação, da magnanimidade e do perdão. Justiça e bondade triunfaram”, disse. Mandela dividiu, em 1993, após sair da prisão, o Prêmio Nobel da Paz com De Klerk, o último presidente do apartheid, regime contra o qual Mandela lutava.

A partir de amanhã, durante três dias, o corpo de Mandela será velado no Union Buildings, o Palácio do Governo, em Pretória, com cortejo fúnebre pela cidade a cada início de manhã e, logo após, visitação aberta ao público. No dia 15, ele será sepultado em Qunu, onde nasceu, a quase 1 mil quilômetros da capital executiva.

Agência Brasil

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