Nas últimas décadas o Brasil tem apresentado um aumento da população de adultos e idosos e redução da população jovem, devido a diversos fatores. Com este novo cenário, entra em discussão temas como a aposentadoria e a preparação para esta nova colocação. A partir disto, o professor do Programa de Mestrado em Administração da Imed, Dr. José Carlos Zanelli, que estará coordenando o III Congresso Brasileiro de Orientação para Aposentadoria - CONBOA, no mês de setembro em Florianópolis, fala sobre a temática.
Qual a relevância atual da temática aposentadoria?
Zanelli - Estamos convencidos da relevância de investirmos fortemente em debates, pesquisas e ações face ao desafio de proporcionar vida digna a uma população de sessenta milhões de idosos no Brasil até o ano de 2.050. Assim sendo, o Congresso tratará da transição para a aposentadoria, dos procedimentos dos programas de orientação e das aprendizagens proporcionadas pela prática que vem sendo exercida por profissionais que lidam com o assunto, de modo a tornar acessível aos participantes modos de fazer, ou atividades de intervenção, visando o bem-estar desta parcela significativa da população trabalhadora prestes a se aposentar ou aposentada.
Como as pessoas tem se preparado para a aposentadoria?
Zanelli - A orientação, preparação ou planejamento para aposentadoria é uma tendência que vem sendo acentuada nas organizações de trabalho, no Brasil, a partir da década de 1980. Com freqüência, está alocada e sob a responsabilidade direta da unidade gestora de pessoas. Conhecer os propósitos, as linhas gerais e os procedimentos básicos da orientação para aposentadoria, sobretudo quando a organização tem critérios e ações de responsabilidade social, constitui aprendizagem essencial para os gestores e demais trabalhadores na educação gerencial e executiva. Composta por um conjunto de atividades, trata do processo que tem início na admissão do empregado e culmina com o seu desligamento proporcionado pelo pós-carreira e suas implicações. Visa a proporcionar perspectivas de amadurecimento aos trabalhadores frente às novas etapas da existência e ajudá-los a lidar com as mudanças que poderão ocorrer em suas vidas.
No que concerne aos dirigentes, é fundamental a compreensão de que o esclarecimento sobre a função de responsabilidade social e a necessidade do uso dos meios de comunicação formal e informal para apoio ao programa de orientação, bem como a qualificação dos ocupantes dos níveis decisórios para o aprendizado das implicações do processo de aposentadoria fazem parte das atividades dos orientadores. Quanto aos trabalhadores, no geral, as atividades estão voltadas para minimizar estigmas, educar as novas gerações para o fenômeno do envelhecimento e informar sobre os ganhos da maturidade, sobretudo no que diz respeito ao acúmulo de competências técnicas e humanas, de interesse para as pessoas e para a organização.
Quais as sugestões de preparação para a aposentadoria?
Zanelli - Os procedimentos e técnicas utilizadas em programas de preparação ou orientação para aposentadoria, embora possam ser focados em uma pessoa, em geral, são planejados para serem conduzidos em grupos. Nessa forma, pelo compartilhamento, favorecem as trocas e aprendizagens entre indivíduos. A construção desse tipo de ambiente psicossocial de suporte tem claras vantagens. O apoio recebido e a expressão de dúvidas e sentimentos em um ambiente receptivo favorecem o estabelecimento de relações de confiança, de ajuda e estabelecimento de vínculos entre pares – outros em condições similares.
As atividades desenvolvidas devem estar alinhadas às necessidades e expectativas específicas de pessoas e grupos nas organizações. Os procedimentos gerais são repetidos, no processo que inicia com a divulgação, realização dos encontros e avaliação. Os profissionais ou orientadores recebem, no treinamento ou qualificação, informações de natureza conceitual - cognitiva e emocional – sobre o fenômeno da aposentadoria. Enfatiza-se o programa como uma oportunidade de reflexão e discussão aprofundadas sobre o trabalho, sua contextualização, sobre o indivíduo participante, com foco no futuro da vida pessoal e profissional.
Qual é a idade para começar a se preocupar com a aposentadoria?
Zanelli - A transição para aposentadoria, embora deva fazer parte da educação para o bem-estar na vida desde a infância, é assumida como responsabilidade das organizações, na perspectiva de desenvolvimento contínuo dos trabalhadores. Nessa perspectiva, usualmente a preparação ou orientação tem sido realizada nos anos imediatamente anteriores ao ato de desligamento do trabalho ou final de uma carreira.
Sobre o evento:
O CONBOA visa informar estudantes, profissionais de RH e gestores, bem como aqueles que estão prestes a se aposentar ou que já se aposentaram, sobre os desenvolvimentos recentes dos estudos, pesquisas e práticas que auxiliam pessoas neste momento de transição. Como ocorreu nas edições anteriores serão compartilhadas com profissionais reconhecidos por suas competências, questões recentes da aposentadoria e suas implicações psicológicas, sociais e econômicas.