Há pelo menos uma semana os agricultores estão com o plantio de trigo parado na região. O excesso de umidade é responsável pelo atraso na implantação da cultura que deve ocupar cerca de 85 mil hectares conforme dados da Emater Regional de Passo Fundo, um crescimento de 15% em relação ao ano passado. Historicamente a maior parte do plantio se concentra em meados de junho, no entanto a umidade tem impedido os agricultores de entrar com as máquinas no campo. O resultado é que pouco mais de 10% da área a ser cultivada foi plantada. Em anos anteriores, no mesmo período, esse percentual superava os 40%.
O trigo plantado está germinando e, devido ao tratamento das sementes, nesse momento não há preocupação com a ocorrência de doenças. No entanto, a inquietação dos agricultores se deve ao atraso que pode comprometer a produtividade final. De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater Regional Cláudio Dóro as melhores produtividades são obtidas plantando o trigo nesse período. “O agricultor pode plantar até 10 de julho, pelo zoneamento agroclimático, com cobertura do PróAgro, mas as produtividades diminuem. Outro aspecto é que quanto mais tarde ele colocar o trigo na lavoura mais tarde ele vai tirar e começa a entrar no período bom de plantar soja e atrasa o plantio da safra seguinte”, esclarece.
Pelo zoneamento agroclimático o período recomendado para o plantio do trigo se estende de 20 de maio a 10 de julho, mas historicamente o plantio é mais intenso em meados de junho. “Agora seria o período ideal para plantar trigo, mas em virtude dessa condição climática adversa com excesso de chuva, o plantio está parado há uma semana e o tempo está correndo. Há a preocupação dos agricultores que estão prontos para plantar, com os insumos armazenados, máquinas reguladas, mas a condição impede que eles entrem com os equipamentos na lavoura”, reforça. No momento ainda não se fala em perdas econômicas, mas caso as condições de chuva permaneçam, como há indicativos para a próxima semana, elas poderão ocorrer.
Estoques em alta, preços em baixa
Outro fator que tem tirado o sono dos agricultores é o preço do trigo que está muito baixo para o período. Conforme Dóro, nos meses de entressafra, maio e junho, geralmente o preço do trigo atinge os valores mais altos, o que não ocorreu neste ano. Isso acontece porque os estoques do grão estão em alta no Estado, com cerca de 800 mil toneladas armazenadas. Além disso, os moinhos estão importando produto da Argentina, do Canadá, Paraguai e Uruguai.
A tendência para o futuro também não é muito otimista. “Analisando o mercado futuro, vemos que o Paraná vai aumentar a área em torno de 25% e tem previsão de colher em torno de 3,6 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul aumentará em torno de 9% e vamos chegar a 1,153 milhão de hectares, a Argentina produzirá mais de 4 milhões de hectares e o Paraguai e Uruguai também aumentarão a área. Se tivermos uma safra normal, nem falando em supersafra, com essa ampliação de áreas vamos ter no final do ano uma oferta grande de trigo e consequentemente os preços vão despencar”, analisa. Segundo ele a tendência será o produtor vender trigo pelo preço mínimo e o maior comprador deve ser o governo.
El Niño
Além do comportamento do mercado os agricultores enfrentarão neste ano o fenômeno El Niño. “Ele já começa a dar os primeiros sintomas e se ocorrer meses de setembro e outubro chuvosos poderemos ter problema para produzir com qualidade. O agricultor tem de apostar em alta produtividade e qualidade. Ele terá de ser muito bom gestor e contar com o auxílio do clima”, finaliza.