A entrega do maior prêmio da matemática, a Medalha Fields, ao brasileiro Artur Avila, 35 anos – o primeiro a receber a honraria na América do Sul – mostra aos jovens que é possível chegar ao topo da carreira e incentiva o interesse pela ciência. A avaliação é do presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, Marcelo Viana, ex-professor e colega de Avila, premiado pela União Matemática Internacional (IMU, na sigla em inglês), ontem (12). Uma mulher também recebeu a medalha, pela primeira vez, a matemática Maryam Mirzakhani. O prêmio é comparado ao Nobel e entregue, no máximo, a quatro pesquisadores, a cada quadriênio.
“O talento da matemática está distribuído igualmente no mundo, mas as oportunidades e motivação, não. E, no caso do Artur, a medalha dele diz a todos os jovens brasileiros que é possível fazer pesquisa em ciência no Brasil e alcançar o nível máximo de sua profissão”, declarou Viana, que também é vice-presidente da IMU. Além de Avila e Maryam, também ganharam o prêmio o norte-americano Manjul Bhargava e o australianao Martin Hairer.
O brasileiro Artur Avila começou a se dedicar cedo à matemática, quando terminou o ensino médio junto com o mestrado no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), antes dos 19 anos. Ele se destacou por ter desenvolvido pesquisa em sistemas dinâmicos, de forma colaborativa, e desde 2010, aos 31 anos, já era cotado para o prêmio. “Para a IMU, ele ganhou a medalha pela contribuição a áreas distintas, que revolucionaram a paisagem matemática”, explicou Viana.
Para o diretor do Impa, César Camacho, o prêmio e a participação de pesquisadores no congresso internacional são um reconhecimento ao instituto, criado em 1952 e, atualmente, vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. “Isso dá um destaque especial. É um fato coerente com a excelência do Impa”, ressaltou. Marcelo Viana acrescentou que, apesar de o feito de Avila ser individual, mostra a competência do instituto onde Avila estudou.
O vice-presidente do IMU também destaca a importência da medalha da iraniana Maryam Mirzakhani, para o desenvolvimento da matemática. A professora da Universidade de Stanford, no Estados Unidos, é a primeira mulher a ganhar o prêmio, criado em 1936. Especialistas reconhecem que o limite de até 40 anos para receber a condecoração é mais difícil para as mulheres porque muitas, até essa idade, têm de conciliar os estudos com o desenvolvimento dos filhos.
Em uma entrevista à publicação da Universidade de Oxford, Maryam – reconhecida por resolver problemas de sistemas de geometria e dinâmicos – disse que os alunos não se deixam conquistar por essa ciência. “Acredito que muitos não dão uma chance real à matemática. Por anos, no ensino médio, eu também não estava interessada e, sem entusiasmo, a matemática pode parecer inútil. A beleza só se mostra para os seguidores mais pacientes”, acrescentou.
A próxima Medalha Fields será anunciada no Brasil, no Rio, que sediará o próximo Congresso Internacional de Matemáticos, em 2018. Até lá, mais brasileiros poderão se tornar candidatos naturais. Entre eles, Fernando Codá, 35 anos, natural de Maceió e pesquisador do Impa. “Ainda faltam quatros anos e nesse meio tempo aparecerão jovens brilhantes”, reforçou Viana.