Depois de receber o ministro do Trabalho, Manoel Dias, para uma conversa sobre o que chama de ‘clarificação da legislação trabalhista’, o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, Heitor Müller, almoçou com diretores dos diários filiados à Associação dos Diários do Interior do RS, a ADI-RS. Ele falou sobre o cenário da economia gaúcha, o otimismo e o pessimismo de empresários e executivos, sobre eleições e sobre leis. As leis trabalhistas e as leis tributárias, sobretudo. “Nossa indústria está andando de lado”, disse o presidente. “Diminuiu no Brasil inteiro. Só no primeiro trimestre deste ano, a queda foi de 4,6% no Rio Grande do Sul”. Segundo ele, o fato se deve a uma série de características da economia brasileira. A mais perversa delas, a carga tributária, que encarece tudo o que sai das fábricas nacionais. “Nossos produtos são de 30% a 35% mais caros necessariamente porque tudo que vem de fora, da China, por exemplo, não paga nenhum imposto”, define.
No entanto, Müller não defende qualquer tipo de protecionismo à indústria nacional. “Não se trata de adotar medidas para proteger. É para dar competitividade. Ou se acerta o sistema tributário brasileiro ou vamos continuar indefinidamente nesse nó”, afirma. Para ele, a reforma tributária deve levar em conta aspetos das economias locais, o excesso de impostos e a chance de tornar os produtos nacionais mais baratos para o consumidor. “Com a nova distribuição de renda, mais brasileiros entraram na linha de consumo. Só que a indústria nacional cresce para baixo. O que está havendo, portanto, é que mais brasileiros estão consumindo produtos que vem de fora. Mas esse ciclo pode afundar a produção nacional, vai gerar desemprego e perda de renda”, diz Heitor Müller.
Mais três anos
Heitor Müller foi empossado no dia 18 de julho para mais um mandato à frente da Fiergs e do Centro das Indústrias do Rio Grande do Sul, que reúne associações industriais e sindicatos de todo o estado e integra a Confederação Nacional da Indústria, a CNI. São 115 sindicatos gaúchos associados e 47 mil fábricas que, juntas, são responsáveis pela geração de mais de 680 mil empregos diretos. No cenário nacional, Müller ainda é lembrado como o poderoso executivo da Frangosul, que ainda na década de 70 levou o mercado aviário brasileiro para além das fronteiras do país. Mas se tornou mais do que isso ao levantar, ainda cedo, as bandeiras do associativismo como forma de impulsionar os atividades comuns às empresas.
Hoje, é o homem que comanda a entidade industrial do quarto Estado mais industrializado do país, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. As decisões mais importantes do setor que mais emprega mão de obra qualificada no Brasil tem o aval dele. Para se ter uma ideia, ontem, além da agenda com o ministro Manoel Dias, Müller recebeu ligações de federações industriais no Nordeste a respeito do tema que tratara com o próprio ministro: a legislação do trabalho no Brasil.
“Clarificar não é tirar direitos”, aponta Müller
Heitor Müller defende que haja uma reforma das leis trabalhistas no país há muito tempo. Hoje em dia, a pauta tem sido mais frequente, diz ele. “Não está claro certos aspectos da lei. Por isso falamos em clarificar. Não se quer tirar direitos dos trabalhadores, de modo algum. Mas num país em que ‘pois sim’ quer dizer ‘não’ e ‘pois não’ quer dizer ‘sim’, a Língua Portuguesa empregada na lei deve ser reavaliada”, comenta. “É uma lei muito antiga”. Outro aspecto abordado por Heitor Müller é as novas normas que estão sendo impostas às indústrias. De acordo com ele, elas oneram as empresas sem favorecer a produção.
“Conseguimos convencer o Ministério do Trabalho a não fechar as empresas antes de dar um prazo para que se adequem. Muitas vezes se compra máquinas que fora do país trabalham normalmente, mas, aqui, se pede isso e aquilo, muito mais. Só no ano passado, o Brasil gastou R$ 100 bilhões em adequações por conta de normas técnicas sem que, com isso, se tenha produzido um parafuso sequer”, informa.
Industrialização do interior e a ‘fábrica de sofás’
“As cidades melhor estabelecidas são aquelas que têm indústrias”, lembra Heitor Müller. Para ele, essa é a saída para evitar que cidades pequenas percam seus jovens para as cidades grandes. “É uma preocupação nossa aqui na Fiergs, mas não temos como incidir muito nisso. Há questões de competitividade das empresas que determinam onde vão se instalar”, esclarece. Questões como mão de obra qualificada e logística, por exemplo, influenciam - e favorecem cidades mais próximas de centros como Caxias do Sul e Porto Alegre, por exemplo. “Uma coisa que defendemos é a iniciativa local. Uma cidade que pensa a respeito de si e nota que se compram muitos sofás vindos de fora pode propor uma união de empresários para, por exemplo, montar uma fábrica de sofás”, exemplifica. A ideia surgiu na Europa do pós-guerra, especialmente na Alemanha, quando havia poucos empregos e muitas necessidades. Formou-se, então, o que se convencionou chamar de arranjos locais de produção - que levavam em conta a vocação dos trabalhadores de uma determinada região e a necessidade dos consumidores próximos. “Acontece isso hoje em Caxias do Sul, por exemplo. Próximo às grandes indústrias se instalou uma série de empresas fornecedoras menores que foram crescendo junto com a maior”, resume Müller.
Mais pessimistas sobre o futuro
Sobre as expectativas do setor industrial gaúcho, Heitor Müller diz que, em pesquisa, a Fiergs colhe a opinião de associados e executivos sobre o assunto. E que, hoje, os pessimismo é maior do que o otimismo. “Sobre 2014, não esperamos melhora. Para 2015, vai depender das medidas que o governo possa tomar nessa questão de impostos, taxa de câmbio, inflação”, argumenta. Segundo ele, uma alternativa é valorizar a moeda brasileira em relação ao dólar mesmo que isso custe alguns pontos de inflação. Müller não defende medidas que tragam de volta a inflação, mas sabe que elas ser implementadas.
“Se for controlado, dá para fazer, mas é impopular e arriscado. Inflação corrompe o poder de compra dos salários. Se for alta, o efeito imediato é a retração do consumo e o freio na produção é igualmente ruim. Por outro lado, incentivar a produção é fundamental, mas não nos parâmetros de câmbio que temos hoje, com os consumidores comprando mais o que vem de fora e menos o que se faz aqui”, conclui.
Trajetória
A trajetória empreendedora de Heitor José Müller começa pela avicultura, através do Grupo Frangosul, tendo sido seu sócio fundador na década de 70. Se o Brasil é hoje o maior exportador mundial de frangos e o terceiro produtor isto passa pela avicultura industrial do Rio Grande do Sul. Hoje, atua nos segmentos de engenharia genética avícola e fundição, através das empresas Novagro, Agrogen, e Fundimisa. Durante as atividades empresariais, sempre se dedicou ao associativismo: foi Presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA) e da Associação Gaúcha de Avicultura (ASGAV), e fundou e presidiu o Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Rio Grande do Sul (SIPARGS). Heitor José Müller assumiu a presidência da Federação e do Centro das Indústrias do Rio Grande do Sul - FIERGS / CIERGS - no dia 14 de julho de 2011, para uma gestão de três anos. A entidade, através de 110 Sindicatos setoriais filiados, representa as 47 mil fábricas em atividade no Rio Grande do Sul, que empregam, diretamente, 680 mil pessoas. No Cargo, também administra o Sesi, o Senai e o Instituto Euvaldo Lodi do Rio Grande do Sul. É formado em Ciências Contábeis e Direito. Nasceu no dia 5 de junho de 1940, no município de Montenegro/RS.