Sem destilados, sem diversão

JOVENS X ÁLCOOL - Parte 1 : Beber destilados semanalmente tornou-se um hábito para muitas pessoas que tem entre 15 e 30 anos. Se não tiver vodka, a janta, festa ou encontro entre um grupo de amigos, não tem graça

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Teor alcoólico das bebidas destiladas que estão hoje no mercado é maior do que dos fermentadosTeor alcoólico das bebidas destiladas que estão hoje no mercado é maior do que dos fermentados
Teor alcoólico das bebidas destiladas que estão hoje no mercado é maior do que dos fermentados
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É madrugada de sábado e Taís, (nome fictício), 23 anos, chega ao hospital, carregada pelos amigos. Ela estava em uma festa, se divertindo, porém bebeu mais do que deveria. Ela não é a primeira que chega ao hospital em coma alcoólico durante o final de semana, e, provavelmente, não será a última. A média de atendimentos como este, realizados somente na emergência médica do Hospital da Cidade, com pacientes que tem entre 15 e 30 anos, é de três por final de semana, com incidência maior durante as noites de sexta e sábado. 

Embora tenha extravasado, Taís é acostumada com o consumo. Ela bebe destilados há quase 10 anos. “Desde os meus 14 anos de idade sei o que é uma bebida alcoólica. Já tentei muitas vezes beber cerveja, chopp, essas com cevada, mas não consigo. Bebo mesmo todos os tipos de destilados”, conta. Além de preferir as bebidas mais fortes, a frequência com que bebe, é grande. “Antes bebia pouco. Hoje bebo duas ou três vezes por semana, incluindo os sábados e domingos.”

Taís não é a única que costuma beber com essa frequência. Luiz e Gustavo, ambos de 23 anos, Juliano, 25 anos, e Rafael, 20, (todos com nomes fictícios), estão habituados a beber no mesmo ritmo. “Quando eu vou para alguma festa, e isso acontece bastante, sempre tomo vodka ou uma bebida mais forte. Já nos outros dias da semana, bebo cerveja”, diz. Juliano é o tipo de pessoa que gosta de incomodar os amigos que não estão juntos, quando está sob o efeito do álcool. “Eu fico ligando de madrugada pra falar bobagens, coisas que eu não faria são”, admite. Ele não encontra problema em ingerir bebidas mais fortes, nem em grande frequência, e acredita que futuramente não será prejudicado por este hábito.

Sem preocupação
O que todos os entrevistados responderam quando questionados a respeito dos problemas de saúde que podem ter no futuro, é que até pensam sobre o assunto, mas que preferem deixar a preocupação para a posteridade. Luiz, por exemplo, se diz consciente em relação aos danos que pode estar causando a saúde, mas se considera jovem para preocupar-se. “Sempre coloco na cabeça que sou novo e só penso sobre o mal da bebida quando estou de ressaca, tipo na segunda-feira. Daí eu falo que vou parar de beber, essas coisas”, menciona, mas admite que na primeira oportunidade, esquece o que disse e volta a beber.
O mesmo acontece com Gustavo. “Até sei das consequências, mas na hora da festa eu não penso nelas. Só quero curtir”, comenta. Ele começou a tomar destilados com 17 anos, tarde, se comparado aos demais. Contudo, aderiu a experiência como hábito para as festas e finais de semana. O mais jovem, Rafael, comenta em tom de brincadeira, estar ciente sobre o futuro. “Sei que posso ter um grande problema. Se eu não casar, certo que vou ser alcoólatra.” O assunto é tratado como brincadeira pelos entrevistados. Isso acontece porque, segundo eles, o costume de beber destilados lhes traz sensação de alegria e bem estar. “Enquanto eu estiver me sentindo bem, vou continuar bebendo. Vou deixar para me preocupar com isso no futuro e não agora”, afirma Taís.

Histórias pra contar

Se a preocupação é pouca, as histórias são muitas, e o que deveria envergonhar, torna-se motivo para o riso. Gustavo, por exemplo, já dormiu de joelhos escorado no vazo sanitário da casa dele. Ao invés de esconder o episódio, já que ninguém viu, compartilha com os amigos e com quem mais queira saber. Da mesma forma que ele, os outros contam sobre o que já fizeram depois de beber uma grande quantia de destilados. “No inverno do ano passado me joguei na água gelada da piscina de um clube com todas as minhas coisas no bolso, só pra pegar uma moeda de um real. Sei que curou na hora o trago”, diz Rafael, rindo.

Taís já repetiu a mesma situação sob os efeitos do álcool. “Aconteceu umas três vezes. Eu tava tão alcoolizada que depois de uma noitada de festa, esqueci de ir ao banheiro e não deu tempo de entrar em casa. Fiz na sacada mesmo. Óbvio que se estivesse lúcida, não faria”, narra. Em contraponto, Luiz nega ter feito algo que não fizesse normalmente, mas solta uma gargalhada em seguida, que lhe desmente.

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