Falando das pilchas, desta feita vamos falar do lenço do gaúcho, este que muito evoluiu, desde quando os Índios Yarós, Minuanos e Charruas usavam uma tira de couro de pequenos animais ou cipós para prender os cabelos. Logo depois da fundação das Missões pelos padres Jesuítas, começaram usar tecidos e confeccionar suas próprias roupas. Do resto das roupas sobravam tiras, que começaram a utilizar para prender suas melenas com a finalidade de afastar os cabelos da região dos olhos, para que não atrapalhassem nas caçadas, disputas e batalhas. Com evolução dos tempos iniciou-se o modismo de cortar os cabelos, por isso não havia mais a necessidade de usar a faixa nos cabelos. Dai por diante, a colonização europeia trouxe consigo roupas mais requintadas como botas, ceroulas, gravatas e casacos. O lenço de pescoço pode ter surgido na evolução do lenço, (gravata usada pelos europeus), ou ainda, por não ter mais utilidade na cabeça e desceu para o pescoço, ainda com as pontas para trás.
Sua maior afirmação sobreveio quando foi adotado politicamente como designativo de cor partidária até mesmo o modo de atá-lo ao pescoço, surgindo assim verdadeiro lenço do gaúcho atado ao pescoço ou solto ao peito. Dai por diante, como um meio de identificação do gaúcho seus companheiros e inimigos passaram a ser reconhecido a distância pela cor dos lenços.
Ainda hoje as cores mais usadas são branco e vermelho, porém não a mais conotação política. O lenço representou uma parcela importante na história dos usos e costumes do gaúcho, pois na época existia as distinções de cores e nós. O vermelho era identificado com os revolucionários farroupilhas (maragatos) e posteriormente com o Partido Federalista (1893). A cor verde era dos partidários do Império (pica-paus), mais tarde o general Flores da Cunha, ao fundar o Partido Republicano Liberal, adotou o lenço branco (chimango). O preto representa o luto. Todos os lenços devem ser lisos, com exceção do carijó (xadrez miúdo).
São muitas as formas de atar o lenço. O nó quadrado é o mais comum, e foi consagrado com o presidente Getúlio Vargas, por isso recebe também o nome de nó getulista. Alguns sugerem sentidos diferentes, como o nó do namoro, que, quando separado, indica que o peão está solteiro. O nó cruz utiliza-se em cerimônias religiosas. Além destes, muitos foram sendo criados e com muitas variações, contudo para alguns o lenço deixou de ter significado, porém a sua história nunca será perdida.
LENÇO BRANCO
Nascido de alma caudilha
- nem por isso menos franca -
Deus te deu essa cor branca
que até de noite rebrilha.
Lua do herói na coxilha,
por de eu for, onde eu ande
e sem que ninguém me mande
eu te canto, troféu mudo
que é puro neste Rio Grande!
Do pica-pau ao chimango
vai um pedaço de glória
e engarupo na memória
com um guascaço de mango
recuerdos de algum chatango
que no passado ficou.
Se eu sou assim como sou,
entonado e orgulhoso,
devo a ti, lenço glorioso,
que eu herdei do meu avô.
Das lágrimas de uma china
quando seu índio partia,
de uma lua que alumia
debruçada na campina,
de uma sanga cristalina
que murmurava merencórea,
do clarão de uma vitória
deste povo leal e franco
nasceste, meu lenço branco,
para bandeira de glória!
Teu gosto é andar voejando
entre guerreiros e lanças
e acalentar esperanças
entropilhadas em bando.
O futuro está chamando,
já cumpriste o teu ideal
porque o Rio Grande imortal
fez de ti o seu retrato:
oposto do maragato,
puro, atrevido e bagual!
(Autor: Antônio Augusto Fagundes).