Dor de cabeça, azia, dor no estômago. Não importa o sintoma, todo brasileiro que se preza tem sua farmácia particular em casa, não é mesmo? O que poucas pessoas levam em consideração são os riscos que a automedicação pode causar, como úlceras e até mesmo o câncer de estômago, por exemplo. Um levantamento feito em 12 capitais brasileiras pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade mostrou que 76,4% dos brasileiros se automedicam, ou seja, decidem por conta própria que remédios devem tomar naquele momento. De acordo com a Sociedade Brasileira de Clínica Médica, o Brasil é o país campeão em automedicação.
Segundo o médico gastroenterologista Antônio Carlos Weston, um dos maiores problemas relacionados à automedicação é o risco de maquiar algum problema, além de abusar da dose do remédio, causando uma doença mais grave. “O maior perigo da automedicação é no aparelho digestivo com o uso de medicações que possam lesionar a mucosa do estômago. Por exemplo, alguns anti-inflamatórios podem provocar sangramento digestivo, em especial naquelas pessoas que já são portadoras de problemas como úlceras ou gastrite”, ressalta o especialista.
Nem sempre esses problemas são tratados da maneira mais adequada, pois muitas vezes o paciente se automedica e acaba por disfarçar uma doença mais séria, como um câncer de estômago. Por isso, é fundamental tratar qualquer problema gástrico com a devida importância. Para 2014, segundo o INCA, estimam-se 20.390 novos casos de câncer gástrico (12.870 em homens e 7.520 em mulheres).
No Brasil, existe uma regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para a venda e propaganda de medicamentos que podem ser adquiridos sem prescrição médica, porém não há orientação específica para quem os utilizam. Adquirir um medicamento sem prescrição não significa que a pessoa deva usar um remédio por indicação própria, na dose que acha melhor ou em horários mais convenientes. “O uso de Buscopan em excesso, por exemplo, pode levar à intoxicação medicamentosa ou mascarar doenças graves como apendicite aguda ou crises de vesícula que necessitam de intervenção cirúrgica e, retardando esse procedimento, poderá piorar o prognóstico”, alerta Weston.
A prática da automedicação é tradicional no Brasil, porém, esse hábito deve ser combatido e, para isso, os profissionais da área de saúde devem orientar os pacientes e os seus familiares no sentido de evitar os abusos dos medicamentos, além do estímulo à fiscalização apropriada, sempre visando o bem-estar do paciente e o desenvolvimento de um tratamento correto e humanizado.