Fungos na região deixa produtores em alerta

Permanência da soja guaxa no campo durante o inverno serviu de ponte para esporos do fungo causador da ferrugem da soja resistirem até este início desta safra

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Permanência dos esporos do fungo causador da ferrugem da soja pode antecipar a ocorrência da doença nas lavouras comerciaisPermanência dos esporos do fungo causador da ferrugem da soja pode antecipar a ocorrência da doença nas lavouras comerciais
Permanência dos esporos do fungo causador da ferrugem da soja pode antecipar a ocorrência da doença nas lavouras comerciais
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A identificação de ocorrência de ferrugem na soja guaxa que resistiu ao inverno deixa os produtores em estado de alerta. Os esporos do fungo que causa a doença utilizaram as plantas, que não foram mortas em função da menor intensidade do frio, como pontes para permanecerem no campo até este início da nova safra. Conforme dados da Emater Regional de Passo Fundo até o momento cerca de 35% da área a ser cultivada com soja já foi plantada. Os agricultores devem estar atentos uma vez que as condições climáticas são favoráveis ao desenvolvimento da doença que é beneficiada ainda pela permanência dos esporos no campo.

O professor da Faculdade de Agronomia da UPF Dr. Carlos Forcelini explica que em anos normais a ocorrência da ferrugem é esperada para a primeira quinzena de janeiro. No entanto, nesta safra isso deve ocorrer antes, provavelmente ainda em 2014. O motivo é, novamente, o inverno com temperaturas altas e muitas chuvas que favoreceu a permanência da soja guaxa no campo que serviu de ponte para o fungo sobreviver até voltarem as estações mais quentes. Essas plantas normalmente são mortas pela geada, o que não ocorreu este ano.  
Normalmente, os esporos da ferrugem que chegam à região se desenvolvem nas regiões produtoras que iniciam o plantio mais precocemente como a região central do Brasil e países como Paraguai e Bolívia. Eles são transportados pelos ventos até alcançarem as lavouras do sul. “Neste ano, além da ferrugem que vem de outras regiões, também teremos uma fonte local por conta dessa soja que permaneceu no campo. Provavelmente o maior impacto que isso poderá causar será a ocorrência mais precoce de doença neste verão, possivelmente ao contrário de ser encontrada em janeiro, tem grande probabilidade de ser encontrada já em dezembro nas lavouras comerciais. Essa é a principal mudança e o principal alerta”, enfatiza.

Como proceder
Uma das formas de controlar a doença é utilizar cultivares que sejam resistentes ou tolerantes. No entanto há poucos desses materiais disponíveis no Brasil e a maior parte da soja cultivada é suscetível à doença. “Uma das estratégias é semear a soja um pouco mais cedo para que quando ocorrer a ferrugem seja em uma fase mais avançada do ciclo. Outra alternativa é tentar plantar no limpo eliminando a soja guaxa antes da semeadura. Uma terceira opção é a aplicação de fungicidas que são extremamente necessários para controlar doenças”, resume o professor.

Com relação aos fungicidas, os produtores devem estar atentos à redução de eficácia apresentada por produtos utilizados tradicionalmente em função da resistência dos fungos a esses agroquímicos.  Isso exige dos agricultores uma escolha criteriosa dos fungicidas que serão utilizados, dando preferência a produtos que integram um novo grupo químico de defensivos: as carboxamidas.

Para quem for utilizar os produtos convencionais a orientação é a de se fazer um reforço na aplicação. Isso significa incluir mais um produto no tanque de pulverização, os chamados multi-sítios.  Forcelini destaca que os multi-sítios são produtos antigos que estavam sendo mais usados em culturas de frutas e hortaliças no Brasil e agora estão sendo introduzidos nas lavouras de soja.  “Eles são adicionados aos produtos tradicionais na tentativa de conter o processo da resistência. Eles são úteis porque praticamente não há risco de o fungo criar resistência a eles”, justifica.

Outro cuidado que os produtores de soja terão de ter será com a possibilidade de aplicação de fungicidas antecipadamente, provavelmente ainda em 2014. É preciso ainda estar atento aos intervalos de aplicação que não devem ser superiores a 15 dias para produtos convencionais, enquanto pode chegar a 18 com o uso de novos produtos.

Difícil detecção
A ferrugem da soja é uma doença considerada de difícil detecção quando está no início. Geralmente ela é identificada quando já incide em aproximadamente 5% das folhas. “É uma doença explosiva. Quando as condições são favoráveis ela é muito rápida e, às vezes, esperar é perigoso. Por outro lado, aplicar fungicidas sem critério pode ser inadequado”, pondera. De acordo com ele, os produtores devem estar atentos às informações sobre ocorrência da doença em lavouras comerciais para saber que o fungo está presente. Este é um bom sinalizador do momento de aplicação. “Como técnico e preocupado com a situação da lavoura e com base nos experimentos que fazemos na Universidade desde 2007, temos observado que há muita vantagem quando se faz uma primeira aplicação antes do fechamento completo das entrelinhas da soja. Essa aplicação consegue chegar até a parte inferior das plantas que é onde, geralmente, o problema começa. O limite para a primeira aplicação seria no pré-fechamento das ruas”, orienta. Esse momento depende da cultivar utilizada, da época de semeadura e do espaçamento entre linhas.

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