A cadeia produtiva do leite é muito dinâmica e os valores envolvidos estão sujeitos a alterações frequentes em função de mais de uma variável. Neste cenário, interpretar quais dessas variáveis influenciam de forma mais acentuada na oscilação do valor da produção (produção multiplicada pelo valor pago por litro) é uma das formas de melhorar os lucros e garantir o sucesso das propriedades. Preocupados com essa situação, os acadêmicos do curso de Ciências Econômicas Júnior Candaten e Lidiani Nunes, orientados pelo professor Julcemar Zilli, da Universidade de Passo Fundo (UPF), desenvolveram um estudo sobre os “Efeitos das Alterações no Preço e Produtividade da Produção de Leite no Rio Grande do Sul”. O trabalho foi apresentado no X Colóquio Ibérico de Estudos Rurais, realizado na Espanha no mês de outubro.
O estudo utilizou dados gerais do Rio Grande do Sul e dos 10 municípios com maior produção leiteira, no período de 2002 a 2012. Candaten explica que o trabalho buscou identificar qual das variáveis: preço, produtividade ou rebanho impactavam no valor da produção. “No Estado se verifica que o valor da produção é bastante influenciado pelo preço do leite, depois pela produtividade e menos pelo rebanho”, inicia. O aumento do rebanho no RS no período analisado foi de 19,52% enquanto o valor da produção aumentou 142,70%, o da produtividade 32,22% e o preço em 90,97%.
Municípios
A pesquisa analisou ainda dados dos municípios gaúchos de Augusto Pestana, Casca, Estrela, Ijuí, Ibirubá, Marau, Palmeira das Missões, Sananduva, Santo Cristo e Três de Maio, os 10 principais produtores de leite no Estado. Os resultados demonstraram que nenhum dos municípios analisados teve redução no valor de produção. Três de Maio registrou a maior redução de rebanho, -25%; Marau teve o maior aumento de produtividade, 68,38%, maior aumento de rebanho, 23,59% e maior aumento do valor da produção, 155,46%; Ibirubá teve a maior alta no preço, 114,82%.
Motivos
O professor Zilli explica que embora não fosse o objetivo do trabalho analisar os motivos das variações, ele destaca que sabe-se que houve entre 2002 e 2012 uma redução significativa do número de animais. “Na época o valor do leite não era interessante e muitos acabaram saindo da atividade e venderam animais, então até repor isso demora um tempo que acabou sendo suficiente para os preços reagirem e aumentarem o que aumentou o interesse das pessoas em produzir”, complementa. Além disso, o aumento do poder de compra da população refletiu positivamente no consumo do leite e derivados.
Produtividade=Lucratividade
Para Zilli o estudo demonstra cientificamente a importância da atenção à produtividade para ampliar os lucros, principalmente das pequenas propriedades. Na região, há a predominância deste tipo de propriedade onde a produção de grãos não é viável. “A partir dessa constatação, entramos num outro problema. Se você tiver uma área pequena não adianta querer ter um monte de animais. O próprio espaço acaba limitando. Nessa situação, de quem não tem como aumentar o rebanho, tem de aumentar a renda por meio do aumento da produtividade”, reforça destacando que para isso os agricultores precisam investir mais em animais com maior potencial produtivo, melhoria nos sistemas de alimentação, ordenha e armazenagem.
O acadêmico Candaten conta ainda que na cooperativa na qual entrega o leite da propriedade, a Cooperlate, de Serafina Corrêa, instigou a escolha do tema e consequentemente da análise. “Inicialmente não havia incentivos consistentes à produtividade de abrangência da cooperativa. No entanto por meio de cursos de produção e gestão da propriedade, visando capacitar o pecuarista a tomada de decisões e gerenciar a atividade pecuária, como uma empresa, consistiu num objetivo cooperativo”. Segundo ele, a busca na qualificação dos jovens pecuaristas, pela Cooperlate, era incentivada pelos pais, mesmo, esses, tendo algumas resistências em relação as mudanças na atividade em casa. As propriedades tornam-se, a cada dia, mais produtivas e sadias, contribuindo para o aumento da rentabilidade na atividade.
Mercado
Conforme o professor há ainda uma expectativa de que a produção de leite volte a crescer no Brasil tendo em vista um possível crescimento da economia. Além disso, quem migrou da produção leiteira para a soja devido ao elevado preço do grão deve retornar para a atividade tendo em vista a diminuição dos preços da soja. “Apesar de exportarmos mais leite em pó cada vez mais nosso produto ganha mercado e vai ser produzido bastante para exportação”, amplia.
Participação na pesquisa
O professor Zilli destaca ainda que a participação dos estudantes em pesquisas é um fator importante porque faz com que desenvolvam a capacidade de ver o mundo de forma mais ampla. “Ele começa a conhecer e entender o mercado e a comprovar coisas que temos como hipóteses. Isso diferencia. E a UPF tem esse perfil da inserção dos alunos na pesquisa. E eles se desenvolvem cada vez mais a formação deles”, conclui.