Ainda na juventude Herilda Balduíno já se inquietava com o tratamento diferenciado recebido por homens e mulheres e decidiu que lutaria para mudar essa realidade. Nascida em Patos de Minas, em 1931, formou-se em direito, em 1959. Na área do direito de família, buscou modificar a forma com as mulheres eram vistas dentro da relação familiar.
Herilda é uma das seis mulheres com atuação destacada na vida pública nacional que receberam hoje (16) o Prêmio Rose Marie Muraro – Mulheres Feministas Históricas, da Secretaria de Políticas para as Mulheres.
“Desde pequena, fui muito rebelde e achava muito esquisito a mulher dentro de casa sendo mandada, lavando, passando, cozinhando. Quando fui estudar no ginásio, o curso era misto e vi que queria ter direitos iguais aos dos meninos. Nessa fase eu já era politizada e vi que isso teria que mudar a partir de uma mudança jurídico-política”, relata.
Ao longo de 25 anos de advocacia, Herilda Balduíno também trabalhou em prol dos perseguidos e presos políticos durante o período da ditadura militar. Foi também advogada da Comissão Pastoral da Terra e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
“A partir da metade do século 20, as mulheres pegaram à unha o direito de fazer sua história. E fizemos, e conquistamos, e ganhamos e hoje temos essa realidade”, avalia Herilda.
O prêmio entregue hoje reconhece a contribuição efetiva das mulheres idosas para a construção de um país com igualdade de gênero e busca recuperar, registrar e reconhecer as brasileiras que influenciaram na construção da cidadania feminina e na ampliação dos direitos humanos das mulheres.
A militante política Clara Charf também foi premiada. Integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ela foi companheiro de Carlos Marighella – morto em 1969 pela ditadura – e viveu na clandestinidade em vários momentos durante o regime militar. Em 2003, Clara fundou a Associação Mulheres pela Paz.
“Fico pensando o quanto a gente avançou daquela época para agora – tem muita gente que não sabe o quanto se lutou no Brasil para chegar aonde chegamos hoje e ter uma mulher na Presidência da República. Tem mulheres no campo, na cidade, em todo lugar, lutando para transformar a vida da família e do país”, disse Clara na cerimônia de entrega do prêmio.
Reconhecida por sua contribuição para a luta feminista e pela especialização em educação popular, Moema Viezzer, de 76 anos, também foi premiada. Moema engajou-se na causa das mulheres, foi exilada durante a ditadura militar e criou a Rede Mulher de Educação, em São Paulo. “Esse prêmio é uma forma de trazer à tona toda uma carga histórica que tem o movimento [feminista]. Cada uma teve uma forma de contribuir e de atuar em prol da equidade entre homens e mulheres”, disse ela. “Fiz um trabalho de educação popular feminista. Trabalhávamos sobretudo com as populações mais pobres.”
As demais premiadas foram Lenira Maria de Carvalho, Mireya Soárez e Neuma Aguiar.
O nome do prêmio homenageia a escritora feminista Rose Marie Muraro, declarada patrona do feminismo nacional em 2005. A ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, destacou a importância de Rose Mare, falecida neste ano, e parabenizou as premiadas. “A história de Rose fez, e fará muito, por nós. E cada uma de vocês tem uma história de contribuição para a sociedade”, afirmou.